Número cresce e Fortaleza já tem mais de 200 áreas de risco mapeadas

Defesa Civil percorreu apenas metade da cidade até agora, e o trabalho deve continuar até 2027.

Escrito por
Theyse Viana theyse.viana@svm.com.br
Imagem mostra menino diante de rio totalmente poluído por lixo em Fortaleza.
Legenda: Crescimento desordenado e políticas insuficientes para populações vulneráveis contribuem para aumento das áreas de risco.
Foto: Fabiane de Paula.

Mais de 200 territórios de Fortaleza estão vulneráveis a alagamentos, inundações, deslizamentos e outras ocorrências causadas por eventos climáticos – ou por falta de infraestrutura. É o triplo do número de áreas de risco identificadas até o ano passado.

O mapeamento preliminar é da Defesa Civil de Fortaleza (DCFor), e abrange, por enquanto, só seis das 12 regionais da cidade. O trabalho iniciou em setembro e será realizado em etapas durante 18 meses. A primeira visitou e avaliou áreas suscetíveis a desastres nas Regionais 4, 7 e 9; e a segunda, finalizada no dia 7 deste mês, nas 6, 8 e 10.

Como o trabalho está em curso, a DCFor ainda não informa a lista de bairros com os cerca de 200 territórios vulneráveis já identificados. Porém, de acordo com planejamento inicial do órgão, pelo menos 94 comunidades de mais de 50 bairros de Fortaleza devem receber as visitas para verificar se há ou não áreas de risco.

A definição dos chamados "setores de risco" foi feita "a partir de estudos anteriores, reuniões e discussões com a coordenação de áreas de risco da Defesa Civil de Fortaleza, além de fotointerpretação", de acordo com a DCFor.

Desde 2012, o número de áreas de risco de Fortaleza estava congelado em 89. Em 2023, após uma filtragem da gestão municipal, caiu para 66. “Mas esse plano está mostrando já outra realidade. Verificamos seis regionais e o número já está acima de 200”, resume Haroldo Gondim, coordenador da Defesa Civil de Fortaleza.

Mesmo ainda no início dos trabalhos, novas áreas surgiram e preocupam a gestão. “Já temos essa preocupação. A cidade cresceu mais a oeste, no Planalto Ayrton Senna, Granja Lisboa, de forma desordenada. Muitas áreas antes mapeadas com menos casas já têm mais casas” analisa.

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O gestor explica que Fortaleza foi uma das dez cidades contempladas pelo Governo Federal, por meio do Ministério das Cidades, para efetivar o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), que tem o objetivo de identificar e atualizar as áreas da cidade mais suscetíveis a desastres.

O investimento no estudo, executado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), é de R$ 700 mil. Além de Fortaleza, Bento Gonçalves (RS), Blumenau (SC), Goiânia (GO), Maceió (AL), Paulista (PE), Teresina (PI), Rio Branco (AC), Rio do Sul (SC) e Santa Cruz do Sul (RS), foram contemplados. 

A seleção dos municípios considerou a presença de comunidades periféricas, população superior a 100 mil habitantes e os riscos de desastres.

Soluções para os riscos

Identificar as “novas”, porém históricas, áreas de risco da capital cearense é urgente para que se elabore soluções eficazes. “Com um diagnóstico preciso, você estabelece políticas. Será uma ação conjunta entre os entes”, garante Artur Bruno, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan).

Ao final do mapeamento, pesquisadores de São Paulo virão a Fortaleza para visitar todas as áreas de risco catalogadas. “Eles vão fazer os pré-projetos e indicar o que é necessário para resolver ou mitigar os problemas que cada área de risco tiver”, explica Haroldo, coordenador da DCFor.

Para ele, a atualização de onde ficam e quais são os riscos desses pontos mais vulneráveis da cidade deve ser constante. “Não dá pra gente esperar mais 10 anos pra atualizar novamente. Só o Plano Diretor tem 16 anos de atraso. Não dá pra esperar esse tempo todo pra atualizar e agir sobre as áreas de risco”, sentencia.

Alguns bairros da cidade concentram, historicamente, as ocorrências relacionadas a desastres climáticos. Em geral, elas ficam nas periferias, como observa o próprio gestor do órgão de proteção.

Nos quase 14 anos analisados pelo Observatório de Riscos Climáticos, que reúne notificações à Defesa Civil entre 2012 e julho de 2025, os 3,6 mil alagamentos, deslizamentos, inundações e alertas sobre essas ocorrências predominaram no Barroso (217 casos), Jangurussu (189), Genibaú (148), Quintino Cunha (141) e Passaré (134).

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