Ceará se prepara para hidrogênio verde, e custos de produção devem cair 60% até 2030

Custo do quilo produzido deve passar de US$ 6 para US$ 2,6 em 2030

Escrito por Carolina Mesquita , carolina.mesquita@svm.com.br
Foto: Kid Júnior

O hidrogênio verde (H2V), juntamente ao mercado potencial que o Ceará vem demonstrando para mais essa fonte de energia renovável, é um dos assuntos do momento, tanto entre entes públicos, privados e acadêmicos. Um detalhe que ainda não tem sido discutido tão amplamente é a viabilidade econômica dessa produção.

Em 2020, o custo de produção de um quilo de hidrogênio verde era de US$ 6, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), valor considerado muito elevado, tendo em vista que a obtenção do hidrogênio através do metano custa entre US$ 1,4 e US$ 3, por exemplo. Em 2030, a previsão é que o valor caia para US$ 2,60.

O professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC) e cientista chefe em energia do Programa Ciência e Inovação em Políticas Públicas da Fundação da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Funcap), Fernando Antunes, detalha que os principais responsáveis pela redução de 56,6% em dez anos devem ser o investimento para a instalação das plantas e a chegada da energia eólica offshore.

Ainda conforme a previsão da EPE, o Capex, termo em inglês utilizado para se referir ao investimento em bens de capital em um projeto, deve contribuir com uma redução de US$ 1,6 no custo de produção do hidrogênio verde até 2030.

Isso porque, quanto maior a escala de produção de um determinado item, menor é o custo dessa fabricação. Além disso, a estrutura necessária já estará pronta, não sendo necessário realizar um investimento do zero.

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A segunda maior redução nos custos fica a cargo da chegada da energia eólica offshore. Somente no Ceará, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) analisa licenciamento ambiental de 22 parques, que somam potência de 56,6 GW.

"O Brasil tem potencial de 700 GW de energia eólica offshore, segundo a EPE. Isso é mais que três vezes o consumo de todo energia elétrica do País. Então, o que se vê é que a energia eólica offshore seja canalizada para a produção do hidrogênio verde", explica Antunes.

O avanço tecnológico ainda deve provocar aumento da eficiência, que promete gerar economia de US$ 0,4 por quilo de hidrogênio produzido.

Usos do H2V

Além do alto volume de exportações, o hidrogênio verde produzido no Ceará também deve ser utilizado para reindustrializar o Estado, possibilitando a fabricação de células-combustíveis, eletrolisadores e outros componentes relacionados à atividade.

Para Antunes, a compra da CSP pela ArcelorMittal - gigante mundial da mineração que vem dando sinais de uma entrada na indústria verde - é um indicativo importante para futuros investimentos nessa direção.

"Nós temos que ter indústria de transformação. O que se quer é trazer fábricas, aumentar essa escala para que o Brasil possa exportar equipamentos e isso possa trazer dinheiro para o cidadão local", pontua.

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Ainda na esfera industrial, o professor da UFC indica o segmento automobilístico como um grande potencial a ser explorado. Com uma cadeia bem estruturada, ele indica que os carros movidos a célula-combustível alimentada por hidrogênio verde é uma solução mais barata e viável que as próprias baterias.

Ele esclarece que a grande questão por trás da problemática das baterias é o peso das mesmas, tendo em vista que, para possibilitar que o veículo entre em movimento, é necessária uma bateria de tamanho significativo ou mesmo um conjunto delas.

Isso provoca um significativo aumento do peso do veículo que, por sua vez, irá demandar maior energia.

"Imagina um caminhão, teria que ter muita bateria para ter energia o suficiente para ele se deslocar. O hidrogênio, nesse ponto, é muito melhor, porque não aumenta o peso do carro. É necessário apenas a célula-combustível e o tanque de gás que a gente utiliza no nosso carro", detalha.

Outra vantagem do hidrogênio verde em relação às baterias é o tempo de abastecimento. Conforme o especialista, as baterias precisam de pelo menos uma hora para recarregarem, enquanto um tanque de hidrogênio é abastecido em cerca de 10 minutos.

Antunes também aponta a eficiência do hidrogênio em relação à gasolina. Ele revela que um tanque veicular de 50 litros de gasolina contem cerca  445 kWh de energia. Um tanque de mesma capacidade de hidrogênio possui 1.950 kWh de energia

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