Como será a usina de hidrogênio verde da Fortescue no Ceará? Conheça projeto

Empresa australiana entrega estudo de impacto ambiental ao Governo do Estado e deve obter licença prévia nas próximas semanas

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Legenda: Planta de H2V da Fortescue será instalada próxima ao Porto do Pecém
Foto: Fabiane de Paula

A produção de hidrogênio verde (H2V) no Ceará está cada vez mais próxima de consolidar o estado como hub na produção do composto. 

Os detalhes do empreendimento, por sua vez, mostram que o novo complexo deve ser um dos maiores de produção de energia já construído no Estado.

Essa era a primeira fase para consolidar a planta no Ceará e o primeiro a ser concluído no futuro hub de H2V no estado. O EIA/Rima foi finalizado em abril de 2023 pelas empresas de consultoria Geo Soluções Ambientais e Wood Group e foi dividido em três etapas (chamadas de tomos) com mais de 1 mil páginas e obtidos pela reportagem. 

No documento, é detalhado, além da ampla questão ambiental, todo o estudo de alternativas locacionais e tecnológicas do projeto, bem como as características gerais do empreendimento, como tamanho, divisão e demais especificações, planos e projetos colocalizados, legislação ambiental pertinente e área de influência. 

Ao todo, caso o projeto saia do papel, ele deve empregar, no ápice da obra, mais de 5,5 mil pessoas e durar 48 meses. A expectativa inicial é de que as obras se iniciem em 2025.

COMO VAI FUNCIONAR A PLANTA DE HIDROGÊNIO VERDE DA FORTESCUE?

Foto que contém a Usina da Fortescue
Legenda: O projeto (delimitado em pelo contorno em preto) irá receber a planta em duas cidades da Região Metropolitana de Fortaleza
Foto: Divulgação

Em linhas gerais, a usina de produção de H2V da empresa australiana pode ser definido como um grandioso projeto que circunda o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).

A planta ficará localizada entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo da Amarante, onde fica instalado o Cipp, ao longo de mais de 135 hectares (ha) de área. 

A planta completa será dividida em três partes implementadas em duas etapas diferentes. Em pleno funcionamento, a usina terá capacidade de produzir quase 5 mil toneladas/dia de amônia verde, e 837 toneladas/dia de hidrogênio verde a partir do consumo de 2,1 mil megawatts (MW) de energia elétrica.

Nos 135 ha da usina, a maior parte será para a planta de produção e armazenamento de H2V. Ainda estão previstas plantas de compressão e dessalinização da água do mar. Confira a divisão:

  • Planta de Produção e Armazenamento de Hidrogênio Verde: 121,9 ha;
  • Planta de Compressão de Gás: 10,07 ha;
  • Planta de Dessalinização: 3,03 ha.

As instalações da Planta de Produção e Armazenamento de Hidrogênio Verde ficarão no interior da Zona de Processamento de Exportação do Cipp (ZPE II).

Já a planta de dessalinização por osmose reversa (3,03 ha) e a planta de compressão de gás (10,08 ha) serão instaladas na área retroportuária e próximo à localidade de Matões, respectivamente. 

Ainda de acordo com o EIA/Rima, as três partes, juntas, da planta de H2V da Fortescue incluem ao menos outras oito estruturas gerais, que vão desde a obtenção de recursos naturais, passando pelo enriquecimento dos materiais até a distribuição na rede elétrica. São eles:

  1. Unidade de Osmose Reversa;
  2. Unidade de Produção de Nitrogênio;
  3. Unidade de Produção de Amônia Verde;
  4. Unidade de Armazenamento e Transferência de Amônia;
  5. Linha de Transmissão 500 kV SE PECÉM II - SE GHP;
  6. Instalações e Serviços de Apoio;
  7. Estruturas Lineares (Gasodutos, dutos de amônia verde liquefeita, água dessalinizada e desmineralizada, adutora de captação de água do mar e emissário de efluentes);
  8. Subestação GHP FFI 500 kV.

Foto que contém a planta da usina da Fortescue
Legenda: Processo simplificado de como se dará a produção de hidrogênio verde pela planta da Fortescue
Foto: Divulgação

DESTRINCHANDO A PLANTA

Se as estruturas acima fazem parte do macro da planta de H2V da Fortescue, o documento ainda detalha todos os locais que devem ser edificados para a produção do composto.

Serão unidades específicas do empreendimento:

  • Ponto de Captação de Água do Mar;

  • Armazenamento da Água do Mar;

  • Pré-tratamento da Água do Mar;

  • Unidade de Osmose Reversa;

  • Armazenamento de Água Desmineralizada;

  • Armazenamento e Descarte de Água de Rejeito;

  • Unidade de Eletrólise;

  • Unidade de Armazenamento de Hidrogênio;

  • Unidade de Produção de Nitrogênio;

  • Unidade de Produção de Amônia;

  • Unidade de Armazenamento de Amônia;

  • Instalação e distribuição de Utilidades;

  • Dutos;

  • Água potável;

  • Ar de instrumentos;

  • Sistema de Tratamento de Efluentes;

  • Sistema de Flare;

  • Sistema de Combate a Incêndio;

  • Geração de energia de emergência;

  • Subestações;

  • Edifícios operacionais;

  • Central Control Room;

  • Manutenção;

  • Laboratório;

  • Administrativo.

São esperadas cinco frentes de trabalho simultâneas: uma para a planta H2V e armazenagem, uma para a planta de dessalinização, uma para a estação de compressão de BOG (boil-off gas - vapor de gás ou gás de fuga de amônia, obtido a partir da produção do H2V), uma para tubulações e uma para a linha de transmissão. 

Foto que contém planta da Fortescue
Legenda: Contorno (em verde) mostra a localização de partes da planta de H2V da Fortescue
Foto: Divulgação

QUAIS OS IMPACTOS QUE DEVEM CAUSAR?

O EIA/Rima da Fortescue prevê extensa lista de alterações ambientais, incluindo a instalação e até mesmo uma possível desinstalação do empreendimento.

No documento, está destacada a parte em que é frisada a obtenção de água do mar. Serão extraídas mais de 106 mil toneladas/dia para a planta de H2V, extraída de 10 a 20 metros de profundidade. 

Toda essa água passará pela usina de dessalinização da própria planta para que seja desmineralizada, isto é, para que se torne "pura" para a utilização no processo de eletrólise que gera o H2V.

A localização da Planta Fortescue de Hidrogênio Verde está no entorno de seis unidades de preservação, sendo duas APAs (Lagamar do Cauípe e Dunas do Litoral Oeste), Estação Ecológica do Pecém, Parques das Dunas de Caucaia e o Natural Municipal de São Gonçalo do Amarante e o Jardim Botânico de São Gonçalo do Amarante.

Segundo o documento, as Prefeituras de Caucaia e São Gonçalo do Amarante já deram o aval para a construção do empreendimento.

Com a entrega do EIA/Rima, o próximo passo é obter a licença prévia, que dá à empresa o direito de começar a fazer maior exploração do espaço, ainda sem construções. A expectativa é de que isso aconteça já no início de agosto.

 

 

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