Fortaleza pode ter aumento de 65 cm do nível do mar e dias com calor acima de 35°C, alerta ONU
As mudanças projetadas para 2099 podem variar conforme as emissões de gases poluentes
O mar da capital cearense pode subir de nível entre 41 e 65,8 centímetros até 2099. Nesse período, a temperatura acima de 35°C na cidade pode ser realidade de 41 a 98 dias, na média anual. A projeção é de uma plataforma criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) com dados divulgados neste último mês de novembro.
As informações são da base "Horizonte climático humano" (Human Climate Horizons) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNDP), que mostra diferentes cenários para 24 mil regiões do mundo. Para isso, foram usados índices locais a fim de compor um modelo estatístico.
A variação acontece conforme o nível de emissões de gases de efeito estufa. São esse gases poluentes a causa do aumento da temperatura no mundo e as mudanças no nível do mar, por exemplo. Os dados avaliam os cenários de "baixa emissão", "intermediário" e "muito alto".
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No cenário mais crítico, quando a temperatura pode subir 4,4°C, o território de Fortaleza pode chegar a ter 0,05% inundado pela água do mar, o que corresponde a 4612.8 km². Embora o estudo não detalhe a projeção populacional, isso pode afetar 0,86% dos moradores.
Caso as emissões dos próximos anos tenham uma diminuição relevante, no cenário mais positivo no qual a temperatura não ultrapasse os 2°C, o impacto será para 0,03% do território inundado pelo mar.
Nesse caso, 2270.2 km² ficariam debaixo d'água, prejudicando 0,52% das pessoas que habitarem Fortaleza daqui a 80 anos.
Já numa situação intermediária de poluição do ar, com aumento de até 2,7°C de temperatura, Fortaleza deve ter acréscimo do nível do mar em 50,4 cm até o fim do século.
Mas, afinal, qual pode ser o prejuízo disso?
"Os impactos são, principalmente, o aumento da frequência e da intensidade dos eventos de inundação. Tivemos uma ressaca muito forte em 2018, que impactou parte da costa Norte e Nordeste do Brasil e, no Ceará, tivemos vários pontos atingidos", analisa Paulo Sousa, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O pesquisador avalia Fortaleza como uma cidade com problemas graves de erosão e a situação deve ser intensificada com o aumento do nível do mar, o que exige, dentre outras ações, a manutenção e avaliação das construções que protegem o litoral.
"Temos um Estado que apresenta vários focos de erosão costeira e a cidade de Fortaleza apresenta um conjunto de obras de engenharia que são os espigões e os enrocamentos – as rochas colocadas paralelamente à costa –, como próximo ao Marina Park", exemplifica.
Aumento da temperatura
Além do aumento do nível do mar, Fortaleza pode ter dias bem mais quentes até o fim do século: 98 dias com temperaturas acima de 35°C na média anual. Esse calor pode causar não só desconforto, mas a morte de 4 pessoas a cada 100 mil habitantes.
O consumo de energia pode crescer intensivamente e algumas áreas do mercado de trabalho terão horas a menos de atividade devido ao risco com as temperaturas altas.
Em 2023, o tema ganhou mais notoriedade com as ondas de calor que afetaram diversas regiões do País, incluindo o Ceará. Regionalmente, o fenômeno El Niño, que voltou a atuar neste ano, contribui para dias mais quentes e deve prejudicar a quadra chuvosa do Ceará em 2024.
Paulo frisa a necessidade de adaptação para a proteção contra o calor, principalmente, para "as pessoas mais vulneráveis que estão em situação de pobreza ou de rua. Elas precisam ser acolhidas e de mais atenção", analisa.
A adaptação não é apenas uma política local, mas sim global. Existem eventos constantes buscando acordos para a redução da emissão dos gases de efeito estufa que promovem o aquecimento global
O pesquisador avalia que "já passamos da hora de lidar com o problema” e reforça a necessidade do planejamento e gestão.
“Temos essa projeção de cenário e são necessárias políticas públicas para proteger a população de modo que tenha condições de sobreviver. Evitar os processos de ocupação em áreas muito próximas à costa e preservar a vegetação", conclui.