Expo Favela: 9 negócios da periferia do Ceará que estão no alvo dos investidores nacionais

Empreendedores cearenses marcaram presença no evento, que contou com startups periféricas de todo o país

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Foto: Reprodução

Levar a favela para o asfalto: esse foi o objetivo da Expo Favelas, evento que reuniu empreendedores da periferia de todo o país e foi encerrado no último domingo (17), em São Paulo. Ao todo, 9 empresas cearenses estiveram presentes. 

De 22 mil inscritos, 300 empresas de todo o país foram escolhidas para expor seus negócios em busca de investimentos e parcerias no evento. Dentre elas, 10 foram selecionadas para participar do reality show “Expo Favela – O Desafio”, que será exibido pela TV Globo. 

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Uma das empresas selecionadas para participar do programa foi a cearense Avia, um aplicativo de delivery do Cariri. Estiveram presentes também negócios apoiados pela Somos Um, aceleradora cearense de negócios de impacto. 

Legenda: Trezentas empresas de todo o País foram escolhidas para expor seus negócios em busca de investimentos e parcerias no evento
Foto: Divulgação/Expo Favela

Para a CEO do Somos Um, Ticiana Rolim, o evento é um indicativo da mudança que vem ocorrendo no mundo do empreendedorismo, visando valorizar iniciativas de impacto social.  

A favela não é carência, a favela é uma potência. Nós somos um. Quando eu criei essa organização era isso, que somos um. E aqui a gente pode ver isso, brancos e pretos, ricos e pobres, favela e asfalto, homens e mulheres, LGBTQIA+, todos juntos".
Ticiana Rolim
CEO do Somos Um

Entre as startups aceleradas pela Somos Um, a Giardino Buffet e a Bom Viver Reformas Populares estiveram entre as selecionadas para expor no evento. A startup Troqueiro, também apoiada pela aceleradora, esteve no evento como participante. 

Além delas, os negócios cearenses Avia, Horta Comunitária Álvaro Weyne, Xibata 16cm, Casa de Xicas, Fritadasso e Universo Robótico realizaram pitchs para investidores nacionais. 

Legenda: Empreendedores cearenses estiveram presentes no Expo Favela
Foto: Reprodução/Instagram Expo favela

Avia 

Única cearense entre as 10 startups finalistas, a Avia surgiu de uma dor pessoal do sócio fundador José Márcio, que tinha dificuldade de pedir delivery devido a barreiras geográficas entre os centros urbanos e a periferia. 

O embrião da ideia começou em 2017, mas só em dezembro do ano passado o aplicativo entrou em plena operação. O foco foi funcionar como um canal para que pequenos negócios e autônomos conseguissem chegar facilmente ao cliente final. 

A ideia surgiu muito mais ligado a um movimento de fortalecer uma economia marginal, que tem suma importância nessa dinâmica do social, porque fortalece uma casa e uma família. Essa é uma economia que tem que existir na margem e se tornar independente do centro, que tem que assumir uma posição de independência".
José Márcio
sócio fundador da Avia

Muito além do prêmio de R$ 80 mil que pode ser ganho ao final do reality show, o foco da empresa é conseguir vias para agregar o maior número possível de restaurantes e autônomos: sempre com foco no pequeno. 

Bom Viver Reformas Populares 

Nascida em um hackathon promovido pela Somos Um em setembro de 2019, a Bom Viver Reformas Populares tem planos de chegar a todas as periferias do Ceará, desde Fortaleza, Região Metropolitana até as macrorregiões. 

“A ideia central é levar dignidade para as famílias através de melhorias habitacionais, entendendo que a casa perpassa tudo o que nós somos, desde a nossa necessidade de proteção, afetividade, chegando também pela nossa saúde física e mental. E na periferia nós temos um déficit qualitativo gigantesco, casas que não são adaptadas para as pessoas viverem em plenitude”, resume a cofundadora da empresa, Gabrielle Araújo. 

Segundo ela, o principal ponto do Expo Favelas foi a possibilidade de fazer conexões com outros negócios e investidores. “O futuro dos negócios de impacto é também a colaboração”, aponta. 

Giardino Buffets 

O Giardino é um serviço de buffet completamente formado por mulheres da periferia, desde a chef de cozinha até a garçonete. Apesar de ter começado em outubro do ano passado, a empresa já tem fins de semanas cheios com eventos. 

A iniciativa surgiu de uma escola de gastronomia no Bom Jardim. As mulheres ali formadas atuam na empresa com os conhecimentos adquiridos, conseguem uma fonte de renda e parte dos recursos vão para uma entidade de apoio à saúde mental.  

Hoje 10 mulheres formam a equipe, mas a ideia é agregar cada vez mais pessoas para o projeto. Para a CEO da empresa, Natália Martins, o apoio da Somos Um foi fundamental para que o negócio chegasse ao patamar em que está. 

“O diferencial é a aceleração do Somos Um, que pega o negócio na ideia do papel e leva à concretização. Se estamos aqui é porque tivemos o apoio do Somos Um, sabemos o que é negócio e lucro e que podemos mudar a nossa realidade”, agradece. 

Troqueiro 

Apesar de não estar no evento como expositor, o Troqueiro estabeleceu conexões e utilizou a Expo Favelas como alavanca para networking e parcerias futuras. 

A empresa, iniciada na pandemia, visa facilitar que pessoas utilizem talentos e habilidades como moeda de troca para consumir produtos e serviços. Toda a ideia é pensada com foco na periferia. 

“Por mais que a pessoa esteja sem dinheiro, permanece com habilidade e talento. Por que não utilizar isso como moeda de troca? Por exemplo, uma manicure que quer fazer o bolo para o aniversário da filha. Ela entrou no Troqueiro e trocou [o serviço] com a boleira”, exemplifica o CEO da empresa, Tavinho Brígido. 

Hoje, 500 pessoas estão cadastradas na plataforma, que não cobra pelo ingresso. O objetivo é que, até o final do ano, o aplicativo tenha mais de 10 mil usuários, espalhados em toda a periferia de Fortaleza.  

Horta Comunitária Álvaro Weyne 

O idealizador da Horta Comunitária Álvaro Weyne, Ivan Batista, conta que o projeto surgiu em março do ano passado, em um campo de futebol que não era utilizado. Com a pandemia, esse espaço foi visto como uma possibilidade de complemento alimentar para as famílias da comunidade. 

A pandemia está passando, mas os efeitos dela não vão passar tão cedo. As pessoas estão com fome, estão perdendo renda e isso tudo gera um problema na comunidade. As pessoas tendo a oportunidade de complementar a sua alimentação, não é tudo, mas é algo que pode estar ajudando a elas".
Ivan Batista
idealizador da Horta Comunitária Álvaro Weyne

Os alimentos plantados no espaço não são vendidos. Cada morador pode realizar a colheita livremente e é incentivado apenas a deixar um valor para ajudar a manter a horta viva.  

“Nossa meta é criar mil hortas comunitárias no estado do Ceará, nas comunidades, nas favelas, nas periferias, no interior, a partir desses terrenos ociosos da prefeitura e até mesmo particulares. O que a gente precisa? Investimentos, pessoas, os movimentos todos se envolverem e criarmos uma grande rede de hortas comunitárias”, sonha o idealizador. 

Xibata 16cm 

Apesar de o negócio ainda ser relativamente recente, tendo surgido em dezembro de 2021, a ideia da empreendedora Glauciele Leite viralizou na internet: crepes com formatos sugestivos de pênis e vagina. 

A Xibata 16cm, localizada no Pirambu, em Fortaleza, foi uma das empresas selecionadas para expor na Expo Favelas. No evento, Glauciele conta que teve um primeiro contato com investidores que podem, no futuro, ajudar o negócio a crescer. 

Com investimentos, a fundadora da empresa tem como planos ampliar a loja já existente e criar outras unidades espalhadas na cidade. 

“A gente pensa em abrir outras lojas, mas a ideia é que tenha Xibata 16 em outros espaços. Proposta já existe, só não temos condições de colocar para frente. Existe um investimento que tem que ser feito para que isso possa funcionar”, aponta. 

Casa de Xicas 

A Casa de Xicas funciona como um espaço digital e físico para que empreendedoras negras possam divulgar e alavancar seus negócios. Hoje, a empresa tem uma loja no Shopping Benfica. 

A coordenadora e idealizadora do projeto, Neide Rodrigues, conta que o projeto conta atualmente com 45 empreendedoras. Mais que uma vitrine, a Casa de Xicas também oferece capacitação para esses negócios femininos. 

“A gente está aqui exatamente em busca do recurso ou parcerias para que a gente possa fortalecer as capacitações, a gente também precisa da capacitação humana. Para além disso, o principal é a gente conseguir montar essas franquias para a gente poder fazer essa distribuição”, coloca. 

Neide conta que, mesmo que a empresa ainda não tenha aberto modelo de franquia, já há interessados em todo o país. 

Fritadasso 

Com duas fritadeiras e um freezer, a Fritadasso surgiu na cozinha da casa da empresária Josielen Uchoa, no início da pandemia. Foi uma forma de conseguir sustento para ela, o marido e o bebê do casal. 

A empresa ficou conhecida na periferia por fornecer frango frito, uma comida que não chegava por delivery no bairro. Em 2021, a empresa cresceu 71% comparado ao ano anterior. 

O sonho no momento é conseguir montar um ponto fixo no bairro Bom Jardim, na Capital. Foi com objetivo de conseguir investimento que a empresa participou do evento. 

“Nossos planos são em primeiro lugar conseguir inaugurar a primeira loja fixa da Fritadasso, que vai ser na primeira galeria do bairro. Consequentemente após isso abrir outras lojas em outros bairros que cobram a Fritadasso, como Messejana, Maracanaú e Caucaia”, planeja.  

Universo Robótico 

A Universo Robótico nasceu de uma inquietação do CEO da empresa, Majela Oliveira, ao observar que o Brasil tem uma escassez de produtos ligados a tecnologia na educação frente a outros países. Daí surgiu o Zöy, um robô educacional feito de plástico reciclável. 

“Uma aula com o Zöy leva acesso à tecnologia e despertar sustentável. Quando uma criança vê um robô feito a partir de tampinhas e embalagens plásticas, ela passa a ser um agente de transformação ambiental”, considera. 

O plano daqui para frente é colocar o produto no mercado. Segundo Majela, a empresa estará presente na Feira do Conhecimento, em novembro.  

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