Projeto de teleférico quer ligar Beira-Mar a Morro Santa Terezinha; veja detalhes

Equipamento busca explorar potencial turístico e paisagístico da orla, além de aumentar movimento em point dos anos 1990

Escrito por
Nícolas Paulino nicolas.paulino@svm.com.br
A imagem mostra um teleférico passando sobre a Praia de Iracema, em Fortaleza, com vista para os prédios da orla. No canto inferior esquerdo está escrito “ESTAÇÃO NÁUTICO” e há logotipos da Prefeitura de Fortaleza.
Legenda: Ilustração de cabine passando sobre o espigão do Náutico, na Avenida Beira-Mar
Foto: Reprodução/LDBW

Um projeto arrojado visa a instalação de um teleférico entre a região da Avenida Beira-Mar e o Morro Santa Terezinha, na orla de Fortaleza. Ao todo, a conexão deve ter 5 km. 

As informações foram repassadas pelo arquiteto Luiz Deusdara na feira ExpoConstruir 2025, no Centro de Eventos do Ceará, em palestra realizada na tarde da última quinta-feira (21).

Segundo confirmou o profissional ao Diário do Nordeste, o projeto do Teleférico de Fortaleza já foi apresentado ao prefeito Evandro Leitão.

À reportagem, o próprio Evandro declarou que “estamos analisando e orçando”. “Depois, vamos dialogar com a população para, tendo recurso, implementar ou não esse projeto”. O gestor não deu previsão para isso.

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A ideia é que os cabos sejam ligados a postes nas pontas dos molhes, como também são conhecidos os espigões. Ao todo, estão previstas as estações Iracema, Aterro, Náutico e Mucuripe, além do próprio Morro.

Durante a apresentação, Deusdara exibiu uma prévia do teleférico. Em uma animação, pessoas estavam dentro de uma cabine puxada por cabos passando sobre a orla iluminada da capital.

Imagem mostra o teleférico da orla de Fortaleza em funcionamento à noite, com a cabine passando sobre a praia iluminada. No canto inferior está escrito “ESTAÇÃO MUCURIPE”, junto ao logotipo da Prefeitura de Fortaleza.
Legenda: Projeção da estação Mucuripe
Foto: Reprodução/LDBW

Segundo o arquiteto, o objetivo é reaproximar as pessoas da comunidade do Santa Terezinha, “que já foi um polo gastronômico, um dos lugares mais requisitados da nossa cidade, e que hoje está abandonado”.

“Isso transforma a nossa cidade. Isso é preocupação com outro, com a economia da nossa cidade”, defendeu Deusdara.

Para ele, Fortaleza é uma cidade que carece de novos olhares de arquitetos e urbanistas para “cuidar dela e ajudá-la a prosperar”, ainda que seja preciso tomar medidas “muito corajosas”.

“Estamos deixando de usufruir dessa cidade e jogando fora muitas oportunidades. Fortaleza é uma cidade encantadora, magnífica”, considerou.

A ideia de um teleférico em Fortaleza há tempos tem sido sugerida. Em 2015, o Governo do Estado apresentou uma proposta para a construção de um teleférico na Praia de Iracema, seguindo do Acquario Ceará (que nunca saiu do papel) ao Mucuripe. A proposta já trazia até sugestões de estações:  Acquario, Aterro, Náutico e Mucuripe.

Sucesso nos anos 1990

Criado nos anos 1980 para abrigar pescadores e moradores das favelas do entorno do Mucuripe, o Conjunto Habitacional Santa Terezinha reassentava comunidades como do Guabiru, Alto da Saúde, Buraco da Gia, Maceió e Morro do Teixeira, por meio do Programa de Assistência às Favelas da Área Metropolitana de Fortaleza (Proafa). 

O apontamento está na dissertação de João Flávio Menezes Amaral, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo o pesquisador, no início, o mirante do Morro não era mais que um amplo espaço livre na área mais alta do conjunto. Naquela década, o local começou a ser frequentado por jovens “alternativos” devido ao potencial paisagístico do lugar, com vista privilegiada da cidade.

Matéria de jornal sobre o restaurante “Panorâmico”, no Conjunto Santa Terezinha, destacando sua vista privilegiada e ambiente romântico. Na parte inferior, há uma foto em preto e branco de um casal conversando em uma mureta com a cidade ao fundo.
Legenda: Matéria do Diário do Nordeste em 1988 destacava a procura do local para lazer
Foto: Arquivo Diário do Nordeste

Já nos anos 1990, obras de urbanização buscaram atender tanto a demanda por áreas de lazer da comunidade quanto a consolidação do potencial turístico do local. Assim, foi construída a Praça do Mirante Pescador, projetada pelo arquiteto e artista Fausto Nilo.

Com a mudança, o local passou a ter até 2 mil visitantes por final de semana. O Santa Terezinha fez fama como “point” da Capital. No entorno, vários bares e restaurantes se instalaram, como "Alô Brasil", "Tudo em Cima Bar e Restô", "Albatroz", "Feitiço da Terra" e “Cavalo Marinho”. 

Com o tempo, porém, o movimento começou a cair pela maior atratividade de equipamentos e comércios na Praia de Iracema, e pelo crescimento da violência na área do Grande Vicente Pinzón.

Foto antiga mostra um restaurante ao ar livre, com várias mesas cobertas por toalhas claras e poucas pessoas presentes. Ao fundo, vê-se a cidade iluminada à noite, criando um contraste com o espaço mais vazio em primeiro plano.
Legenda: Foto de restaurante no Morro Santa Terezinha em 1993, com as luzes da cidade ao fundo
Foto: Airton Bezerra

Obra de urbanização

Em maio de 2018, por meio do programa “Juntos por Fortaleza”, foi entregue a obra a requalificação de toda a encosta do Morro, incluindo a implantação de 30 mil m² de gramado com sistema de irrigação, guarda-corpo ao longo do muro de contenção, novas escadarias com corrimãos e calçadão

O local também recebeu academia ao ar livre, parque infantil, anfiteatro, mini areninha com traves e redes de proteção. Orçada em R$ 12,6 milhões, a obra teve recursos da Prefeitura de Fortaleza e do Governo do Ceará.

O Morro ainda recebeu um elevador sobre trilhos (bondinho), construído ao lado da escadaria principal, para facilitar o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção - sem fins turísticos, inicialmente. Porém, ele funcionou por pouco tempo e foi desativado. 

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