Pesquisadores identificam 103 lagoas em Fortaleza e pedem a criação de 18 Parques Urbanos; veja mapa
Segundo a Prefeitura de Fortaleza, acontecerá o processo de georreferenciamento feito no primeiro trimestre de 2023
O desenho do mapa de Fortaleza ganha novas áreas azuis – após um ano e meio de análise das imagens de satélite, visitas de campo e estudo dos inventários oficiais – com a identificação de 103 lagoas. Especialistas indicam a preservação ambiental e criação de estrutura de lazer nesses espaços.
Isso, inicialmente, pode acontecer com a criação de 20 Parques Urbanos propostos por pesquisadores do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) com base no decreto municipal Nº 13.286. Essa é uma garantia para o cuidado com essas áreas.
Os dados são parciais e ainda podem sofrer alterações. As informações compõem uma dissertação de mestrado sobre o tema e devem ser publicadas em revista científica. A ideia da equipe, formada por 4 estudiosos, consiste em disponibilizar um levantamento mais preciso e atual do que o inventário oficial de 2003.
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Esse levantamento feito pela Prefeitura de Fortaleza deve ser atualizado após um processo de georreferenciamento feito no primeiro trimestre de 2023, como adiantou Luciana Lobo, titular da Secretaria do Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), ao Diário do Nordeste.
Na pesquisa acadêmica, a Regional 8, onde estão bairros como Serrinha, Itaperi e José Walter, aparece no estudo como a localidade com maior número de lagoas, tendo 20 desses corpos hídricos, como explica Flávio Nascimento, pesquisador de recursos ambientais e professor da UFC.
Na cidade, mais de 90% das lagoas estão relacionadas às áreas verdes, que são espaços onde há vegetação, acrescenta Flávio Nascimento.
“Em Fortaleza, quase todas as áreas verdes estão associadas às áreas azuis, ou seja, se temos matas remanescentes e uma lagoa. São exemplos a Messejana e Maraponga. Em outras, temos apenas as áreas azuis, como a da Parangaba”, exemplifica.
Lagoas relevantes para a criação de Parques Urbanos:
- 1 - Lagoa do Mel (Cristo Redentor)
- 2 - Lagoa do Urubu (bairro Floresta)
- 3 - Lagoa do Marrocos (Siqueira)
- 4 - Lagoa da Zeza (Jardim das Oliveiras)
- 5 - Lagoa do IPEC (Cidade dos Funcionários)
- 6 - Lagoa Canaã, também chamado Açude Danilo (Messejana)
- 7 - Lagoa da Paupina
- 8 - Lagoa sem Denominação (bairro Engenheiro Luciano Cavalcante)
- 9 - Lagoa Água Fria/Seca, também chamado Lago Dudu Monte (Edson Queiroz)
- 10 - Lagoa do Soldado (Sapiranga)
- 11 - Açude Walter Peixoto de Alencar, também chamado Açude Alencar (Parque Dois Irmãos)
- 12 - Lagoa da Aldeia Velha, também chamada Lagoa do Vinícius (José Walter)
- 13 - Lagoa sem Denominação (Barroso)
- 14 - Lagoa das Pedras (Jangurussu)
- 15 - Açude Jangurussu
- 16 - Lagoa da Libânia (Mondubim)
- 17 - Lagoa dos Patos (Conjunto Ceará I)
- 18 - Lagoa sem Denominação (Conjunto Ceará I)
Esse contexto, inclusive, favorece a criação de espaços de preservação de bichos e plantas que se abrigam nas lagoas, além de ampliar as possibilidades de lazer para as famílias da cidade.
“Algumas já estão urbanizadas, como a Lagoa do Mel, mas não são consideradas como um Parque Urbano e a proposta é que sejam incluídas no decreto”, detalha o mestrando Lucas Emerson Uchôa Ribeiro.
Essa lista foi elaborada a partir da avaliação das lagoas, do grau de urbanização, das definições do Plano Diretor, da Lei de Uso e Ocupação do Solo, além da participação popular.
"A gente pretende levar essa proposta para a Câmara Municipal e para a Seuma para que possa ser avaliada a possibilidade de inserção de mais lagoas no decreto", completa Lucas Emerson.
A capital cearense possui 25 Parques Urbanos e 14 deles estão em áreas de lagoas, muitas das quais são de destaque na cidade.
Os parques urbanos são áreas verdes e de relevância ambiental, com função ecológica, estética e de lazer, como explicam especialistas. Não são apenas praças e jardins públicos, mas espaços maiores e criados a partir de decretos municipais.
Parques Urbanos em Lagoas:
- Lagoa da Parangaba
- Lagoa do Papicu
- Lagoa do Porangabussu
- Lagoa da Itaperaoba (Serrinha)
- Lagoa da Maraponga
- Lagoa da Sapiranga
- Lagoa da Viúva (Siqueira)
- Lagoa de Maria Vieira (Cajazeiras)
- Lagoa do Catão (Mondubim)
- Lagoa do Mondubim
- Lagoa do Opaia (bairro Aeroporto)
- Lagoa Redonda
- Lago Jacarey (Cidade dos Funcionários)
- Lagoa de Messejana
“Nós vamos propor, como resultado desse estudo, a criação de mais 18 parques urbanos a partir das 103 lagoas identificadas. São áreas que nós vemos potencial para serem, a grosso modo, pequenos Cocós”, destaca o professor Flávio.
Isso por toda a cidade, democratizando o acesso às áreas verdes e azuis, entendendo que Fortaleza é uma das cidades mais quentes do País, com uma das maiores sensações térmicas
Luciana Lobo explica que é natural a transformação do espaço urbano, mas o inventário das áreas azuis deve ser revisto em breve. "Estamos com a contratação com um voo para o georeferenciamento completo da cidade, que vai identificar até a cobertura árborea da Fortaleza. Então, vamos ter essa condição das lagoas atualizada", adianta.
Além disso, a atualização do Plano Diretor deve mobilizar as equipes técnicas para revisitar os estudos das áreas urbanas, como explica a secretária. "Quando a gente fala de sistema hídrico da cidade, temos uma linha de trabalho muito grande, com o 'Se Liga na Rede' que vai fazer 2.500 ligações de casas na rede de esgoto", acrescenta.
As limpezas das galerias pluviais e o monitoramento da qualidade de 41 corpos hídricos de Fortaleza também aparecem entre as ações desenvolvidas pela Seuma. Em relação a inclusão de espaços considerados parques urbanos, Luciana destaca as prioridades.
"No momento, a gente tem foco relacionado aos parques urbanos a requalificação do Parque Rio Branco, os 30 microparques que iremos implementar em 2023", conclui.
Função das lagoas
Os fortalezenses que moram nos arredores de uma lagoa acabam criando uma relação com o espaço seja para pesca ou caminhadas nos calçadões que costumam cercar esses espaços.
Foi nesse contexto que os pesquisadores coletaram as informações, como reflete Lucas Emerson.
“É interessante, com essa pesquisa, ver a função da água para a população, qual o objetivo de planejar, ter um projeto e a manutenção desses recursos hídricos”, detalha.
A relevância da pesquisa está em gerir melhor a utilização dessas lagoas urbanas, levando em consideração a preservação do seu ecossistemas naturais, que o município vai ser o ente federativo que mais se aproxima dessa gestão pública
Lucas também usou o histórico de imagens para entender a diferença da quantidade de lagoas e como a urbanização modificou essa dinâmica nos últimos anos.
“Umas coisas que a gente aprende na geografia é que o mapeamento não deve ser visto como um fim. Saber onde fica cada lagoa, por si só, não é interessante. O que vai importar mesmo é a análise”, conclui.
Além de contribuir para dar um conforto térmico à população, as lagoas guardam vida de animais e plantas.
“Fortaleza tem um tipo de floresta, originalmente falando, de mata de tabuleiro, onde tem espécies da flora tanto da mata atlântica, como da caatinga e do cerrado e algumas são espécies locais”, detalha Flávio.