Número de imóveis financiados mais que triplica no Ceará, e mercado vive 'boom'

Foram financiadas 3.848 unidades no Estado de janeiro a março. Com estoques perto do fim, mercado prevê "apagão de imóveis" daqui a um ano

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Foto: Reinaldo Jorge

O mercado imobiliário segue de vento em popa. Os financiamentos realizados com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) mais que triplicaram nos três primeiros meses do ano no Ceará frente igual período de 2020. 

De janeiro a março deste ano, 3.848 imóveis foram adquiridos nessa modalidade, 248% a mais que as 1.105 unidades financiadas no primeiro trimestre de 2020. Só no mês passado, foram 1.537 financiamentos.  

O volume de crédito imobiliário chegou a R$ 769 milhões no período, um avanço de 187% comparado a igual período do ano anterior (R$ 256,3 milhões). Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

O crescimento exponencial superou a média brasileira, cujo crédito imobiliário avançou 112,8% no primeiro trimestre. Em março, foi registrada a marca de R$ 18,35 bilhões, maior volume nominal mensal registrado na série histórica iniciada em 1994.  

Segundo Cristiane Portella, presidente da Abecip, o valor já superou a previsão realizada pela associação para 2021. O crescimento previsto era de 27%, mas com os novos dados, o acumulado do ano deve ficar em torno de 34%, com valores atingindo R$ 167 bilhões financiados no ano.  

“É um número extremamente positivo para o mercado brasileiro, mas ainda aquém com relação ao cenário internacional. Quando olhamos especificamente para o Ceará, esse número quase triplicou, foi ainda melhor que a média do Brasil”, aponta.

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Tendência nos próximos meses 

O presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Estado do Ceará (Creci-CE), Tibério Benevides, prevê que as vendas se mantenham crescentes nos próximos meses, tanto em 2021 quanto em 2022.

“Acreditamos que, neste ano, teremos pelo menos 18% a mais do valor financiado do ano passado, mas esperamos chegar a 22%, pois recursos da SBPE tem”, afirma.  

Mas a elevada procura aliada a uma redução de estoques e a poucos lançamentos pode levar a um apagão de imóveis no Ceará em cerca de um ano e meio,  prevê presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias de Sousa.

Ele lembra que entre os anos de 2014 e 2015 foram marcados por vários lançamentos de empreendimentos das construtoras, o que não aconteceu nos últimos anos. Segundo Benevides, o estoque de imóveis dos últimos quatro anos já foi reduzido a quase 10%. 

“Os clientes começaram a ver que se não comprassem imóveis agora, poderiam ficar sem adquirir os que escolheram, pois as unidades estão acabando. As construtoras estão voltando a lançar agora, mas demora pelo menos quatro anos até entrega. Por isso, acredito que, do segundo semestre de 2022 em diante, teremos uma falta de estoque”.  
Patriolino Dias de Sousa
presidente do Sinduscon-CE

Preço pode aumentar? 

Diante dessa perspectiva de aumento na demanda, os preços de novos empreendimentos podem aumentar, embora estejam mais favoráveis aos consumidores neste momento. Para o presidente do Sinduscon-CE, a alta nos custos de insumos da construção civil, como o aço e o tijolo, deve ser compensado ao consumidor final.  

Essa projeção é reiterada por Benevides, embora, na avaliação dele, o problema não será a grande procura. “Os lançamentos que sairão vão vir com preços atualizados justamente por conta do aumento no preço de matérias-primas, então deve ter um pequeno aumento, que no final será diluído aos poucos".  

Menores taxas de juros  

A tendência de crescimento das vendas de imóveis que vem sendo observada desde 2019 tem sido impulsionada, principalmente, pelo baixo patamar da taxa Selic, explica Sousa. 

“A Selic está em 2,75% ao ano, além disso, pessoas que aplicavam na renda fixa partiram para investir no mercado imobiliário ou para adquirir os imóveis próprios, pois compensava mais. Com a pandemia, as pessoas ficaram em casa em isolamento social o que fez muita gente investir. Isso causou a redução dos estoques”, detalha.

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A presidente da Abecip ressalta que, com a queda da taxa de juros, houve uma redução significativa do valor das prestações. Em um financiamento de 30 anos, por exemplo, o valor das parcelas chegou a reduzir 40%. “Isso coloca mais pessoas em condições de adquirir seu próprio imóvel ou de trocar por um melhor”.  

Benevides, presidente do Creci-CE, reforça que o cenário é favorável para quem deseja financiar. "Com a queda no preço das parcelas, está valendo muito a pena investir neste momento. Imóvel sempre foi e será um bom negócio a médio e longo prazo. Você deixa de pagar um aluguel e paga o que é seu”, aponta. 

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