Conheça o projeto 'Terra de Sabidos' do Diário do Nordeste e relembre as histórias já reveladas
Especial jornalístico que discute a valorização da educação pública lança sua 4ª edição neste

Um aluno, morador da zona rural da Região Metropolitana de Fortaleza, ciente das demandas que cercam sua realidade, cria um protótipo de robô semeador para otimizar o trabalho dos agricultores. A ideia é reconhecida nacionalmente. Outro, no interior do Ceará, desenvolve como garrafas pets formas alternativas de bombas de irrigação e também é premiado.
Em uma terceira situação, uma escola de tempo integral com os alunos mais pobres no Ceará em termos proporcionais, alcança, em duas edições seguidas, notas acima do esperado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mede a qualidade educacional no país. Feitos em distintas regiões do Ceará, com um elo incomum: todos são referentes a escolas públicas.
São histórias como essas, protagonizadas por estudantes e professores anônimos moradores das mais distintas áreas das 14 regiões de planejamento do Ceará, que o Diário do Nordeste tem registrado e contado desde 2022 no projeto de reportagens especiais “Terra de Sabidos”, com publicações multimídia no site e nas redes sociais do jornal. Em 2025, a iniciativa jornalística chega à quarta edição, desta vez com o foco no acesso de egressos de escolas públicas à universidade.
No Ceará, em 2024 - dados mais atualizados disponíveis - 2.132.934 alunos estavam matriculados em alguma etapa da educação básica (na educação infantil, no ensino fundamental ou médio), conforme aponta o Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). E as redes públicas têm um papel preponderante nessa proporção.
Do total de 2,1 milhões de estudantes, 80% estão em escolas públicas. No ensino fundamental - que vai do 1º ao 9º ano - do contingente de 1.130.425 alunos, 79% estão nas redes públicas municipais, sob a responsabilidade das prefeituras. Já no ensino médio, o peso da rede pública é ainda maior com a concentração de 91,4% dos alunos matriculados nesta etapa. Em Fortaleza, em 2024, dos 293 mil alunos no ensino fundamental, 59,2% estavam em escolas da rede municipal.
O contingente é significativo e, por isso, olhar para as experiências vivenciadas por esses alunos em realidades extremamente diversas é tão relevante. Contar suas histórias, reforçando também quem os rodeia e quem faz parte de suas trajetórias escolares, é também discutir impulsos para a valorização do ensino público no País.
Por que destacar a educação?
Ainda que siga com grandes desafios, como as questões estruturais das escolas, as condições socioeconômicas, os dilemas de permanência e a garantia de qualidade, a educação pública do Ceará tem melhorado. Reconhecimentos nacionais - a partir de indicadores como o próprio Ideb - que mede a qualidade educacional no país a partir de dois fatores: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações - apontam que o Estado, apesar dos gargalos, apresenta avanços no campo educacional e se firma como referência na educação básica.
No projeto “Terra de Sabidos” as histórias de quem dá rosto, nome e forma a essa educação no dia a dia ganham destaque. Nas quatro edições, 17 cidades do Ceará foram percorridas e trajetórias de alunos, professores, gestores e egressos da rede pública tiveram protagonismo. O projeto - que visa mostrar a relevância e dar visibilidade à educação cearense - é uma das bandeiras institucionais do Sistema Verdes Mares.
O especial narra em formato jornalístico percursos e experiências de alunos e egressos tanto a área urbana, quanto rural, de escolas regulares, mas também de tempo integral, profissionalizantes, indígenas e do campo, de modo a destacar quão desafiantes e transformadoras são essas vivências, e como incentivos, políticas, esforços e ações práticas contribuem para alterar rotas e construir futuros.
O material é idealizado e editado pela jornalista Dahiana Araújo e tem a coordenação da jornalista Karine Zaranza. Todas as edições foram produzidas e escritas pela repórter Thatiany Nascimento. No decorrer das edições, as fotos foram feitas pelos fotógrafos Fabiane de Paula, Thiago Gadelha, Ismael Soares e Davi Rocha.
Confira algumas histórias já contadas no Terra de Sabidos
Lançado em 2022, o Terra de Sabidos já teve como foco estudantes da rede municipal de Fortaleza e estadual do Ceará que foram premiados em competições escolares e feiras científicas; abordou o impacto das escolas de tempo integral, o que resultou na do terceiro lugar na categoria Jornalismo Impresso e Digital na 17ª edição do Prêmio Gandhi de Comunicação 2024, e destacou história de ex-alunos que, após terminarem o ensino médio e acessarem à universidade retornaram às suas localidades para desenvolver iniciativas de impacto social. (veja abaixo)
Na primeira edição, dentre outras histórias, Tiago Marques de Melo, 13 anos, aluno da rede pública de Fortaleza que ganhou ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) 2022 em sua primeira participação, contou como a conquista ressignificou sua percepção da educação. Já Maria Isabel Silvestre Santos, 15, do Mucuripe, que conquistou medalha de prata em 2020 e de ouro em 2022, também na OBA, relatou com o engajamento mudou sua forma de ver a escola pública e também relevou o trabalho de criar playlists de vídeo-aulas para estudar e auxiliar outros alunos.
Também nessa edição teve destaque a estudante Vitória Emanuelly Lopes Bandeira, 17, filha de agricultor e moradora da cidade de Iracema, que pesquisou a Covid-19 utilizando biologia computacional para encontrar microRNAs que inibissem o coronavírus. Mesmo com dificuldades, ela conquistou múltiplas premiações em feiras de ciências
Na segunda edição, a experiência da Escola Profissionalizante Raimundo Célio Rodrigues, em Pacatuba, de implementar os projetos "Padrinhos da Matemática" e "Padrinhos do Enem" para apoiar os alunos foi abordada. A escola possui o melhor Ideb da Região Metropolitana (6,4 em 2021), e as iniciativas visam recuperar a aprendizagem e estimular o acesso à universidade.
Ainda como destaque do efeito das escolas de tempo integral, o Diário do Nordeste mostrou as alunas Lauanda Vitoriano e Kalyne Falcão, de Pedra Branca, que desenvolveram um filtro ecológico de baixo custo usando carvão ativado de jurema preta para transformar água turva em potável. O projeto foi premiado com o 1º lugar na Febrace 2023 e foi reconhecido também na maior feira de ciências do mundo para o público pré-universitário.
Também nessa edição teve repercussão as histórias de ex-alunos dessa modalidade de ensino que se formaram e voltaram como professores às escolas onde estudaram. As trajetórias de Fernanda Laís Bastos (Itapajé), Rydleily Albuquerque (Aurora) e Renato Moreira (Pedra Branca), exemplificam como a educação pública transforma vidas e forma profissionais que contribuem para suas comunidades.
Na terceira edição, Maria José Moura "Mazé", egressa da rede pública de Canindé, mostrou como criou o projeto de turismo de aventura em um assentamento rural da cidade para gerar renda para as famílias agricultoras, oferecendo a prática de trilhas e refeições com produtos locais.
Também foi abordada a iniciativa de Iana Maria Alves, psicóloga e egressa da rede pública de Fortaleza que atua voluntariamente em um projeto da Universidade Estadual do Ceará (Uece) oferecendo apoio psicológico a adolescentes de escolas públicas em áreas periféricas.
A criação de um catálogo para preservar a memória de seu território também foi destaque no Terra de Sabidos. O material retratou a história de Sara Mércia, aluna indígena Pitaguary de Pacatuba, que produziu um compilados de saberes medicinais de idosas indígenas, as "troncos velhos" para preservar o conhecimento ancestral, ameaçado de esquecimento, e valorizar a cultura do seu povo.