Veja quais bairros de Fortaleza mais ganharam e perderam moradores entre os últimos Censos do IBGE

Mudanças na configuração espacial ajudam a orientar investimentos e a presença de serviços públicos nos territórios

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Barra do Ceará teve redução de moradores, mas se mantém na segunda colocação
Foto: Nilton Alves

Desde o ano passado, o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vem revelando diversas mudanças no perfil da população cearense, como aumento de autodeclarações de pretos, pardos e indígenas e maior proporção de idosos. Além disso, a pesquisa também indica alterações na quantidade de habitantes por bairros em Fortaleza: ao todo, 40 territórios ganharam moradores e 81 tiveram diminuição.

Para chegar ao levantamento, o Diário do Nordeste cruzou projeções do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan Fortaleza), cuja proposta é desenhar políticas baseadas em evidências, com dados dos Censos Demográficos de 2010 e 2022.

A primeira grande mudança foi o surgimento de dois bairros. Em 2010, a capital contava com 119 territórios. Porém, em 2019, foi oficializada a inclusão do Aracapé e do Novo Mondubim na lista, levando aos atuais 121. Logo, esses dois locais estão entre os que mais “ganharam” habitantes na comparação, com 18.943 e 18.537, respectivamente.

As 10 localidades que registraram maior incremento estão localizadas na periferia. Veja a quantidade de novos moradores:

  • Jangurussu: +20.172
  • Prefeito José Walter: +20.028
  • Aracapé: +18.943
  • Novo Mondubim: +18.537
  • Pedras: +15.759
  • Manuel Dias Branco: +14.626
  • Siqueira: +11.866
  • Paupina: +11.781
  • Granja Lisboa: +11.378
  • Dendê (hoje Rachel de Queiroz): +7.801

Por outro lado, os bairros vizinhos ao Aracapé e ao Novo Mondubim foram os que mais “perderam” moradores, dada a reconfiguração espacial na região. O Mondubim “perdeu” 13,6 mil habitantes, só não mais que a Vila Manuel Sátiro (-30,1 mil). Além deles, as maiores baixas ocorreram nos bairros:

  • Barra do Ceará: -8.946
  • Vila Velha: -8.736
  • Conjunto Palmeiras: -8.376
  • Bonsucesso: -5.432
  • Carlito Pamplona: -5.403
  • Genibaú: -4.901
  • Quintino Cunha: -4.796
  • Floresta: -4.533

Embora tenha perdido cerca de 12% da população em relação a 2010, a Barra do Ceará manteve sua colocação como o segundo bairro mais populoso da cidade, com 63,5 mil moradores.

Confira, abaixo, a situação de cada território:

Para Lilian Lopes Ribeiro, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), o fator econômico explica boa parte das migrações internas que ocorrem no Brasil. "A renda domiciliar per capita no Ceará esteve entre as mais baixas do Brasil em 2023. E isso pode explicar, em parte, o fluxo migratório interno em Fortaleza ter ocorrido especialmente em direção a bairros da periferia", avalia.

Em relação ao uso dos dados, ela lembra que o investimento em educação de qualidade desde a primeira infância é imprescindível para o aumento da mobilidade intergeracional e, consequentemente, melhorar indicadores de desigualdade de renda. No curto e médio prazo, ela sugere a adoção de diversas frentes, como o fortalecimento de políticas de geração de trabalho e renda.

Sabemos que boa parte das pessoas que vivem nas periferias empreendem muitas vezes não por vontade, mas devido à falta de oportunidade no mercado de trabalho formal. Uma política de microcrédito que exija como contrapartida a capacitação do tomador de empréstimo aumentaria as chances do microempreendimento prosperar, ao mesmo tempo em que garantiria uma maior eficácia dessa política.
Lilian Lopes
Pesquisadora e professora da UFC

Legenda: Na última década, o Jangurussu tornou-se o bairro mais populoso da cidade
Foto: Thiago Gadelha

Reduzir desigualdades

Assim como a pesquisadora, a arquiteta e urbanista e presidenta do Ipplan Fortaleza, Larissa Menescal, considera os dados como “fundamentais” para analisar e entender as dinâmicas populacionais e direcionar a aplicação de recursos públicos em áreas prioritárias.

“De fato, consolidando os bairros mais populosos, especialmente na zona periférica, no oeste e no sul. E a gente vem investindo muito nas áreas mais periféricas. Desde 2016, quando o plano Fortaleza 2040 foi entregue, o foco do planejamento estratégico nunca mais deixou de ser a redução de desigualdades”, pondera.

Com isso, ela pensa ser “natural que a qualidade de vida dos bairros mais periféricos tenha melhorado porque o montante de investimentos, recursos e projetos das mais diversas naturezas, desde educação, empreendedorismo, infraestrutura e capacitação, foram muito focados em dados e evidências”. 

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Entre as ações já realizadas, ela cita a construção de mais escolas de tempo integral, implantação de novos Cucas e microparques, expansão da malha cicloviária, requalificação de ruas, abertura de cursos de empreendedorismo e capacitação profissional e benefícios fiscais para que empresas se instalem nessas áreas.

“Nossa expectativa é coletar frutos positivos desses investimentos já feitos. É uma base econômica que se fortalece e pode dinamizar um setor que não era priorizado”, afirma Menescal. 

Em breve, explica ela, o Instituto também deve atualizar o Índice de Desenvolvimento Humano por bairro (IDH-B), que leva em conta dados de renda, longevidade e alfabetização.

Bairros mais populosos

A projeção do Ipplan também identifica os bairros com mais moradores na capital, indicando mudanças no ranking. O Jangurussu teve movimentação recorde e ganhou mais de 20 mil habitantes no mesmo intervalo, assumindo a liderança como bairro mais populoso da capital - em 2010, ele era o 6º, com pouco mais de 50 mil pessoas. 

O Mondubim, que encabeçava os demais em 2010, passou pelo processo de desmembramento e agora aparece em 3º. Já o José Walter, segundo que mais cresceu, passou da 22ª para a 7ª colocação na cidade. A Aldeota, único representante da “área nobre” em 2010, saiu da lista e agora está em 12º lugar.

  • Jangurussu: 70.651
  • Barra do Ceará: 63.477
  • Granja Lisboa: 63.420
  • Mondubim: 62.440
  • Passaré: 54.870
  • Prefeito José Walter: 53.455
  • Vila Velha: 52.881
  • Vicente Pinzón: 46.151
  • Siqueira: 45.494

Legenda: Parque Araxá entrou na lista dos 10 bairros com menos habitantes
Foto: JL Rosa

Bairros menos populosos

A lista dos 10 bairros com menos habitantes também mudou. Pedras deixou de ser o local menos populoso, cedendo o posto para o De Lourdes. Com a migração de moradores, Parque Araxá, Parque Manibura, Bom Futuro e Praia do Futuro I passaram a constar na lista. Por outro lado, além do Pedras, Dendê, Guararapes e Manuel Dias Branco (antigo Dunas) também deixaram a "lanterna".

  • Parque Araxá: 6.100
  • Parque Manibura: 5.938
  • Bom Futuro: 5.260
  • Salinas: 4.837
  • Couto Fernandes: 4.645
  • Praia do Futuro I: 4.329
  • Sabiaguaba: 3.485
  • Praia de Iracema: 3.033
  • Moura Brasil: 3.029
  • De Lourdes: 2.310

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