Financiamento de imóveis no Ceará bate recorde em dezembro

Foram mais de R$ 413,8 milhões em financiamentos de 1.317 unidades no Ceará no mês passado, o melhor resultado para um único mês no Estado. No ano, volume de financiamentos disparou 48%, e mercado prevê alta de 20% em 2021

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
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Legenda: Segundo especialistas, ano deve ser marcado pelos novos lançamentos no Estado
Foto: Gustavo Pellizzon

O mercado imobiliário cearense deu um salto sem precedentes no ano passado. Somente em dezembro de 2020, 1.317 imóveis no Estado foram financiados, totalizando R$ 413,8 milhões em operações de crédito imobiliário com recursos da Poupança, segundo balanço da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). O resultado superou o mês de junho de 2014 (R$ 360,9 milhões) e é o novo recorde mensal do Ceará.

Em comparação a dezembro de 2019, quando foram financiados 956 imóveis e R$ 193 milhões, houve um crescimento de 37,7% no número de unidades negociadas e de 114% em valores. O resultado fez o Estado encerrar o ano com 7.571 unidades financiadas, superando a marca de R$ 2 bilhões em volume de recursos das poupanças, dados que surpreenderam positivamente o mercado.

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O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias de Sousa, explica que os cortes na taxa básica de juros, a Selic, e as consequentes reduções dos juros imobiliários e da rentabilidade de investimentos na renda fixa foram os principais fatores que impulsionaram as vendas. 

“Foi um conjunto de coisas. A Selic a 2%, a debandada das pessoas da renda fixa, que está pagando taxas negativas, o medo da volatilidade da bolsa de valores e também os cinco meses que as pessoas ficaram em casa em isolamento social por conta da pandemia. Tudo isso fez os clientes adquirirem o estoque”, explica o presidente do Sinduscon-CE.

Com as vendas de grande parte dos estoques, atualmente o mercado cearense dispõe de apenas 4,5 mil unidades, segundo Sousa.

Alta contínua

Ele ainda acredita que a alta das vendas acaba gerando mais demanda. “Porque os estoques estão acabando, as unidades que as pessoas estão à procura estão saindo das tabelas das construtoras, e os clientes acabam correndo para comprar. Como não houve praticamente lançamentos no primeiro semestre de 2020 e poucos no segundo semestre, é possível até que daqui a um ano e meio falte unidades, já que demora cerca de quatro anos entre o lançamento e a entrega do empreendimento”, avalia.

O incremento que deve haver neste ano em lançamentos também pode ser um fator impulsionador das vendas. Sousa detalha que, quando o imóvel está em estoque, pronto, é necessário pagar de 20% a 30% de entrada à vista, o que pode dificultar a operação. “Nem todo mundo consegue comprar de estoque. Comprando na planta, é possível parcelar a entrada durante a obra, a prestação fica menor”.

Apesar da perspectiva de demanda alta, os preços das unidades estão subindo pela procura. O presidente do Sinduscon-CE lembra que alguns estavam bem abaixo da média do mercado e agora estão “voltando à realidade”.

Novo incremento

O presidente do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis do Estado do Ceará (Creci-CE), Tibério Benevides, endossa a perspectiva de continuidade do crescimento das vendas de imóveis no Estado neste ano, que segue a tendência observada em todo o País.

Ele lembra que 2020 iniciou-se com bons números, que caíram no início da pandemia, mas que foram recuperados no segundo semestre, fazendo o ano encerrar de forma bastante positiva, até mesmo para a venda de imóveis de segunda moradia. 

“O ano de 2020 superou 2019, e esperamos que 2021 supere 2020 em 20%, tanto em VGV (Valor Geral de Vendas) como em unidades. E é porque em 2020 tivemos uma pandemia, houve momentos difíceis, dias de lockdown, em que quase ninguém podia resolver nada ou sair de casa, praticamente”, afirma.

Benevides ressalta ainda que, na contramão da maioria dos setores econômicos, que foram bastante afetados pela pandemia, a construção civil reagiu de forma diferente e conseguiu avançar. 

“Teve um aquecimento expressivo e é fácil entender esse comportamento quando a gente percebe que as pessoas passaram a dar mais valor à moradia quando tiveram que ficar em casa. Todos nós percebemos que é possível viver melhor e com qualidade”, detalha o titular do Creci-CE.

Benevides ainda destaca que, por requerer um alto volume de mão de obra e gerar um número significativo de empregos diretos, além do impacto em diversas outras cadeias que abastecem o segmento, o bom desempenho da atividade é essencial para a recuperação econômica do País, que deverá ser beneficiada com o crescimento do mercado imobiliário observado nos últimos meses.

Taxa de juros

Assim como Sousa, o presidente do Creci-CE indica a baixa da Selic como um catalisador direto das vendas e financiamentos imobiliários. “Outro fator que também influencia em nosso crescimento é a nossa política econômica de financiamento com juros bastante reduzidos, algo nunca antes visto com a menor taxa histórica de juros, em 2%”, diz.

Em 2020, diversas instituições financeiras reduziram as taxas de juros imobiliários, acompanhando as reduções da Selic. Entre elas, a Caixa Econômica, detentora da maior carteira de crédito imobiliário do País, anunciou, em outubro, redução em até 0,5 ponto percentual dos juros do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que passaram a variar entre Taxa Referencial (TR) mais 6,25% ao ano e TR mais 8% ao ano, a depender do perfil do cliente.

Além da Caixa, Banco do Brasil, Itaú e Bradesco também fizeram cortes nas taxas, aumentando a competitividade do mercado. Nos três casos, a redução das taxas ocorreu em agosto, antes mesmo da Caixa. Em geral, os cortes são de 0,25 p.p. e valem para pessoas físicas e jurídicas.

Sobre os lançamentos, Benevides indica que haverá um número significativo deles ao longo do ano, com boas localizações e preços dentro do previsto para imóveis das mais diversas categorias. “Nós temos muitas ofertas em Eusébio e cidades vizinhas, principalmente em loteamentos”, conclui.

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