No Ceará, chuvas mal distribuídas preocupam agropecuaristas

Tem chovido acima da média no Litoral e nas chapadas do Apodi e da Ibiapaba. Mas no Sertão Central, Inhamuns e sertões de Crateús a pluviometria é raquítica

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:19)
Legenda: As chuvas deste ano estão acima da média no Litoral e nas chapadas do Apodi e Ibiapaba, mas abaixo da média no Sertão Central
Foto: VcRepórter

Estamos em março, que, tradicionalmente, é um mês de boas e fortes chuvas. Nos últimos dias, a pluviosidade foi excelente em algumas regiões do Ceará – como o seu Litoral, foi boa noutras – como a Chapada da Ibiapaba e o Maciço de Baturité, e raquítica em áreas como o Sertão Central, os Inhamuns e o Cariri.

Aqui na Região Metropolitana de Fortaleza, as precipitações serviram para recarregar os açudes que abastecem seus municípios – Pacoti, Pacajus, Aracoiaba, Acarape do Meio, Riachão, Gavião, Sítios Novos e Maranguapinho, o que tranquiliza a população, o governo e os empresários industriais.

Mas a situação é de preocupação entre o empresariado do agro, uma vez que os grandes reservatórios do estado – Orós, Castanhão e Banabuiú – estão com apenas 20% de sua capacidade de acumulação.

A culpa é da má distribuição espacial das chuvas. Onde elas deveriam estar caindo – sobre as nascentes dos rios Jaguaribe, Banabuiú e Salgado – a pluviometria é franciscana, e isto é ruim porque, à medida que o tempo passa e as grandes precipitações não se registram onde deveriam registrar-se, a perspectiva de uma estiagem prolongada começa a habitar a mente de quem produz e trabalha no campo.

“Ainda é cedo para o desenho de um cenário literalmente sem nuvens. Pelo contrário: as indicações da ciência dão conta de que teremos no Ceará, neste 2025, uma estação chuvosa na média ou acima da média, como insiste em dizer o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária, Amílcar Silveira, com base nas previsões de famosos especialistas no estudo do clima, que em novembro do ano passado anteciparam esse prognóstico. Em janeiro, a Funceme confirmou o mesmo cenário: chuvas na média ou acima da média.

Na Chapada do Apodi, por exemplo, “não temos do que reclamar, pois o índice de chuvas é bom”, como diz Raimundo Delfino, dono da fazenda Nova Agro, que anunciou uma boa novidade: está plantando neste ano 2 mil hectares de algodão, aproveitando “as benções do céu”.  

Em parte do Sertão Central, já um cenário, até agora, de euforia e frustração. No município de Quixeramobim, o agropecuarista Airton Carneiro lamenta que as chuvas “têm caído como neblina, frustrando as expectativas de quem plantou apostando numa boa pluviometria que ainda não aconteceu”.

A pouco mais de meia centena de quilômetros ao Norte dali, em Ibaretama, também no Sertão Central, o pecuarista e industrial José Antunes Mota, que preside, há dois mandatos, o Sindicato da Indústria de Lacticínios do Ceará, abre um largo sorriso de felicidade, ao informar que na sua fazenda Cambi já choveu, neste ano, 490 milímetros, volume suficiente para encher seus açudes e garantir, pelo resto deste 2025, a produção leiteira do seu rebanho de vacas e cabras e de sua variedade de lácteos, incluindo queijos e requeijões.

Nos Inhamuns, nos sertões de Crateús, na própria região do Cariri, onde nesta época do ano costumam registrar-se boas chuvas, o clima preocupa, mas os próprios agropecuaristas são os primeiros a apostar:

“Pelo que a gente vê, pelos sinais que o céu nos dá, a impressão que temos hoje é de que as chuvas se tornarão espacialmente bem distribuídas ao longo deste mês de março e pelo próximo mês de abril. O Castanhão, o Orós e o Banabuiú vão pegar boa quantidade de água para garantir o abastecimento humano e animal e, ainda, as atividades econômicas, principalmente na Região do Jaguaribe, em cujos municípios se desenvolvem grandes projetos de fruticultura, carcinicultura, sojicultura, cotonicultura, apicultura e pecuária”, como faz questão de expor o secretário do Agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE) do governo do Estado, Sílvio Carlos Ribeiro.

A propósito: o titular da SDE, Domingos Filho, está empenhado junto ao governador Elmano de Freitas no sentido de acelerar o projeto de recuperação das estradas, principalmente as vicinais, pelas quais é transportada, diariamente, a produção agrícola, pecuária e industrial da Chapada do Apodi. Aquela área, para quem ainda não sabe, é um importante polo cimenteiro, cujos empresários também reclamam das precárias condições das rodovias.

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