Vestas reduz produção no Ceará e demite funcionários em meio à crise do setor eólico

A companhia afirma que a produção está ajustada à dinâmica do mercado e à demanda dos clientes

Escrito por
Paloma Vargas paloma.vargas@svm.com.br
Imagem mostra a fachada da empresa Vestas em Aquiraz, Ceará.
Legenda: Empresa tinha pouca movimentação na última quinta-feira.
Foto: Ismael Soares

A Vestas, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo, realizou 41 demissões em sua planta em Aquiraz nessa sexta-feira (10). As informações foram confirmadas pelo Sindicato dos Metalúrgicos do Ceará (Sindmetal-CE).

A companhia não se pronunciou sobre os desligamentos e afirmou que a produção está ajustada à dinâmica do mercado e à demanda dos clientes (leia a nota completa ao final da matéria).

O movimento ocorre em meio à crise do setor eólico no Ceará, evidenciada pelos desafios enfrentados pela Aeris, fabricante brasileira de pás eólicas sediada no estado, que demitiu cerca de 5 mil trabalhadores entre 2024 e 2025.

Especialistas apontam que esta é a pior crise do setor desde os anos 2000.

Atualmente, os principais problemas são a falta de infraestrutura de transmissão, além das mudanças regulatórias impostas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que reduziram o ressarcimento por cortes de produção.

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Para o presidente do Sindmetal-CE, Francisco Silveira, as demissões da Vestas "ainda são reflexo da entrada da indústria chinesa Sinoma Blade no mercado brasileiro.

"Isso afetou a Aeris e agora a Vestas, que são empresas do mesmo segmento", avalia. 

Silveira também expressa indignação com o processo de crise nas indústrias relacionadas à energia eólica no estado. "Como sempre, essas movimentações terminam no colo do trabalhador. Isso é um absurdo", afirma.

Empresa afirma haver apenas ajustes na produção 

Questionada sobre a possível paralisação das operações por falta de demanda, conforme relatos, a empresa afirmou que não houve interrupção no trabalho.

"O que sempre fazemos são ajustes em nossa produção, alinhados à dinâmica do mercado e à demanda dos clientes", respondeu a empresa em nota.

Imagem mostra interior de uma fábrica com estruturas metálicas e pilhas de produtos.
Legenda: No ano passado, a Vestas anunciou um investimento de R$ 130 milhões no Ceará.
Foto: Ismael Soares

"Seguimos confiantes no potencial do setor de energia eólica brasileiro e reafirmamos nosso compromisso de longo prazo com o país — onde continuamos investindo em pessoas, infraestrutura e parcerias que fortalecem a transição energética", finalizou.  

A reportagem procurou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE) para verificar se acompanha o caso da empresa, mas a assessoria da pasta informou que não possui informações sobre uma crise na Vestas.

Operação foi inaugurada recentemente no Rio Grande do Norte

Na contramão da crise, no início de setembro, a Vestas anunciou a instalação de uma nova sede administrativa em Parnamirim, na região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte.

O local fará o controle de mais de 3,2 mil turbinas que operam em 60 parques distribuídos por todo o Brasil, do Piauí ao Rio Grande do Sul.

Na época, a Vestas celebrava 12 gigawatts de potência instalada em operação no País, produzidos por seus aerogeradores.

Entenda o que está por trás desta crise 

Bernardo Viana, diretor de regulação do Sindicato das Indústrias de Energia e Serviços do Setor Elétrico do Estado do Ceará (Sindienergia-CE), afirma que não apenas a Vestas, mas outras empresas também estão enfrentando dificuldades para se manter no mercado.

“Infelizmente, o setor de energia eólica vive a maior crise de sua história”, destaca.

Ele exemplifica seu diagnóstico lembrando que, nos últimos três anos, pelo menos dois grandes grupos internacionais saíram do Brasil: General Electric (GE) e Siemens Gamesa. Assim, a Vestas seria a última empresa a ser afetada recentemente.

“O fato é que o setor aguardava a expansão da energia eólica offshore (parques eólicos no mar), assim como os investimentos em hidrogênio verde, que deveriam despontar na segunda metade desta década e, aparentemente, não sairão do papel até 2030”, avalia.

Por conta de tudo isso, “muitos fabricantes estão hibernando suas fábricas e a Vestas certamente é um desses casos”, afirma. Viana acrescenta ainda que o grande movimento de demissões da Aeris está totalmente ligado à Vestas, já que “a Vestas era a maior cliente da Aeris”.

“Uma produzia as pás para os aerogeradores da outra. Portanto, se não havia demanda por pás, é porque já havia queda nos pedidos da fabricante de aerogeradores. Um é reflexo do outro”, comenta.

Lei nota completa da Vestas

"A Vestas não interrompeu suas operações em Aquiraz. O que sempre fazemos são ajustes em nossa produção, alinhados à dinâmica do mercado e à demanda dos clientes.
Seguimos confiantes no potencial do setor de energia eólica brasileiro e reafirmamos nosso compromisso de longo prazo com o País — onde continuamos investindo em pessoas, infraestrutura e parcerias que fortalecem a transição energética." 

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