Venda de artigos eróticos cresce até 75% no Ceará durante a pandemia

Empresárias avaliam que o período de lockdown contribuiu para a busca pelo autoconhecimento e por outras formas de prazer. Com isso, demanda por esse tipo de produto disparou

Escrito por Ingrid Coelho , ingrid.coelho@svm.com.br
SexShop
Legenda: Letícia Andrade, proprietária de um sex shop em Fortaleza, comemora alta nas vendas
Foto: Thiago Gadelha

Em 2018, a jornalista C.S., 29 anos, adquiriu o seu primeiro brinquedo sexual: um vibrador chamado Gspot (ou Ponto G). O interesse surgiu a partir da observação de alguns produtos revendidos por uma colega de trabalho e, desde então, ela consome esses produtos. Com a mudança de rotina em decorrência do isolamento imposto pela pandemia do coronavírus, sobrou mais tempo para olhar para si e buscar o autoconhecimento.

O processo de autoconhecimento foi viabilizado por lives e vídeos gravados por páginas especializadas no assunto durante o isolamento social rígido. “Sigo dois perfis de lojas/pessoas que vendem produtos. Um deles começou a fazer várias lives e gravar vídeos no lockdown e passei a assistir, me interessar, ficar curiosa e interagir”, diz.

C. S. integra uma parcela de cearenses que passaram a pesquisar mais sobre brinquedos e artigos eróticos em geral. E a consumir mais. No segundo semestre do ano passado, adquiriu um novo vibrador e um gel à base de água. “E tem sido uma experiência muito boa. Como passamos muito tempo em casa, é uma forma de criar uma nova rotina a dois e sozinha. Claro que antes de usar com ele (namorado), experimentei as funções em casa, sozinha! E isso também faz parte das descobertas”, detalha.

Foto Sex Shop
Foto: Thiago Gadelha

Lojas veem faturamento disparar

Como resultado disso, as lojas especializadas elevaram em até 75% o faturamento no período. Na avaliação de Germana Freitas, proprietária de um sex shop na Aldeota, a busca pelo autoconhecimento durante o isolamento social foi justamente o que contribuiu para esse movimento. “Acreditamos que, como a pandemia trouxe o isolamento, houve a necessidade de delinear atividades satisfatórias, bem como experimentar novas formas de descobrir prazer. Percebemos que a busca do autoconhecimento também contribuiu”.

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“Nós sentimos esse crescimento a partir da segunda quinzena do mês de maio. O auge foi nos meses de junho e julho. Podemos avaliar que em todo esse período de pandemia houve um aumento de cerca de 75% nas vendas, comparado ao ano anterior, 2019”, revela Germana Freitas.

Legenda: Junho e julho foram meses de pico para o segmento
Foto: Divulgação

Itens eróticos mais buscados

Os vibradores são os itens mais buscados. “Principalmente aqueles que possuem aplicativos para controle a distância, assim como próteses realísticas”, diz.

“As pessoas estão redescobrindo o prazer no conforto de suas casas, já que a compra pode ser feita a distância com exclusividade e discrição, e o produto é entregue em domicílio”, pontua Germana.

Apesar dos resultados positivos, Germana lamenta que as expectativas não são tão promissoras para os próximos meses. “Nossas expectativas, avaliando esse mês de janeiro, estão reduzidas, pois já sentimos uma queda no faturamento. Toda essa instabilidade na economia está deixando as pessoas retraídas, sem poder de compra”, pondera.

Surpresa positiva

Em outra loja, também na Aldeota, as vendas avançaram 30% na pandemia ante igual período de 2019. Uma grata surpresa para a proprietária, Vanessa Pessoa. Com a chegada do coronavírus, veio também o receio de a empresa não aguentar o baque da interrupção das atividades presenciais.

“Quando começou a pandemia, a gente se aperreou e se perguntou como seria. Nós já trabalhamos com e-commerce há mais de 10 anos, mas confesso que o nosso e-commerce era mais como uma vitrine da loja do que um meio de vendas. Não focávamos muito na venda pelo site, Instagram ou WhatsApp. Com a pandemia, tivemos que focar nisso”, diz Vanessa.

Legenda: Vendas de artigos sexuais dispara em meio à pandemia
Foto: Divulgação

Com tíquete entre R$ 150 e R$ 200, os acessórios vibratórios são carro-chefe da loja, de acordo com Vanessa. Considerando especialmente esses produtos, as vendas cresceram 50%. “Na pandemia, todo mundo queria. Os solteiros queriam, os casados queriam. E sem dúvidas, o crescimento maior foi na parte de acessórios vibratórios. Na parte de géis, nem tanto. Mas em relação aos vibradores, o crescimento foi considerável”, explica.

Com a demanda maior, os planos de abrir uma terceira loja (a marca conta com uma unidade em Fortaleza e uma em Recife, em Pernambuco), que ficariam pausados por um tempo, estão em plena execução. A nova unidade deve ser inaugurada este ano. “A localização é segredo. Em breve nós iremos divulgar”, comemora a empresária.

Proprietária de uma loja de artigos eróticos na Aldeota, a empresária Letícia Andrade também se surpreendeu com a demanda no período e avalia que o interesse das pessoas por artigos eróticos cresceu, entre solteiros e casados. "Muita gente solteira e casais procuraram como ocupar a mente", detalha.

"Todos os produtos estão sendo muito procurados, mas os queridinhos das clientes são o bullet vibratório, o vibrador Ponto G, lubrificante que gela e a calcinha tailandesa", explica. "Temos também o óleo comestível que esquenta e esfria e o anel peniano vibratório".

A loja também trabalha com lingerie e linha outwear e, conforme Letícia, assim como observado nos artigos de sex shop, as vendas de lingerie cresceram durante o período de isolamento. "Assim como o sex shop, nossas vendas de lingerie só vêm crescendo. Tanto na parte de sex shop como na de lingeries, o mercado só vem crescendo. Isso ajuda bastante no faturamento da nossa empresa", diz.

Dificuldade no fornecimento

Diante da demanda em alta e da paralisação da indústria em todo o mundo por causa do avanço do coronavírus, uma das dificuldades encontradas pelo setor foi o fornecimento dos artigos, em sua maioria importados da China. 

“No começo da pandemia foi tranquilo, eu fiz bons pedidos e deu para segurar. Nós sofremos mesmo em setembro. Como vendemos bem na pandemia, a mercadoria estava se esgotando e não estávamos conseguindo repor. Ainda não está 100% normalizado, estamos esperando reposição para fevereiro, mas sem previsão confirmada”, explica Vanessa.

Germana também diz que enfrentou dificuldades para manter o estoque abastecido, não só pela paralisação das indústrias, mas também pelos problemas no transporte. “Tivemos dificuldades para adquirir os produtos junto aos fornecedores. Tanto pela falta de produtos, pois a maioria das fábricas parou a produção, por um período, como pelos embaraços no transporte, os prazos para entrega da mercadoria aumentaram”, lamenta.

Assim como as empresárias Germana e Vanessa, Letícia também pontua que a forte demanda combinada à paralisação das indústrias e dos transportes dificultou a manutenção dos estoques durante os meses de isolamento. "Com a alta demanda na nossa área de sex shop, tivemos dificuldades de adquirir com os nossos fornecedores, mas a nossa expectativa para os próximos meses é que consigamos atender à demanda dos nossos clientes e que venhamos a trazer cada vez mais novidades", explica.

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