Os millennials ainda podem sonhar com a casa própria?

Moradia é um direito básico, mas empregos precários e instabilidade financeira afastam gerações mais novas do mercado imobiliário

Escrito por
Beatriz Jucá producaodiario@svm.com.br
Legenda: No Brasil, uma em cada cinco pessoas mora em casas ou apartamentos alugados, segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
Foto: Pexels

Imagine um típico millennial — como é chamada a geração que hoje tem entre 26 e 40 anos. Alguém que, pelo menos na classe média, cresceu ouvindo que bastava estudar e ser bom para prosperar na profissão e ter estabilidade financeira, que deveria escolher o caminho que lhe desse prazer. Alguém que não pensou duas vezes antes de deixar trabalhos e usar as economias em vivências. Faça o que gosta. Viaje. Estude. Viva. Não, espera. Corta para 2025. Que aluguel exorbitante é este?

No Brasil, uma em cada cinco pessoas mora em casas ou apartamentos alugados, segundo o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É a maior proporção desde os anos 1980. Entre as pessoas de 25 a 29 anos, a proporção é maior: 30,3% vivem em imóveis alugados. Uma simples busca pelos vários aplicativos que conectam imobiliárias e inquilinos mostra uma crescente de valores para imóveis cada vez menores em muitas capitais brasileiras, de Fortaleza a São Paulo.

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Os chamados apartamentos turísticos, alugados por curtas ou curtíssimas temporadas são outro fator que impulsiona os altos preços. O problema é global. Na Espanha, por exemplo, são constantes as manifestações contra a gentrificação e os valores exorbitantes dos aluguéis. No Brasil, vemos agora mesmo o curioso caso das hospedagens em Belém, cujas cobranças chegam a cifras milionárias. Tudo num mercado muito particular, cujos valores crescem a galope.

Mas voltemos aos millenials de classe média, essa geração que viu o mundo da meritocracia ruir. É possível ainda sonhar com a casa própria? Uma pesquisa publicada em julho na revista International Journal of Urban and Regional Research  aponta que a compra de um imóvel se tornou uma possibilidade mais remota para as gerações mais novas, como os millennials e a geração Z.

O cenário prático é adverso, como mostra o Nexo em uma reportagem sobre o sonho da casa própria para diferentes gerações. Os millennials vivem uma realidade de empregos precários, com ampla pejotização. Em Fortaleza, são eles a geração mais endividada. Enquanto enfrentam instabilidade financeira, vêem o mercado imobiliário parecer cada vez mais distante. Para se ter uma ideia, apenas 16% dos compradores de imóveis em 2023 eram millennials.

O poder público tem feito mudanças para tentar encurtar o caminho, como por exemplo a ampliação da faixa para programas como o Minha Casa Minha Vida, mas mesmo assim o sonho da casa própria parece tão distante quanto a estabilidade financeira.

Há quem insista que é escolha de uma geração que cresceu incentivada a valorizar as vivências. Não acho que seja. A pergunta é: ainda dá tempo? Os millennials ainda podem sonhar com a casa própria?

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.