Beyoncé estreia turnê de Cowboy Carter com funk carioca e participação das filhas; veja análise
Em quase três horas de show e 42 músicas, a cantora passeou por hits do novo álbum, além de faixas já consagradas de outras eras
"Eu não sou uma cantora comum, agora venham pegar tudo o que vieram buscar", diz Beyoncé em trecho da música Spaghettii. A frase arrebatadora do hit com batidas de funk carioca comprova, mais uma vez, a grandiosidade da cantora estadunidense, que lançou a turnê do álbum vencedor do Grammy, Cowboy Carter, na noite de segunda-feira (28) no estádio SoFi em Los Angeles, na Califórnia.
Sob o olhar de mais de 60 mil fãs na plateia, entre eles diversos brasileiros que viajaram horas só para testemunhar de perto o espetáculo, a artista concretiza a era country, mas deixa claro o recado: "Essa não é uma turnê de country, é uma turnê de Beyoncé".
E quando se trata de Queen B, as expectativas são realmente altas devido ao histórico de sucessivas turnês icônicas na indústria pop, a destacar a última, Renaissance World Tour, sucesso mundial em 2023. Mas, dessa vez, a atmosfera é diferente.
Em quase três horas de show e 42 músicas, Beyoncé passeou por hits do novo álbum como "Texas Hold' em", "Tyrant", "16 Carriages" e "Jolene", além de faixas já consagradas de outras eras como "Diva", "Freedom", "Why Don't You Love Me", "Formation", "Cuff It" e "Heated". (Confira toda a setlist abaixo)
Veja também
Batidão de funk carioca
Apesar de não ser “apenas uma turnê de country”, Beyoncé mistura elementos inéditos em sua carreira até então.
Entre os destaques do show que foi o pontapé da turnê de Cowboy Carter, estão um batidão de funk carioca com letra em português enquanto Bey e os dançarinos performavam uma fusão perfeita com a música Spaghettii. A faixa chama-se “Essa tá quente”, do DJ brasileiro Mimo Prod. Vale lembrar que a própria Spaghettii é um sample do também brasileiro DJ O Mandrake.
Toda essa brasilidade envolveu o público e, mais uma vez, Beyoncé colocou o ritmo do Brasil em uma vitrine mundial da música.
Veja vídeo
Participação das filhas Rumi e Blue Ivy
A primogênita Blue Ivy já vem surpreendendo o público e provando que o talento para a arte está mesmo no DNA. Além de ser a segunda pessoa mais jovem do mundo a vencer um Grammy, pela participação na música "Brown Skin Girl" com a mãe, Blue também vem evoluindo suas habilidades para a dança.
Embora tenha começado tímida nos primeiros shows da turnê de Renaissance, a adolescente de 13 anos surgiu muito mais segura e dominando o palco nesta segunda (28).
A primeira aparição de Blue na noite aconteceu em “America Has a Problem”, e o que já tinha levado o público à loucura ficou ainda melhor. A primogênita deu um show no “catwalking” durante performance de “Déjà Vu”, hit atemporal de Beyoncé e Jay-Z. Nesse momento, ela reiterou para o mundo de quem é filha e também se apropriou como artista.
O ápice do show aconteceu durante “Protector”, faixa que tem participação da caçula de Bey, a Rumi. Enquanto cantava o trecho da música “nasci para ser a protetora, mesmo que eu saiba que um dia você vai brilhar por contra própria”, sob lágrimas, Beyoncé recebeu Rumi no palco.
Com toda simpatia, a pequena de 7 anos acenou várias vezes para o público e, sem seguir muito protocolo, abraçou a mãe, que não segurou a emoção, no meio da coreografia.
Megaestrutura com direito a carro 'voador' e touro mecânico
A estrutura dos shows de Queen B já é um espetáculo à parte e consegue deixar o público ainda mais envolvido e vidrado a cada segundo. Detalhista e extremamente perfeccionista, ela cria e preenche cada espaço no mínimo detalhe. Caminhões carregando toneladas de equipamentos e levando alta tecnologia para o palco já é de praxe para os padrões de Beyoncé.
Como de costume, a cantora entregou passarelas em todo o estádio para ficar mais pertinho do público em diferentes ângulos e momentos do show.
Dessa vez, ela escolheu uma estrutura semelhante ao desenho de uma guitarra, que se liga a um triângulo no palco principal. Um telão gigante faz a transmissão das centenas de câmeras que acompanham a artista durante todo o espetáculo, além de exibir os famosos interludes, parte complementar do show que dá sentido a todo o conceito da turnê.
Um dos pontos altos da noite foi a presença de um touro mecânico dourado, em que Bey se equilibrava enquanto soltava os vocais poderosos em “Tyrant”.
A despedida do show também proporcionou um momento único para o público: a estrela surgiu portando a bandeira dos Estados Unidos em um carro “voador” sustentado por ganchos, enquanto sobrevoava a plateia cantando "16 Carriages".
Um vestido de alta tecnologia de led que mudava de cor também mereceu destaque na noite. Na performance de “Daughter”, durante os vocais de ópera italiana, os fãs foram surpreendidos com o visual que trouxe diferentes estampas digitais, uma delas com referência à bandeira estadunidense.
Veja looks da Cowboy Carter Tuor
Impacto cultural
Esse também é o momento em que a indústria pop para assistir ao que Queen B tem a mostrar. O fato é que ela abre portas e acaba ditando os próximos passos da própria indústria.
Sempre inovadora e estratégica, Beyoncé não entrega para os fãs apenas o entretenimento por si só, com músicas coreografadas, figurinos de grife e estrutura megatecnológica. Ela deixa reflexões para o público e traz luz para temas relevantes como racismo, violência de gênero, discursos de ódio, liberdade de expressão, machismo, boicotes e ataques nas redes sociais. Isso também é viver a experiência Beyoncé.
A melhor resposta à sua exclusão da premiação da Country Music Association no passado foi a consagração de Cowboy Carter como álbum do ano no Grammy 2025. Em uma indústria country dominada por pessoas brancas que a negaram, ela reverencia seus antepassados negros que deram origem ao gênero e toma o espaço que é seu por direito.
A arte que ela vem trabalhando há anos está além desse tempo, apesar de que viver na mesma época que ela é um baita presente. A preocupação dela é que o seu legado perpetue na música, embora faça movimentos que, para muitos, vão na contramão da indústria. O próprio álbum Cowboy Carter é prova cabal disso.
O Spotify divulgou que Beyoncé fez com que mais de 36 milhões de usuários ouvissem música country pela primeira vez na plataforma em 2024. Ela foi muito artista ao sair da caixinha do pop e proporcionar essas novas sensações aos fãs. O impacto cultural é imensurável.
Veja setlist completa
- AMERIICAN REQUIEM
- BLACKBIIRD
- THE STAR-SPANGLED BANNER
- FREEDOM
- YA YA
- WHY DON'T YOU LOVE ME
- AMERICA HAS A PROBLEM
- SPAGUETTII
- FORMATION
- MY HOUSE
- DIVA
- ALLIGATOR TEARS
- JUST FOR FUN
- PROTECTOR
- FLAMENCO
- DESERT EAGLE
- RIIVERDANCE
- II HANDS II HEAVEN
- SWEET HONEY
- PURE/HONEY
- SUMMER RENAISSANCE
- BUCKIN'
- JOLENE
- DADDY LESSONS
- BODYGUARD
- II MOST WANTED
- CUFF IT
- DANCE FOR YOU
- TYRANT
- THIQUE
- ALL UP IN YOUR MIND
- LEVII'S JEANS
- DAUGHTER
- I'M THAT GIRL
- COZY
- ALIEN SUPERSTAR
- TEXAS HOLD 'EM
- CRAZY IN LOVE
- HEATED
- BEFORE I LET YOU GO
- 16 CARRIAGES
- AMEN
Mais sobre a turnê
A “Cowboy Carter Tour” contará com 32 show em arenas, com apresentações por nove cidades entre os Estados Unidos e a Europa.
Beyoncé iniciou a turnê em Los Angeles, com shows nos dias 28 de abril, 1º, 4, 7 e 9 de maio, no SoFi Stadium. Ela segue para a cidade de Chicago, nos dias 15, 17 e 18 de maio, no Soldier Field, e em New Jersey, nos dias 22, 24, 25, 28 e 29 de maio, no MetLife Stadium.
Já etapa na Europa inicia em Londres, com espetáculos nos dias 5, 7, 10, 12, 14 e 16 de junho, no Tottenham Hotspur Stadium. Depois, é a vez de Paris, com shows nos dias 19, 21 e 22 de junho, no Stade de France.
A artista volta aos Estados Unidos para seguir com a turnê no país de origem. Houston, cidade natal de Bey, a recebe nos dias 28 e 29 de junho, no NRG Stadium. Depois, tem Washington, D.C., em 4 e 7 de julho, no Northwest Stadium, e Atlanta, nos dias 10, 11, 13 e 14 de julho, no Mercedes-Benz Stadium.
O encerramento da turnê ocorre em Las Vegas, com apresentações marcadas para os dias 25 e 26 de julho, no Allegiant Stadium.
Beyoncé no Brasil
Apesar das especulações iniciais, a cantora não trouxe a turnê para solo brasileiro mais uma vez.
O Brasil também ficou de fora da ‘Renaissance World Tour’. Beyoncé, no entanto, surgiu de surpresa na Bahia em dezembro de 2023, em um evento promovido por sua produtora em que reuniu fãs para assistir ao filme da turnê. Embora a passagem tenha sido rápida, a artista destacou o carinho do público brasileiro e um dos seus fãs-clubes mais engajados no mundo.
Beyoncé pisou no Brasil pela primeira vez em 2010, trazendo a turnê “I Am… World Tour”. Ela voltou em 2013 para a sua “The Mrs. Carter Show World Tour” com passagens por cidades como Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.