Agro dispara no Ceará e indústria se destaca: por que PIB estadual é mais que o dobro do brasileiro?
Números divulgados pelo governador indicam que setores produtivos cearenses apresentaram salto positivo no segundo trimestre de 2024
Com alta de 32%, o agro cearense foi o principal responsável por alavancar o Produto Interno Bruto do Estado (PIB) no Estado. Na esteira desse crescimento, a indústria, que sofreu forte baque em 2023, também se reergueu este ano, contribuindo com o cenário positivo.
Mais informações setoriais serão divulgadas na tarde desta quinta-feira (25), mas os dados apresentados já ajudam os economistas a entender os motivos pelos quais a economia do Ceará se destacou em relação ao restante do País.
Conforme anunciado pelo governador Elmano de Freitas (PT), a soma de todos os bens e serviços produzidos cresceu 7,2% no segundo trimestre de 2024, na comparação com igual período do ano passado. O percentual é mais do que o dobro do crescimento brasileiro para o período, que foi de 3,3%. Além disso, é o maior resultado entre os sete estados pesquisados, acima, inclusive, de São Paulo.
Veja também
Veja abaixo o ranking do PIB dos estados (2º tri)
1) Ceará: 7,2%
2) São Paulo: 4,5%
3) Pernambuco: 4,1%
4) Paraná: 2,89%
5) Espírito Santo: 2,8%
6) Bahia: 2,2%
7) Minas Gerais: 1,2%
Na agropecuária, as condições climáticas favoreceram as safras de milho e feijão. Puxada pelos setores têxtil e calçadista, a indústria registrou aumento de 9,9%, enquanto o setor de serviços avançou 4,4%.
Por que o Ceará tem o PIB maior do que outros estados e do Brasil
Para o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, o crescimento de mais de 7% do PIB cearense comprova a ambiência de negócios consolidada no Estado.
“Já estávamos observando uma forte recuperação do segmento de serviços e de comércio, junto ao setor industrial, demonstrando que os investimentos e a estruturação da economia cearense, em ciclos anteriores, estão trazendo resultado”, aponta.
A análise dele é de que o PIB segue em tendência de alta, sobretudo diante de novos investimentos em energias renováveis, como o Hidrogênio Verde (H₂V). "Essa macrodinâmica de crescimento e de fortalecimento do crescimento da economia cearense pode se solidificar ainda mais, ao longo dos próximos anos", projetou.
O professor do Programa de Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará (UFC), João Mário França, também frisa o bom resultado do setor de serviços, que cresceu 4,4% no 2º trimestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2023. Boa parte desse indicador é, segundo ele, puxado pelo comércio.
Além disso, destaco o bom desempenho das vendas do comércio varejista no segundo trimestre desse ano e o aumento dos investimentos feitos pelo governo estadual, que no terceiro bimestre desse ano cresceram quase 30% em relação a igual período do ano passado.
"No acumulado do primeiro semestre de 2024, o volume de investimentos mostra um crescimento de aproximadamente 70% em relação ao primeiro semestre de 2023. A conjuntura da economia cearense apresenta para o ano de 2024 uma tendência de seguir o ciclo econômico de 2023 com o setor de serviços (que tem um peso muito alto no PIB cearense) puxando esse movimento", completa.
O que dizem os setores produtivos?
O gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Guilherme Muchale, diz que o resultado expressivo do PIB cearense tem ligação estreita com as políticas econômicas do Brasil dos últimos dois anos.
"Esse dinamismo é impulsionado pelo aumento da confiança dos empresários e pela redução da taxa de juros real, que têm influenciado positivamente o crescimento do consumo e dos investimentos. A indústria cearense foi a segunda com maior crescimento na produção física, de acordo com o IBGE, durante o primeiro semestre, o que gerou um impacto positivo também no mercado de trabalho, com a criação de mais de 30 mil empregos formais no estado, dos quais 11 mil foram na indústria", avalia.
Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), ressalta a importância do segmento para a alta do PIB, principalmente na comercialização de imóveis "de interesse social, alto padrão e segunda moradia" em todo o Estado. Conforme divulgado ainda em setembro, Fortaleza é a principal capital do Nordeste na venda de imóveis residenciais novos.
"O desempenho da construção civil tem sido fundamental para esse avanço, e pensamos que, com a continuidade dos investimentos em habitação, o setor terá uma contribuição ainda maior nos próximos trimestres", reflete.
Os setores produtivos, assim como especialistas, esperam que o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) revise para cima a previsão do PIB cearense em 2024. No último levantamento divulgado, em junho deste ano, o órgão projetava um crescimento no Produto Interno Bruto estadual de 3,16%.
A reportagem procurou a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec) e a Federação da Câmara de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL Ceará) para comentar os resultados.
A primeira informou que iria comentar o assunto somente nesta quinta-feira, quando serão detalhados os números do segundo trimestre de 2024 do PIB pelo Ipece. Por meio da assessoria de imprensa, a segunda limitou-se a informar que estão finalizando os estudos sobre o Radar do Varejo e não poderiam responder aos questionamentos.