Quilo do pão carioquinha a R$ 20: vale a pena trocar pelo cuscuz para economizar?
O valor do quilo do pão francês deve subir com altas do trigo por conta da guerra na Ucrânia
A guerra entre Rússia e Ucrânia vem causando repercussões na economia brasileira e a expectativa é que o custo do quilo do pão ‘carioquinha' chegue a R$ 20 nas próximas semanas, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria (Sindipan-CE). O aumento deve pesar no bolso do consumidor que já vem sofrendo com as altas de outros insumos.
Uma possibilidade para quem quer economizar é substituir o pão francês pelo tradicional cuscuz cearense. A economia pode, inclusive, chegar a 20%, já que o quilo da farinha de milho nos supermercados da Capital custa, em média, cerca de R$ 4, conforme a pesquisa Proconomizar do Procon Fortaleza realizada em fevereiro.
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Além disso, com o valor que sobra (R$ 16), é possível comprar os complementos do cuscuz, como o ovo e a margarina. Segundo a pesquisa, uma bandeja de 20 unidades de ovos custa, em média, R$ 10,20 e a margarina de 500 ml está por R$ 8, em média.
O economista Alex Araújo explica que, neste momento, a substituição faz sentido. "Ano passado já tivemos isso após a alta da carne bovina, essa substituição já é uma estratégia que o consumidor está acostumado a fazer. Além do cuscuz, a tapioca também é uma boa substituição tanto pela questão calórica quanto pelos valores”.
A pesquisa do Procon Fortaleza mostra que o quilo da goma de tapioca, sugerida pelo economista como outra forma de economizar, é encontrado nos supermercados cearenses por cerca de, em média, R$ 6.
Benefício no curto prazo
Contudo, o conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará, Ricardo Coimbra, acrescenta que a guerra também deve afetar o preço do milho, já que tanto a Rússia quanto a Ucrânia são grandes produtores dessa commodity.
“Porém, o preço do milho não sobe na mesma magnitude do trigo, mas também sobe no mercado internacional, então é provável que essa substituição não seja tão eficiente a longo prazo. Tem que ficar observando como vai ser o repasse para o milho”.
Além disso, Coimbra aponta que há uma projeção de diminuição do ritmo de produção de grãos no Brasil por conta da elevação do preço do fertilizante que também vem desses países. “No curto prazo, talvez você consiga ter uma substituição eficaz, mas no médio prazo talvez tenha esse comprometimento”.
Por que o trigo está em alta?
Araújo explica que esse movimento de alta de preço do trigo vem acontecendo desde os últimos anos em decorrência da pandemia e, posteriormente, pelo aumento da demanda com a retomada da economia mundial.
“Agora, a produção da commodity sofre com o conflito na Europa, especialmente porque a Rússia e a Ucrânia são dois importantes fornecedores para o Brasil. No comércio internacional não é simples substituir um fornecedor”.
O conselheiro do Corecon, por sua vez, pondera que o preço dos combustíveis também afeta por causa da logística. Neste mês, a Petrobras anunciou reajuste de 18,8% para a gasolina e de 24,9% para o diesel.
“Com a elevação do diesel, os produtores acabam tendo que repassar isso para o custo do frete e, consequentemente, para a produção”, detalha.
Expectativa para as próximas semanas
Dessa forma, a expectativa para as próximas semanas, independentemente da situação da guerra, é que a pressão nos preços continue, pois o abastecimento não será recomposto rapidamente. Conforme Araújo, no médio e longo prazo é preciso esperar o desenrolar da guerra para saber como ficará a situação.
“Esses países são importantes produtores de outros insumos da agricultura, então pode gerar impactos ainda maiores em outros alimentos. Quanto antes termine, é o ideal. O que temos visto nos últimos dois anos é que se espera ainda uma pressão em cima dos preços no geral não só no Brasil como no mundo todo”, afirma.
Coimbra complementa que já é possível observar uma estabilização dos preços, porém ainda em patamares elevados, o que deve se manter nas próximas semanas.
Por isso, mesmo que a guerra acaba agora, a repercussão ainda deve ser sentida em alguns meses. “O consumidor precisa se preparar e pensar em estratégias como essa de substituição e não deve se prender a apenas um produto”, conclui Araújo.