Avanço de 7,7% reflete retomada; expectativa é que crescimento continue

Manutenção do ritmo de recuperação da atividade econômica brasileira deverá ser influenciada pelo andamento de reformas como a tributária e administrativa, além da aprovação de vacinas contra a Covid-19

Escrito por Redação ,
Legenda: Entre as atividades industriais, o destaque foi da indústria de transformação, que cresceu 23,7% no trimestre
Foto: Natinho Rodrigues

Embora tenha ficado abaixo do esperado pelo Governo e pelo mercado, o crescimento de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) na passagem do segundo para o terceiro trimestre aponta para uma consolidação da retomada da atividade econômica do País, iniciada em julho. O resultado compara o comportamento da economia no ápice da quarentena, os meses de abril, maio e junho, quando foi registrada uma retração recorde de 9,6% ante o trimestre anterior, com os três primeiros meses da reabertura econômica (julho, agosto e setembro).

Apesar do crescimento recorde do PIB, a economia brasileira ainda não voltou ao nível pré-crise e se encontra no menor patamar dos últimos dez anos. A expectativa agora é de um crescimento mais lento nos últimos três meses deste ano e de retorno ao patamar de 2019 em 2021 ou 2022.

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Aquém das projeções do mercado, que esperava um crescimento de 8,8%, e do Ministério da Economia, que projetava avanço de 8,3% na passagem do segundo para o terceiro trimestre, o PIB retraiu 3,9% ante igual período de 2019. No acumulado de 12 meses terminados em setembro, houve queda de 3,4% e no acumulado do ano até setembro, o PIB caiu 5% em relação ao mesmo período de 2019. Os dados foram divulgados ontem (3) pelo IBGE.

"O resultado do terceiro trimestre é bastante alentador. O mercado já tinha uma expectativa de que seria trimestre de recuperação, com a volta de alguns setores da atividade que ficaram parados na pandemia. Isso mostra um forte crescimento da atividade econômica e do ritmo de produção, mas, ainda assim, a gente deve fechar o ano com uma queda de 4% a 4,5% do PIB deste ano", estima Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE).

Para 2021, Coimbra acredita na manutenção do ritmo de recuperação da atividade econômica, que deverá ser influenciada pelo andamento de reformas como a tributária e administrativa e pela aprovação de vacinas contra o coronavírus. "Há uma expectativa muito positiva tanto no mercado interno como no externo que poderá gerar uma alavancagem em 2021. Com esse cenário se fortalecendo, podemos ter um crescimento mais efetivo no próximo ano, de 3% a 3,5%", diz Coimbra.

Setores

Entre os três setores analisados pelo IBGE, o destaque foi a indústria, que passou de uma queda de 13% no segundo trimestre para uma alta de 14,8% no terceiro. O setor de serviços, passou de queda de 9,4% para alta de 6,3%, e o setor agropecuário ficou praticamente estável nos dois trimestres, com queda de 0,2% no segundo e de 0,5% no terceiro.

"A indústria de transformação, atividade econômica que adiciona valor para o PIB de forma relevante, apresentou crescimento superior a 23%; e os serviços, em que todos os setores apresentaram elevação no nível de atividade, cuja importância está fundamentada no fluxo de consumo e da renda, bem como da geração de empregos", diz o economista Allisson Martins, coordenador do Curso de Economia da Unifor. "Para nós economistas, sobretudo para o Ceará, são atividades que catalisam a dinâmica econômica".

Para os próximos meses, Martins diz que ainda há incertezas sobre os impactos do fim do auxílio emergencial e sobre o andamento das reformas, mas destaca que o turismo, por exemplo, poderá acelerar o crescimento econômico já no primeiro trimestre de 2021.

No setor de serviços, todos os segmentos cresceram no terceiro trimestre. Entre eles, se destacam o comércio, que avançou 15,9%; transporte, armazenagem e correio, com 12,5%; e outras atividades de serviços, com 7,8%.

Indústria

Entre as atividades industriais, o destaque ficou com a indústria de transformação, que cresceu 23,7% no trimestre. Também houve aumento para os ramos de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (8,5%); construção (5,6%); e indústrias extrativas (2,5%). "Esses resultados mostram uma consolidação da retomada econômica", diz Heitor Studart, presidente do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). "A indústria vem com uma demanda superaquecida, com pedidos contratados até julho de 2021".

Studart diz, que para o próximo ano, a indústria espera um fluxo de recursos para a infraestrutura, impulsionado sobretudo pelo setor logístico e de saneamento. "O índice de confiança está alto, temos mudanças para o setor de cabotagem, com a 'BR do Mar', o setor ferroviário terá um novo marco legal, temos o novo marco do saneamento. Tudo isso impulsionará o PIB e o Brasil abrirá muitas possibilidades para atrair investimentos internos e externos. Hoje, as perspectivas são as melhores possíveis", diz. A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2020 foi de 16,2% do PIB contra 16,3% no mesmo período do ano anterior.

Impacto dos auxílios

Em valores correntes, o PIB do terceiro trimestre de 2020 totalizou R$ 1,891 trilhão, sendo R$ 1,627 trilhão em Valor Adicionado (VA) a preços básicos e R$ 264,1 bilhões em impostos sobre produtos líquidos de subsídios. A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2020 foi de 16,2% do PIB, ficando praticamente estável em relação à observada no mesmo período de 2019 (16,3%).

Para o economista Lauro Chaves, conselheiro federal de economia e professor da Uece, o comportamento da atividade nos próximos meses dependerá também da situação fiscal do governo, que foi fragilizada devido à política de auxílios. Chaves diz ainda que, se por um lado os auxílios contribuíram para amenizar a retração da atividade econômica, por outro, deixou o governo com pouca margem para realizar investimentos.

"Temos algumas grandes questões a serem resolvidas para melhorar o cenário para os próximos anos. Nós devemos fechar o ano com algo entre 97% e 100% de dívida em relação ao PIB. Com um déficit primário de R$ 800 bilhões. E isso limita muito o investimento público", diz Chaves. "É preciso considerar que muito dessa retomada se deve tanto à rede de proteção criada durante a pandemia, com o auxílio emergencial, que beneficiou cerca de 68 milhões de brasileiros e com as linhas de crédito para pequenas e micro empresas. Isso teve um impacto fiscal gigantesco, mas evitou uma queda maior do PIB".

Exportações

As exportações diminuíram 2,1% no terceiro trimestre de 2020 em relação ao segundo trimestre de 2020, segundo o IBGE. Na comparação com o terceiro trimestre de 2019, as exportações registraram queda de 1,1%. Já as importações contabilizadas no PIB caíram 9,6% na passagem do segundo para o terceiro trimestre de 2020. Na comparação com o terceiro trimestre de 2019, as importações mostraram queda de 25%.

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