Fechamento do Carrefour da Bezerra de Menezes surpreende lojistas: 'Não tenho para onde ir'
Diversos permissionários mantêm no local a única unidade dos negócios
O encerramento das atividades do Carrefour na unidade da avenida Bezerra de Menezes, no bairro Farias Brito, deve impactar ainda os lojistas que têm estabelecimentos no hipermercado. A notícia do fim das operações do local foi recebida com “surpresa” por permissionários de lojas no equipamento ouvidos pelo Diário do Nordeste.
A unidade do hipermercado conta com dois pavimentos, sendo o primeiro, no térreo, voltado para o estacionamento, mas que também conta com estabelecimentos comerciais em menor quantidade, como quiosques de lanches, lavanderia, locadora de veículos, chaveiro, lava-jato e oficina mecânica, além de um ponto de táxi.
Na parte superior, onde fica o hipermercado, há um maior número de lojas de comércio e serviços, de segmentos como papelaria, vestuário, calçados, perfumaria, saúde, beleza e bem-estar, além de uma praça de alimentação, com restaurantes.
Os estabelecimentos são organizados junto à área das caixas, na entrada do Carrefour. Na galeria de lojas estão ainda marcas como Cacau Show e O Boticário.
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Ao todo, a estimativa é de que atualmente 25 lojas funcionem nas dependências do Carrefour do Farias Brito. Com o fim das operações no local, todos os estabelecimentos comerciais e as atividades de serviços também estão comprometidas.
Embora confirme apenas a conversão do Carrefour da avenida Godofredo Maciel, na Maraponga, em Atacadão, o grupo francês administrador do estabelecimento deve acabar com a bandeira de hipermercado no Ceará. A loja Fátima também será convertida em Atacadão, enquanto a da Washington Soares terá como nova marca a do clube de compras Sam's Club.
A unidade da Bezerra de Menezes será a única que não será convertida, com encerramento definitivo, preocupação dos lojistas do local. Até o momento, eles afirmam que os representantes do Carrefour não entraram em contato com os permissionários do espaço, aumentando a apreensão.
“NÃO SEI SE VOU CONSEGUIR BOTAR OUTRA LOJA”
O funcionamento da unidade no cruzamento das avenidas José Jatahy com Bezerra de Menezes remonta a dezembro de 2000. Naquele ano, foi inaugurado o então Hiper Bompreço. Anos depois, com a venda da rede pernambucana para conglomerados empresariais do exterior, a loja modificou o layout, sem grandes mudanças para os permissionários. Até dezembro de 2022.
Já sob o nome BIG Bompreço, a maior transformação aconteceu com a chegada do hipermercado Carrefour, que viu o número de lojas em Fortaleza aumentar de duas para cinco, convertendo três das quatro lojas do antigo BIG.
“Quando fechou a loja do Carrefour na Aldeota, meu marido já me falava: 'vamos sair daqui, já, já fecha'. E não é que vai fechar?”.
A fala é de Luciana Silveira, proprietária de uma loja de acessórios e vestuário feminino na unidade da Bezerra de Menezes desde a abertura do equipamento. Ela explica que o fechamento do hipermercado no endereço surpreendeu os lojistas.
“Pegou a gente de surpresa e, na verdade, eles não passaram para nós nada oficial, nem escrito, nem nada. Só sabemos pelo boca-a-boca de todo mundo e eles ligaram para alguns lojistas dizendo que eles iam fechar realmente e iam resolver a particularidade de cada um em relação a cada contrato”, expõe.
Atualmente, Luciana mantém no Carrefour a sua única loja, que vinha lentamente se recuperando de dificuldades financeiras causadas pela pandemia e, com o fim das operações na Bezerra de Menezes, ela admite não saber o que fazer. Uma das formas encontradas para aumentar o lucro nos últimos dias da loja foi uma liquidação de queima de estoque, com descontos de até 70% em diversas peças.
“Vim do Benfica, tinha três lojas, fechei bem no início da pandemia, aí fiquei só com essa do Carrefour. Essa daqui, na pandemia, até que vendi bem porque é supermercado, e minha loja era a única aberta. Mesmo assim, de lá para cá, vem caindo a venda e eu não estou conseguindo ter recurso. Não sei se vou conseguir botar outra loja porque tenho que abraçar meu público, que é todo nessa região e não sei se eu vou conseguir um lugar”.
“NÃO TENHO PARA ONDE IR”
Outra permissionária que está no Carrefour e revela preocupação com o futuro próximo é Myuriell Silveira, dona de uma loja de roupas infanto-juvenis desde 2013, que traduz a preocupação com o fim do hipermercado no local, principalmente para quem tem estabelecimentos apenas na galeria de lojas.
Como só tenho essa loja, é desesperador. Não tenho para onde ir no momento, por isso a gente está liquidando a loja toda porque não tem expectativa de outra loja. Outros lojistas vão distribuir estoque, mas a gente não tem outras lojas que possa passar mercadorias e funcionários.
Assim como Luciana Silveira e demais lojistas da unidade, Myuriell informa que, até o momento, o Carrefour não os comunicou oficialmente sobre o encerramento das atividades na Bezerra de Menezes, e o que se sabe são de contatos preliminares junto a representantes do hipermercado.
“Eles disseram que a loja, a princípio, ia ficar funcionando até o dia 30 de janeiro e que iam passar as informações oficiais mesmo a partir do dia 30 de dezembro para dizer oficialmente quando a gente ia fechar. A gente tem um mês até o dia 30 de janeiro para entregar as lojas, e que aí eles iam conversar em relação à indenização”, salienta.
A empresária completa falando sobre os próximos passos dos permissionários: “A gente está querendo entrar com ação coletiva. Para todos vai ser um prejuízo muito grande. Tem lojas que estão há 23 anos e que só tem aqui”.
O QUE SE SABE ATÉ O MOMENTO?
Com a confirmação apenas da conversão da unidade da Maraponga em Atacadão, o Carrefour não respondeu sobre o fechamento das lojas, tampouco prazos de conversão das unidades, nem mesmo que bandeiras os demais equipamentos da marca terão.
Fontes ouvidas pelo Diário do Nordeste indicam que as unidades dos quatro hipermercados do grupo francês serão fechadas em 31 de janeiro. Fátima e Maraponga passarão a ser Atacadão, e Washington Soares será convertida em Sam's Club. Não há prazo para inauguração dos estabelecimentos com as novas bandeiras. Após 23 anos, o equipamento na avenida Bezerra de Menezes será fechado em definitivo.
A reportagem procurou novamente o Carrefour para tratar especificamente acerca da situação dos lojistas da galeria na unidade do Farias Brito, bem como demais proprietários de estabelecimentos nas outras três lojas do hipermercado em Fortaleza. O grupo declarou, através da assessoria de imprensa, que “não tem atualizações sobre o tema”.
Os grupos Cacau Show e O Boticário também foram demandados acerca da situação dos estabelecimentos na Bezerra de Menezes. A empresa de perfumaria informa que não irá se manifestar sobre o assunto.
Já a rede de chocolates, também por meio da assessoria de imprensa, destaca que “duas lojas irão funcionar como ponto extra, e estamos na busca de pontos. Uma não será fechada, pois é galeria fora da loja. Porém, estamos em busca de ponto extra para não impactar o negócio da nossa rede franqueada”.
A Cacau Show também ressalta que está em contato com o Carrefour para alinhar os próximos passos, e o fim das operações da loja da rede na Bezerra de Menezes está marcado para 30 de janeiro.