Produtos que passaram por reduflação se consolidaram? Entenda fenômeno
Oferta de produtos menores com os mesmos preços se intensificou nos últimos anos
Se deparar com produtos rendendo menos, mas com o mesmo preço visto em quantidades maiores, se tornou uma realidade comum para os consumidores nos últimos anos. O fenômeno, chamado de reduflação, se intensificou na pandemia e, segundo especialistas, deve se manter.
A reduflação consiste na diminuição das gramaturas e volumes de produtos com a manutenção dos preços. Entre os principais exemplos, estão barras de chocolate e biscoitos. Há também mudanças na composição dos itens, como a comercialização de compostos lácteos, em alternativa ao leite, e mistura láctea no lugar do requeijão.
O movimento de mercado é comum em grandes choques econômicos e redução brusca de poder de consumo, segundo o consultor de empresas e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque. Na opinião dele, apesar de uma possível melhora econômica, o fenômeno veio para ficar.
“É um movimento que veio para ficar, porque as indústrias perceberam que podem criar alternativas de marcas ou submarcas. As médias e grandes indústrias vão ter o produto líder em qualidade e imagem, de primeira linha, mas também vão ter apresentação em menor tamanho ou menor qualidade”, aponta.
Dessa forma, os produtos 'originais', com as mesmas características que apresentavam antes da reduflação, chegaram às prateleiras com o rótulo de 'premium' e 'tamanho família'.
Um exemplo apontado pelo consultor são dois tipos de uma mesma marca de biscoito, com mais e menos chocolate.
Christian explica que a manutenção dos preços é uma forma de manter os clientes fidelizados. Os consumidores podem se apegar a essa justificativa para continuar consumindo, mesmo que percebam diferenças quantitativas e qualitativas.
Mudanças podem gerar desconfiança
Para evitar que os consumidores sejam enganados, a diminuição do volume dos produtos deve ser comunicada nos rótulos. A aposentada Adelina Carioca, de 59 anos, no entanto, aponta que os alertas de mudança não estão claros o suficiente.
Ela costuma ir ao supermercado três vezes por semana e alega que os preços estão longe do ideal. “Ainda vejo que muitas pessoas então com dificuldade de compra produtos. A inflação precisa ter uma baixa de forma significativa”, espera.
Adelina relata que, além de perceber os tamanhos alterados, desconfia de mudanças nas fórmulas dos produtos. “Tenho receio quanto aos rótulos e não tenho confiança no que se propaga. Os avisos precisam melhorar”, aponta.
A desconfiança com as marcas é umas das principais consequências da reduflação, segundo explica Cláudia Buhamra Romero, professora da Universidade Federal do Ceara e doutora em Administração de Empresas. Ela aponta que a prática não é uma tendência mercadológica do ponto de vista estratégico, buscando conquistar clientes, e sim uma manobra financeira.
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“Quando o consumidor é enganado. Quando ele vê um pacote de 8 rolos de papel higiênico a um preço x, sem se dar conta de que o rolo não é mais de 30 metros, mas de 20 metros, aí existe uma pitada de má-fé”, explica.
A especialista pondera que o retorno dos produtos ao tamanho 'normal' é incerto, já que o cenário ainda é de insegurança inflacionária e controle de gastos. Cláudia aponta que é injusto para os consumidores precisar readaptar seus hábitos de consumo em virtude das mudanças não tão explícitas pelas marcas.
A questão não é se organizar com produtos menores, e sim se organizar com preços compatíveis com aqueles produtos. A opção de pagar mais ou menos por produtos maiores ou menores deve ser do consumidor, desde que ele esteja consciente do que ele está fazendo, e não sendo levado a um erro.
Como evitar cair em armadilhas?
Para se prevenir de armadilhas no momento da compra, os consumidores devem fazer uma leitura atenta aos rótulos. As empresas são obrigadas a comunicar a alteração quantitativa nas embalagens por pelo menos seis meses após a mudança, conforme a Portaria 392 do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
As mudanças devem estar descritas em letras maiúsculas, negrito e em um tamanho de fácil visualização, segundo o coordenador jurídico do Procon Fortaleza, Airton Melo. Devem ser informadas as quantidades de produto anterior e posterior à alteração e qual a quantia diminuída ou aumentada.
Airton afirma que não há denúncias recentes sobre infrações às normas. Em junho de 2022, o Procon notificou supermercados e fabricantes para que obedecessem as regras de sinalização da redução do volume de alimentos.
“Partindo do pressuposto que o Procon não tem registro de denúncia, entendemos que está sim havendo um cumprimento da recomendação que foi encaminhada pelo Procon”, aponta o coordenador.
Caso encontrem irregularidades, os clientes podem denunciar na Central de Atendimento ao Consumidor, pelo número 151. O Decon, Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor, também recebe denúncias pelo 0800-275.8001.