Obras da usina de hidrogênio devem durar até quatro anos após licença

Investimento de US$ 5,4 bilhões da Enegix Energy no Complexo do Pecém pode colocar o Ceará na vanguarda da produção da energia renovável. Se concretizado, será o 2º maior investimento privado da história do Estado, atrás apenas da CSP

Escrito por Samuel Quintela/Ingrid Coelho , negocios@svm.com.br
Legenda: Olhar apurado das empresas para a questão ambiental é um dos pilares do ESG e vem sendo cada vez mais cobrado por investidores e consumidores

Apontada como um novo divisor de águas da economia cearense, as obras da usina de hidrogênio verde (H2V) a ser instalada no Porto do Pecém – um investimento de US$ 5,4 bilhões – deverão durar entre três e quatro anos após a apresentação e aprovação dos licenciamentos do projeto. Contudo, ainda não há previsão para a data de entrega dos projetos ambiental e operacional pela Enegix Energy, empresa australiana à frente do investimento. As informações são do secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho estadual, Maia Júnior.

Se concretizado, o investimento será o segundo maior de natureza privada da história do Ceará, de acordo com informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado (Sedet), atrás apenas da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), que contou com um aporte de US$ 6,7 bilhões. 

De acordo com Maia, o setor, no Ceará, tem um potencial de retorno financeiro semelhante, ainda que não seja igual nominalmente, aos impactos do mercado do petróleo para o Oriente Médio. “Esse projeto tem um potencial de ser o maior produtor desse combustível no mundo, e ver o Pecém ser o palco para esse projeto é muito positivo. A gente pode viver, aqui, um cenário muito parecido ao do Oriente Médio com o petróleo a partir das energias renováveis. E esse movimento coloca o Ceará como um grande produtor”, ressaltou Maia, destacando que a empresa ainda irá visitar o Porto do Pecém para definir o melhor local e mensurar alguns detalhes da planta da usina.

Veja também

De acordo com Wesley Cooke, CEO da empresa australiana Enegix Energy, o empreendimento deverá gerar milhares de empregos no Estado durante a construção da usina e centenas após o início da operação. “Esse é um grande projeto que vai ajudar a melhorar a vida de muitos cearenses. Estamos muito felizes em fazer parte desse projeto em parceria com o Ceará”. O executivo participou de forma remota, por vídeoconferência, da assinatura de memorando de entendimento com o Governo para instalação da usina no Estado.

Maia Júnior ainda ressaltou que o projeto deverá impulsionar o mercado de energias renováveis no Ceará “Estou muito feliz, porque fui um dos grandes líderes das energias renováveis no Ceará e vamos dar um novo passo na evolução desse setor aqui no Estado. Eu ter trabalhado no passado para organizar tudo isso e estar novamente como parte do governo me deixa muito feliz”, afirmou. 

Memorando assinado

Para viabilizar o investimento, o Governo do Estado lançou, na manhã de ontem (19), o Hub de Hidrogênio Verde, ocasião em que assinou um memorando de entendimento com a Enegix Energy para a instalação da usina no Estado e instituiu um grupo de trabalho com representantes do governo e da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Complexo do Pecém (CIPP S/A) para colaborar para fortalecer a cadeia do hidrogênio verde no Ceará.

“É a única energia verde renovável que pode ser transportada. Nós podemos exportar essa energia para o mundo inteiro”, pontuou o governador Camilo Santana a respeito do potencial do empreendimento durante o anúncio. “Nós estamos aqui dando um pontapé inicial em um momento que eu considero histórico para o Ceará”, afirmou o governador.

Apoio

O presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, reforçou a importância do momento para o Ceará. “Temos o que há de melhor no mundo em energia, com a complementaridade da energia solar e eólica. Isso nos faz imbatíveis no mundo em produção de energia. O Ceará, com toda essa capacidade, poderá se tornar um grande produtor mundial de hidrogênio verde”, destacou.

Já Cândido Albuquerque, reitor da UFC, frisou que a iniciativa é inédita. “O momento para o Ceará significa que, ao contrário de esperar que outros países produzam para que nós importemos, estamos criando, inovando e empreendendo. Isso é essencial”. 

O vice-presidente do Porto de Roderdã, René Van Der Plas, também participou por videoconferência direto da Holanda. “O Ceará já é muito forte na geração de energia eólica e solar, e temos a infraestrutura necessária para a produção de hidrogênio verde e a exportação em grande quantidade. Essa assinatura mostra o comprometimento de todos os setores do Estado para a redução da emissão de poluentes”.

A expectativa é que, com o investimento, o Ceará se torne o maior produtor de hidrogênio verde do País e também o principal exportador para a Europa, transferindo o produto por meio do Porto do Pecém, até ao Porto de Roterdã, na Holanda.

Potencial do hidrogênio

A Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA) projeta até 2025 que 6% do consumo final de energia global esteja associado ao hidrogênio. O hidrogênio verde representa uma das soluções energéticas mais promissoras, acessíveis e sustentáveis para reduzir as emissões de gás carbônico. E para alcançar a neutralidade climática proposta para 2050, a descarbonização de indústrias que dependem do uso de combustíveis fósseis será essencial. 

O hidrogênio verde é produzido através de fontes de energia renováveis e é atualmente considerado o pilar da transformação energética mundial por poder ser obtido através da eletrólise da água, livre de carbono. “Todo o mundo caminha para a utilização de energia limpa e o Ceará está na vanguarda que vai mudar a realidade socioeconômica, pois temos todas as condições favoráveis para produzir e exportar o hidrogênio verde”, destacou o governador.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados