Ceará pode ser grande exportador de hidrogênio verde para a Alemanha
Perspectiva foi apresentada por representantes das Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo e do Rio de Janeiro, que estão mapeando oportunidades de negócio no Ceará e no Brasil com o governo alemão
O Ceará está largando na frente do Brasil inteiro e poderá ganhar um papel estratégico em negócios firmados com o governo da Alemanha baseado na exportação de hidrogênio verde. A perspectiva foi apresentada por representantes das Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo e do Rio de Janeiro após o anúncio do Governo do Estado sobre a assinatura de um memorando de entendimento para construção de uma usina no Porto do Pecém, processo que deverá levar até 4 anos.
"Com esse hub de hidrogênio verde anunciado pelo Estado, o Ceará está se lançando na frente não só de outros estados, mas também do Governo Federal que está pensando em lançar um roadmap e uma estratégia nacional de hidrogênio verde, mas ainda nem começou. O Ceará abraçou essa oportunidade e está se lançando bem na frente dos outros, e o que me empolga no Ceará é que as instituições estão trabalhando juntas: Estado, Fiec (Federação das Indústrias do Estado do Ceará), iniciativa privada, e a universidade", disse Ansgar Pinkowski, gerente de inovação e sustentabilidade da Câmara Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro.
Veja também
Se posicionar à frente do País nesse mercado poderá render bons resultados financeiros ao Estado nos próximos anos. O governo alemão já iniciou um processo de fomento e procura de fornecedores de hidrogênio verde para suprir a demanda do país nos próximos anos. De acordo com Ansgar, até 2030, a Alemanha quer substituir 30% da matriz energética baseada em óleo e gás para o consumo de hidrogênio verde.
Contudo, por questões geográficas e outras limitações, a Alemanha deverá importar 90% do hidrogênio verde que será usado no país, o que deve gerar parcerias comerciais com empresas fornecedoras no mundo inteiro.
Segundo Bernd dos Santos Meyer, consultor de cooperação para o desenvolvimento de tecnologia sustentável da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, a Alemanha deverá investir 9 bilhões de euros em projetos de desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde, dos quais 2 bilhões de euros serão destinados a projetos de cooperação internacional.
Investimentos no mercado
"O governo alemão falou que vai investir 9 bilhões de euros para desenvolver o mercado de hidrogênio verde e 2 bilhões de euros serão direcionados às parcerias internacionais. A nossa intenção é que o Brasil entre como parceiro nessa cooperação internacional e estamos trabalhando para impulsionar esse assunto no País e aqui no Ceará", disse Bernd.
Além de se antecipar a outros estados brasileiros e o Governo Federal no início da produção de hidrogênio verde, o Ceará pode ter outros fatores de impulsão para favorecer a exportação do produto para a Europa nos próximos anos.
Segundo Ansgar, algumas empresas do setor têm procurado as Câmaras de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha para negociar futuras parcerias, apontando um grande potencial de produção do hidrogênio verde no Ceará.
Capacidade de produção do Ceará é destaque
Segundo relatórios das companhias, o Estado teria potencial de produção das usinas com uma média anual de 8.000 horas em operação. Outras regiões do mundo têm em média 3.000 horas por ano. Para comparação, um ano-calendário conta com 8.760 horas.
Ações e mapeamentos
Apesar da perspectiva de negócios que poderão ser gerados no futuro, Bruno Vath Zarpellon, diretor de inovação e tecnologia da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, disse que o governo alemão ainda está iniciando o processo de mapeamento e desenvolvimento do mercado de hidrogênio verde no Brasil.
Nos próximos meses, a Câmara deverá mapear clusters e startups no Brasil que possam oferecer soluções para mercado e para o processo de exportação do hidrogênio verde até a Europa. Como o País ainda não conta com uma rede de produção em escala do insumo, esse trabalho deverá ajudar a identificar oportunidades de negócios e criar soluções que ainda não estão no mercado.
Além disso, Vath Zarpellon afirmou que a Câmara Brasil-Alemanha deverá realizar, também, um hackaton para promover o tema relacionado às energias renováveis a jovens empreendedores e cientistas no Ceará e outros estados no Brasil.
"Vamos realizar ainda esse ano, um mapeamento de clusters e startups que possam atuar na cadeia de hidrogênio verde. Por mais que consideremos um assunto novo, mas se considerarmos a cadeia como um todo, entre logística, produção e aplicação, já temos diversas tecnologias análogas, mesmo que a empresa não tenha afirmado que aquilo tenha sido pensado para o uso do hidrogênio verde", afirmou Bruno.
Interferências no ambiente de negócios
Contudo, os representantes das Câmaras de Comércio e Indústria Brasil e Alemanha alertaram que os investidores alemães não receberam com bons olhos as últimas decisões do Governo Federal em interferir na gestão da Petrobras.
Segundo Ansgar Pinkowski, os empresários estrangeiros estranharam a decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de trocar o presidente de petrolífera estatal, uma vez que a alteração no comando da empresa pode gerar distorções e incertezas na gestão dos ativos e na política ambiental da companhia.
"O empresário precisa de uma visão de longo prazo para investir, e se acontecem mais coisas como aconteceu com a Petrobras, na mudança da direção, colocando a estatal em dúvida sobre o futuro e a política ambiental da empresa ou do Governo Federal, isso é um veneno para o empresariado. Quanto mais estável for o Governo Federal, mais investimentos chegarão ao País", ressaltou Ansgar.
Consumo interno
Para conseguir consolidar o mercado de hidrogênio verde no Ceará, os representantes da Câmara Brasil-Alemanha recomendaram que o Estado passe a incentivar o consumo interno do insumo, favorecendo a substituição das fontes baseadas em petróleo e gás natural.
Impulsionar o consumo de hidrogênio verde no Ceará poderia ajudar a aumentar o nível de produção e reduzir o custo do insumo, favorecendo a exportação e a utilização em diversos setores da economia, desde mobilidade urbana à geração energética.
"É importante ressaltar que não se pode apostar apenas focar na exportação. É preciso investir no consumo interno para substituir o hidrogênio cinza na indústria química, de fertilizantes e outros mercados, por hidrogênio verde. A segunda etapa é aplicar hidrogênio verde à rede de gás natural, e a rede nacional já comportaria entre 10% e 20% sem precisar de nenhuma mudança estrutural. A terceira etapa seria implementar esse mercado na mobilidade, e isso deve impulsionar a produção do mercado de hidrogênio, fazendo o preço de produção baixar", explicou Ansgar.