Quais os riscos da febre oropouche para gestantes? Público é prioritário na prevenção da doença

Tratamento da doença acontece de forma similar aos cuidados contra a dengue e pesquisadores monitoram o avanço do vírus

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Profissionais coletam mosquitos para investigação da doença
Foto: Sesa/Reprodução

Uma mulher de 40 anos teve a gestação interrompida na 34ª semana (mais de 8 meses) após o diagnóstico de febre oropouche em Capistrano, no Maciço de Baturité, na última sexta-feira (9). A situação dá destaque às gestantes como público que deve ter maior cuidado para evitar as possíveis consequências da doença.

As informações foram divulgadas durante o seminário “Febre do Oropouche: como enfrentar a arbovirose no Ceará”, realizado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), que reuniu profissionais da saúde de diversos municípios cearenses para debater o enfrentamento à doença.

O primeiro caso de óbito fetal foi registrado em Pernambuco, no dia 2 de agosto, com uma paciente de 28 anos que estava na 30ª semana de gravidez. Além disso, são analisados casos de transmissão vertical, ou seja, quando o vírus é transmitido da gestante para o feto.

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De acordo com a nota mais recente publicada pelo Ministério da Saúde, no início do mês, 8 casos de transmissão vertical de oropouche são investigados, sendo 4 casos em Pernambuco, 1 na Bahia e 3 no Acre. O caso do Ceará ainda não havia sido notificado.

Neste contexto, Antônio Silva Lima Neto, secretário executivo de Vigilância da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), frisa que “devemos ter um cuidado com grupo prioritário de risco que são as gestantes.”

Nos últimos 7 dias, inclusive, as buscas por “repelente para grávidas” cresceram 130% entre as buscas feitas por cearenses no Google. Mas o especialista frisa que ainda não há evidências sobre a eficácia do repelente contra o mosquito 

“O uso de repelentes não está classicamente recomendado, mas tanto a proteção física como o aconselhamento de uso de repelente são feitos. E (a orientação é) que as gestantes permaneçam em casa, não se desloquem para áreas onde se sabe da presença do mosquito”, acrescenta o médico.

Carlos Garcia, médico epidemiologista e orientador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis, reforça a análise do secretário sobre os cuidados com as gestantes.

“Se a gente elencar um público específico para termos mais cuidados são as gestantes pelo risco de transmissão vertical. Os outros perfis de pacientes ainda não conseguimos identificar o grupo de maior risco”

A doença é transmitida pelo mosquito Culicoides paraenses que é conhecido como maruim, mosquito-pólvora e polvinha, no Ceará. Os cuidados indicados para prevenção da febre oropouche são:

  • Evitar o contato com áreas de ocorrência e/ou minimizar a exposição às picadas dos vetores (mosquitos);
  • Usar roupas que cubram a maior parte do corpo, como mangas compridas, calças e sapatos fechados; 
  • Aplicar repelente nas áreas expostas da pele;
  • Limpar terrenos e locais de criação de animais;
  • Recolher folhas e frutos que caem no solo;
  • Usar telas de malha fina em portas e janelas.

Riscos da oropouche na gestação

Pernambuco registrou um caso confirmado de perda gestacional por oropouche e uma outra paciente está em análise da doença. Eduardo Bezerra, diretor geral de Vigilância Ambiental da Secretaria da Saúde de Pernambuco, presente no seminário cearense, considera a doença como nova.

“Não estava na nossa expectativa achar óbito fetal por oropouche, porque a literatura médica não descrevia, não tinha relato. Entretanto, quando surgiu o primeiro caso lá, uma gestante pegou a doença, perdeu o bebê e a gente resolveu coletar (amostra)”, descreve o diretor.

Fizemos toda a investigação com sangue do cordão umbilical, da placenta, do feto – com autorização da família – e o resultado mostrou que o feto tinha o oropouche e a gente comprovou o vínculo
Eduardo Bezerra
Diretor geral de Vigilância Ambiental de Pernambuco

Os casos observados no estado vizinho foram em pacientes entre 20 e 30 anos, no terço final da gestação. “O intervalo entre os sintomas da mãe ter adquirido o vírus e o óbito fetal é muito curto, de 5 ou 6 dias. É realmente um ataque fulminante”, ressalta.

O conhecimento inicial dos profissionais da saúde indica que o vírus age no cérebro e no fígado dos fetos.
“Estamos observando situações neurológicas, porque o vírus tem uma atração pelo sistema neurológico, e existe a possibilidade de ter alguma manifestação hepática e provoca uma cadeia de reações no organismo do feto”, aponta Eduardo.

Além da perda gestacional, o Ministério da Saúde registrou pelo menos 4 casos de anomalias congênitas, como a microcefalia.

“A gente já vem de um histórico do zika vírus, com as más formações, e é extremamente importante porque é um público sensível e a perda gestacional é de grande significado para as pessoas”, conclui.

Sintomas da febre oropouche

Os principais sintomas que têm sido relatados pelos pacientes cearenses com a oropouche são febre, dor de cabeça e dores no corpo, comuns a doenças como dengue e chikungunya. Confira o que aponta o Ministério da Saúde:

  • Febre de início súbito
  • Dor de cabeça
  • Dor muscular
  • Dor articular
  • Tontura
  • Dor atrás do olhos
  • Calafrios
  • Fotofobia (sensibilidade à luz)
  • Náuseas
  • Vômitos
  • Meningoencefalite (inflamação no sistema nervoso), em casos graves
  • Manifestações hemorrágicas, em casos graves.

Por causa da semelhança com outras arboviroses, as unidades de saúde realizam primeiro testes para essas doenças e, caso descartadas, investigam a presença do OROV. 

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