Cearense troca carro por moto elétrica: 'gasto metade do que gastava com gasolina'

Diante dos altos valores dos combustíveis, cearenses têm buscado alternativas mais baratas e têm encontrado a solução nas motos, bicicletas e patinetes elétricos

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Legenda: Lucas Cerqueira passou a utilizar a moto elétrica como principal meio de locomoção e tem economizado mais de 50% do que gastava com gasolina
Foto: Kid Júnior

O preço da gasolina, que subiu em média 55,5% no Ceará entre maio de 2020 - quando a escalada dos combustíveis iniciou - e julho deste ano, tem obrigado os condutores de veículos a buscarem alternativas para o transporte. Mesmo com as reduções das últimas semanas, o valor do litro segue em patamar alto.

Uma das saídas, prevista como tendência inevitável e acelerada pelos altos custos dos combustíveis tradicionais, é a adoção de veículos elétricos, especialmente patinetes, bicicletas e motos. 

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O consultor de marketing Lucas Cerqueira dos Santos é um dos aderentes dessa estratégia. Proprietário de um carro, ele estava gastando mais de R$ 1 mil por mês com gasolina que já estava limitando de visita a familiares e momentos de lazer devido ao peso no orçamento.

Através de um contato profissional, ele conheceu o mundo dos veículos eletrônicos e passou a considerar a possibilidade. Depois de três meses se aprofundando no tema e fazendo contas para atestar a vantagem financeira do investimento, Lucas fechou a compra de uma moto, recebida há cerca de 10 dias.

O processo de pesquisa consistiu em analisar a qualidade dos produtos, mas também o financiamento e em quanto a parcela ia ficar. A decisão dependia do seguinte: eu estava gastando mais de R$ 1 mil por mês com gasolina. Então, a parcela da moto teria que ser uma economia, incluindo a parcela da moto e quanto eu ia gastar com energia a mais"
Lucas Cerqueira dos Santos
Consultor de Marketing

O consultor revela que está pagando pouco mais de R$ 400 de financiamento e que o aumento estimado com as recargas da bateria da moto deve ser de R$ 1 por dia

Dessa forma, a troca do carro pela moto elétrica representa, para ele, uma redução de mais de 50% nos gastos.

Tendo em vista a economia mensal, Lucas e a esposa não precisaram fazer ajustes no orçamento para incluir o investimento no novo principal meio de transporte do casal.

"Sobre a experiência, está sendo algo completamente libertador. Porque de uns tempos pra cá eu estava gastando muito dinheiro com gasolina só pra sobreviver, ir para o trabalho, visitar cliente. Então, eu estava começando a cortar momentos, porque os gastos com o carro já estavam alto demais", ressalta.

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Desenvolvimento do mercado

Coincidindo com o aumento do preço da gasolina e com a busca intensa por alternativas, Fortaleza começou a ganhar estabelecimentos que atendessem essa demanda.

Um desses locais é a Mutti Motors, loja especializada em veículos elétricos nascida em dezembro de 2020. O sócio diretor da empresa, Max Mutti, lembra que o negócio começou a partir do incentivo de um colega que já atua nesse segmento em São Paulo.

"Nós trouxemos duas motos de São Paulo, uma paga e outra 'fiado' e, pra nossa surpresa, vendemos as duas com duas ou três semanas", conta.

Nesse momento, a empresa ainda não possuía uma loja, mas a partir da curiosidade dos clientes a Multi Motors ganhou um escritório, de forma a dar uma melhor assistência e tirar dúvidas dos interessados.

Atualmente, a loja ocupa três pontos comerciais e conta com uma oficina para prestar assistência técnica.

"A gente começou a ver que o negócio 'pegou fogo'. A mobilidade elétrica, além de ser mais barata, é ecológica e vantajosa, principalmente na nossa cidade, que é plana, sem muitas subidas ou descidas. O custo benefício é muito grande"
Max Mutti
Sóci-diretor da Multi Motors

Legenda: Loja da Multi Motors em Fortaleza
Foto: Kid Júnior

Vendendo de 80 a 100 equipamentos por mês, a Multi Motors está investindo R$ 50 mil em uma segunda unidade, com loja e oficina, no Eusébio.

Assim como na matriz, a loja irá contar com um leque diverso de produtos, de patinetes a grandes motocicletas. Os valores variam de R$ 5 mil a R$ 35 mil, dependendo do modelo, potência e autonomia do equipamento.

"Hoje, devo ter umas 40 motos de estoque com uma grande variedade. Quando a pessoa vem experimentar, a gente mostra os modelos do nosso portfólio, mas se o cliente preferir um modelo que não tenhamos, mandamos trazer", detalha.

Max explica que a oficina, além dos clientes que adquirem equipamentos com a Multi, atende aqueles que compraram veículos elétricos com lojas de fora e não teriam de enviar para outro estado para conseguir realizar algum tipo de manutenção.

"A coisa mais importante (do nosso negócio), é que a garantia somos nós mesmos. Tendo a oficina, nós trazemos tranquilidade ao cliente, de ter um local de assistência à disposição, com peças, etc", ressalta.

Legenda: Custos de emplacamento, IPVA e principalmente de combustível de veículos elétricos são menores que de veículos à combustão
Foto: Kid Júnior

Uso profissional

A nova também está entrando no segmento de veículos que possam ser usados profissionalmente. É o caso de triciclos elétricos para segurança de condomínios e veículos com caçamba voltados para propriedades rurais, por exemplo.

"Mesmo com a baixa da gasolina, a diferença de custo é muito grande. Tem pessoas que gastavam R$ 1,5 mil de gasolina e hoje gastam de R$ 30 a R$ 40 de energia", argumenta.

Outra vantagem dos veículos elétricos é que eles contam com carregamento bivolt, que pode ser utilizado em tomadas comuns, sem a necessidade de nenhuma adaptação.

Legenda: Multi Motors conta com uma assistência técnica própria em Fortaleza.
Foto: Kid Júnior

Loja nº 1 do Brasil

Outro player do mercado de veículos elétricos em Fortaleza é a Shineray Eletric Fortaleza, loja de fábrica da montadora localizada em Suape (PE). A marca investiu em lojas próprias em 2021 e chegou à capital cearense há cerca de quatro meses.

A unidade conta com veículos à combustão e elétricos, sendo esses últimos cerca de 65% a 70% dos 50 equipamentos vendidos em média todo mês.

Erickson Lima, gerente da loja, revela que o resultado coloca a unidade no primeiro lugar entre as sete lojas próprias da Shineray espalhadas pelo Brasil.

O crescimento do mercado demonstrado desafia a loja a elevar as vendas, colocando uma meta de atingir 100 equipamentos vendidos mensalmente já a partir de setembro.

Temos melhor preço do mercado nacional. Temos um centro de distribuição aqui, então conseguimos armazenar uma grande quantidade de motos. Isso facilita a venda, porque somos loja de pronta entrega. O cliente não aguarda para receber. Isso faz esfriar a venda e somos preparados para não deixar que isso aconteça"
Erickson Lima
Gerente da Shineray Eletric Fortaleza

Ele estima que todo mês a unidade receba carregamento com cerca de 100 unidades. Os itens destinados ao público adulto custam a partir de R$ 5,5 mil até R$ 19,9 mil.

Os veículos que atingem no máximo 50km/h exigem apenas uma Autorização para Conduzir Ciclomotores (ACC). Os que ultrapassam esse limite exigem habilitação A.

Os custos de emplacamento e IPVA d veículos elétricos são mais baixos que os à combustão. Além disso, bancos já oferecem opções de financiamento.

Legenda: MultiMotors conta com modelos diversos que custam de R$ 5 mil a R$ 35 mil.
Foto: Kid Júnior

Melhor qualidade do tempo

O gerente de concessionária Natanael Viana Rodrigues sentiu a necessidade de diminuir o peso da gasolina no orçamento familiar e viu na compra de uma bicicleta elétrica a oportunidade para tal.

A opção foi a mais simples e barata encontrada. O consumo de gasolina caiu de dois tanques por mês para 1,5, uma vez que ele não consegue usar a bicicleta 100% das vezes.

Depois de cerca de dois meses de pesquisa, Natanael fechou a compra da bicicleta há quatro meses, parcelada no cartão de crédito em 10x.

Legenda: Natanael trocou o carro pela bicicleta elétrica no percurso para o trabalho
Foto: Arquivo Pessoal

O equipamento é utilizado principalmente no deslocamento para o trabalho, de forma que ele percorre 13km pedalando com a ajuda do motor.

O tempo de percurso permaneceu o mesmo com a troca do carro pela bike, tendo em vista a grande quantidade de engarrafamentos que o gerente era obrigado a enfrentar.

De carro eu levo os mesmos 50 minutos. Na bicicleta, eu venho mais curtindo, em um ritmo mais lento, curtindo uma música, um podcast. Se eu viesse pedalando mais rápido, levaria uns 15 minutos a menos. Mas eu prefiro aproveitar o percurso para relaxar, a qualidade do tempo é melhor"
Natanael Viana Rodrigues
Gerente de concessionária

Economia e qualidade de vida

Especializada em bicicletas, a Distribat nasceu em Fortaleza há dois anos também a partir da observação da demanda, especialmente durante a pandemia, quando as pessoas procuraram meios alternativos ao transporte público como forma de se proteger da contaminação pela covid-19.

O sócio-diretor da distribuidora, Marco Aurélio Meller, pontua que as pessoas costumam trabalhar de 10 até 30 km de casa. A distância permite o uso da bicicleta elétrica como um meio mais rápido de locomoção e que ainda permite a prática de um exercício físico.

"Geralmente, as pessoas não querem ir para o trabalho de bicicleta por chegarem suadas. Com os modelos elétricos, elas podem se deslocar com a ajuda do motor e na voltar, desligar o motor, e aproveitar o percurso para se exercitar", afirma.

A quantidade significativa de ciclofaixas e ciclovias presentes em Fortaleza é um incentivo a mais aos interessados. Além disso, o clima contribui, tendo em vista que as chuvas se concentram em um período determinado do ano.

Marco indica que os motores de bicicletas costumam ter autonomia para roda entre 40 e 50 km com uma única carga, dependendo do peso do condutor e do trajeto.

Os valores variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil, dependendo do modelo e da potência do motor, mas também é possível comprar kits que transformam bicicletas comuns em elétricas.

O investimento inicial da empresa foi R$ 150 mil para a compra de bicicletas e hoje atende lojas parceiras de Fortaleza e de todo o Nordeste.

O sócio-diretor da Distribat indica que o volume de vendas ainda não é maior devido à crise de desabastecimento de componentes eletrônicos, que reduz a oferta de produtos no mercado.

"Eu tenho 30 bikes para entregar desde maio. O volume ainda não é considerado alto por causa desse problema, mas a situação está se reestabelecendo e ano que vem devemos aumentar as vendas. Além disso, os preços vão acabar diminuindo", pontua.

Sobre o perfil dos clientes, ele revela que normalmente são pessoas com mais de 40 anos e que já possuem carro ou moto, mas querem um veículo que gere economia.

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