Estamos dispostos a deixar que chatbots mediem nossa forma de ler o mundo?
Redes sociais deixaram de ser um lugar para se conectar aos amigos para virar fonte de informação
Novas gerações já usam redes sociais como TikTok como fonte de informação enquanto o Google aposta nos práticos resumos feitos pela Inteligência Artificial em detrimento da distribuição de notícias
Pode parecer muito prático. Queremos uma informação, colocamos na busca do Google e… voilà! Um resumo nos promete as principais informações sobre aquele assunto.
Tudo em poucas linhas, rápido como quase tudo nestes nossos tempos. É assim desde 2024, quando o Google lançou seu AI Overviews, uma inteligência artificial (IA) que cria esses resumos em vez de direcionar os usuários a sites e veículos de comunicação.
Desde então, sites de notícias têm visto seus acessos caírem vertiginosamente enquanto a maioria de nós, usuários, consumimos resumos enquanto rolamos os scrolls infinitos das redes sociais.
Quem é da geração Z e nunca pesquisou algo no TikTok que atire a primeira pedra. As buscas por resumos podem parecer tentadoras até para os millennials que tiveram uma infância de pesquisas ainda nas bibliotecas.
Tudo é muito rápido e talvez pouco pensemos sobre isso. Na esteira das mudanças de algoritmos e crescimento da IA, vimos muitos veículos fecharem as atividades. Quem lembra do Buzzfeed e da Vice?
Vimos as redes sociais trocarem a cronologia para priorizar conteúdos com interações. Se o terreno da internet parecia democrático, passamos a assistir o crescimento do discurso de ódio e do autoritarismo.
E é neste limbo que estamos agora, com discursos fascistas ganhando espaço no mundo real e digital enquanto nos informamos por resumos de IA. Deixaremos mesmo que os robôs mediem nossa leitura de mundo?
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Não acho que a máquina possa substituir o jornalismo, mas fico pensando nos riscos e perigos da praticidade destes nossos tempos de pensamento acelerado. O ChatGPT já ultrapassou a Wikipédia. Atingiu 1 milhão de usuários em 5 dias e 100 milhões em dois meses.
Hoje, já são mais de 800 milhões de usuários. Usamos o aplicativo para tudo: de fazer trabalhos a terapia.
A geração Z já trocou as buscas no Google por buscas no TikTok, e as redes sociais deixaram de ser um lugar para se conectar aos amigos para virar fonte de informação.
Uma pesquisa da YPulse para o site Axios mostrou que apenas 46% das pessoas na faixa dos 18 a 24 anos iniciam suas buscas no Google, à medida que essa porcentagem aumenta para 58% entre aqueles com 25 a 39 anos.
O que nos reserva o futuro neste contexto? Ter informação, conhecer o outro e se sensibilizar com as questões sociais são importantes para manter sociedades democráticas. Empatia também vem da informação. Há quem diga que, no futuro, haverá criadores (jornalistas?) trabalhando para a IA.
Acredito que o Jornalismo só pode ser feito por gente. Ao exercício da profissão, é fundamental a capacidade de ter empatia e curiosidade para destrinchar os problemas da sociedade, olhando quem está na base da pirâmide do poder. Por isso mesmo é tão cara à atividade a liberdade de expressão.
Porque o Jornalismo perde a função se serve ao poder, se não está em favor da democracia. Nestes tempos de IA, estamos dispostos a deixar que chatbots mediem nossa forma de ler o mundo?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.