De 200g a 80g: por que a barra de chocolate encolheu ao longo do tempo

O doce é um dos itens que sofre com a reduflação antes mesmo de o nome para o fenômeno ser conhecido

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: A redução do peso dos produtos ocorre para evitar o repasse nos preços
Foto: Kid Júnior

A barra de chocolate costumava ser um produto compartilhado e, às vezes, até sobrava um pouco para depois. Hoje, quem busca o item no supermercado encontra embalagens com uma porção que é praticamente para consumo individual.  

Veja também

Em propaganda de 1989 de arquivo do Diário do Nordeste, a barra de chocolate de 200 gramas era anunciada a 4,90 cruzados. Corrigida pela inflação de lá pra cá, o mesmo produto custaria R$ 15,13, um valor que parece até caro comparando os preços praticados nos supermercados hoje. Mas, não é o mesmo produto. 

Legenda: Propaganda de barra de chocolate em edição de setembro de 1989 do Diário do Nordeste
Foto: Arquivo

O termo “reduflação” pode ser novo, mas a barra de chocolate já passava pelo fenômeno bem antes de ele ganhar um nome. Dos anos 90 para cá as barras de chocolates caíram de 200g para 180g, depois para 150g, 125g, 100g, 90g, e hoje algumas marcas comercializam o produto em porções de até 80 gramas.  

Legenda: Em volta pelos supermercados, o Diário do Nordeste encontrou reduflação na barra de chocolate
Foto: Diário do Nordeste

A redução do peso ou volume de embalagens é uma estratégia utilizada por fabricantes para evitar aumentar o preço dos produtos em períodos de inflação e, assim, manter o consumo de alguma forma. Os itens “supérfluos” são os mais acometidos pelo fenômeno, como é o caso da barra de chocolate.

Esta é a terceira de uma série de reportagens sobre o fenômeno da reduflação e como ela vem se assentando no mercado e moldando os hábitos de consumo do brasileiro.

Elasticidade de preços 

O conselheiro do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE) Fran Bezerra explica que a redução de embalagens ocorre em produtos que têm uma elasticidade de preço mais elevada. 

São produtos que, quando há uma variação de preço, a quantidade que as pessoas compram muda com uma variação maior. Se o preço sobe 10%, o consumo cai 20%”
Fran Bezerra
Conselheiro do Corecon-CE

Ele destaca que essa é uma estratégia que não é utilizada somente no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, o nome dado a esse fenômeno é shrinkflation.  

“É uma prática um pouco antiética porque tenta burlar a boa-fé do consumidor, que provavelmente deixaria de consumir com o aumento do preço às vezes não se apercebe”, opina. 

O economista aponta que as matérias-primas do chocolate tiveram altas consideráveis na pandemia. Produzido sobretudo no exterior, o preço do cacau foi afetado por problemas de logística global. Outro insumo importante para a produção do chocolate, o leite, também teve variações de preço importantes devido à baixa produção nacional. 

Para Fran, há um limite para a reduflação no chocolate. Ao mesmo tempo que as barras convencionais reduzem, são criadas opções “tamanho família”, uma estratégia de marketing para incentivar o consumo. 

Tendências de mercado 

A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) se refere à redução das embalagens como uma forma de seguir “tendências de mercado” e possibilitar que os consumidores possam consumir “de acordo com suas possibilidades”.  

“Além disso, o setor está em constante aprimoramento para manter a qualidade de seus produtos e atender às demandas, disponibilizando-os em diversos tamanhos e porções, a fim de oferecer soluções dos mais diversos preços, adaptando gramatura, recheio e embalagem. Isso tudo para garantir que o consumidor tenha a oportunidade de consumir produtos de acordo com a sua possibilidade no momento”, destaca em nota. 

O informe divulgado pela associação também incentiva o “consumo consciente, compartilhado e em pequenas porções” do chocolate. 

O que dizem as marcas? 

Nestlé 

A Nestlé® esclarece que a adoção de novos formatos e tamanhos dos produtos, tem como objetivo acompanhar as tendências de mercado, garantir a adequação a inovações tecnológicas, a fim de manter a competitividade entre as marcas. As alterações estão em conformidade com a legislação vigente, respeitando os princípios do Código de Defesa do Consumidor, e seguem comunicadas de forma clara no painel frontal da embalagem, com o alerta de novo peso e a especificação da quantidade reduzida, para que o consumidor possa identificar facilmente a mudança. 

Arcor 

Referente às alterações de peso na linha de barras de chocolate, a Arcor esclarece que as mudanças fazem parte das práticas comuns do mercado para evitar o aumento de preços ao consumidor final, devido ao impacto referente aos custos dos insumos. Sendo assim, prezando e respeitando seus consumidores, a Arcor disponibiliza todas as informações de forma transparente em suas embalagens, seguindo os critérios estabelecidos pela legislação vigente e os prazos ali descritos. 

Mondelez (Lacta)

A Mondelez International possui um portfólio diversificado, com foco em entregar o snack certo para a hora certa. Dentro deste cenário, Lacta conta com um portfólio amplo para atender diversas ocasiões de consumo: para compartilhar com a família (165g), para degustar e presentear alguém especial (80g) e uma versão unitária para alegrar o dia (34g). Em outubro deste ano, o tamanho deste último cresceu de 20g para 34g, a fim de oferecer uma experiência ainda melhor para o consumidor. A companhia reforça que faz parte da estratégia estar sempre em busca de inovar os produtos com o objetivo de construir um portfólio com produtos de qualidade em diferentes formatos, tamanhos e preços, para atender às necessidades do consumidor em diversas ocasiões.

Demais empresas 

O Diário do Nordeste também entrou em contato com a assessoria de imprensa da Hersheys, mas não teve retorno até o fechamento da reportagem. 

Na próxima sexta-feira (28), a última reportagem da série mostrará produtos com o movimento inverso da reduflação. 

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados