Febre oropouche: tire dúvidas sobre sintomas, gravidade e tratamento da doença registrada no Ceará

Um dos pontos de atenção é que os sinais da doença são semelhantes aos da dengue e de outras arboviroses

Escrito por Marcos Moreira e Thatiany Nascimento , marcos.moreira@svm.com.br | thatiany.nascimento@svm.com.br
Mosquito Culicoides paraenses, popularmente conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. Ministério da Saúde investiga quatro mortes suspeitas por Febre Oropouche; conheça doença e sintomas
Legenda: A condição é geralmente transmitida pelo mosquito Culicoides paraenses, popularmente conhecido como maruim ou mosquito-pólvora
Foto: Divulgação/Agência Pará

O Ceará confirmou, na última sexta-feira (21), o primeiro caso da febre oropouche, ocorrido em maio, conforme divulgado pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). A orientação é que a população reforce os cuidados contra a transmissão da doença que, assim como a dengue, a zika, a chikungunya e a febre amarela, é viral e transmitida por um mosquito

Um dos pontos de atenção é que os sintomas da doença são semelhantes aos de outras arboviroses, como dores no corpo e de cabeça, além da própria síndrome febril. Logo, identificar se o paciente está especificamente com o vírus pode ser desafiador.

Em entrevista à Verdinha FM 92.5, na manhã da segunda-feira (24), o secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, Antonio Silva Lima Neto, esclareceu dúvidas sobre o assunto. 

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TRANSMISSÃO

O vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) provoca a doença. A transmissão é feita principalmente por mosquitos, sendo o Culicoides paraenses, comumente chamado de ‘maruim’ ou ‘mosquito-pólvora’, o principal vetor, tanto no ciclo selvagem quanto no urbano. 

Em geral, o inseto é pequeno e voa em zigue-zague, explica Tanta. Depois de picar uma pessoa ou animal infectado, o OROV permanece no sangue do inseto por alguns dias. Quando o transmissor pica outra pessoa saudável, pode infectá-la.

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o vírus foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir da amostra de sangue de uma bicho-preguiça capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília. Desde então, casos isolados e surtos foram relatados no Brasil, principalmente em regiões silvestres

No entanto, frisa Tanta, há uma preocupação por parte do MS e de outras autoridades da saúde acerca do modo como a transmissão cresceu dentro do espaço urbano, com a expansão dos números da doença. 

“É um mosquito que circula mais em ambientes de transição, entre o urbano e o silvestre. Agora, a gente não sabe se o próprio mosquito se adaptou, porque temos casos, por exemplo, dentro da cidade de Teresina e em Manaus, também em área praticamente urbana. Então, ou mosquito se adaptou ou, o que seria mais preocupante, outro mosquito pode estar adquirindo também essa competência de transmitir a doença, o que está sendo investigado”, evidenciou. 

O Brasil já registrou mais de 6,6 mil casos em 2024. Embora a maioria seja em estados do Norte, concentrados no Amazonas e em Rondônia, há notificações em todas as regiões do país.

SINTOMAS DA FEBRE OROPOUCHE

Conforme o MS, os sintomas da febre oropouche são parecidos com os da dengue e da chikungunya. Os sinais incluem:

  • febre;
  • dor de cabeça; 
  • dor muscular;
  • dor nas articulações;
  • náusea;
  • diarreia.

Mosquito
Legenda: Sesa reforça cuidados para evitar que doença seja transmitida
Foto: Flávio Carvalho/WMP Basil/Fiocruz

COMO IDENTIFICAR

Por ter os sintomas similares a outras arboviroses, a diferenciação clínica torna-se difícil, alerta Tanta. Por isso, o exame laboratorial é recomendado, principalmente por conta que a febre oropouche não tem um sintoma característico que se expresse com mais intensidade, como as manchas vermelhas nos casos de zika ou as dores articulares nos diagnósticos de chikungunya.

“Estamos realizando esse tipo de exame aqui no Ceará através do Laboratório Central de Saúde Pública, o nosso Lacen, que já faz o exame específico para esse vírus. Então, se você tem uma síndrome febril que não tem um componente, por exemplo, de espirro, coriza e tosse, ou seja, que não tem componente respiratório, na verdade deve ser investigado por via laboratorial.”

O diagnóstico, elucida a Sesa, é clínico, epidemiológico e laboratorial. Portanto, são vários elementos que fazem com que os profissionais da saúde possam identificar a doença. 

De acordo com o MS, todo caso de infecção pelo OROV deve ser notificado. A febre do oropouche compõe a lista de doenças de notificação compulsória e imediata, em função do potencial epidêmico e da alta capacidade de mutação, podendo se tornar uma ameaça à saúde pública.

1º CASO NO CEARÁ

No caso do paciente cearense de 53 anos, residente da cidade de Pacoti, o exame laboratorial foi determinante para identificar o vírus da febre de oropouche, segundo o Tanta. O gestor explica que o teste deu negativo para dengue, zika e chikungunya. O homem está bem e em casa, curado, segundo a Sesa. 

Agora, a vigilância epidemiológica estadual busca identificar a origem da transmissão. “Esse momento é de investigação do caso, uma verificação retrospectiva em que a gente tenta avaliar se de fato foi um caso isolado, realmente de ciclo silvestre, ou se ocorreu uma transmissão, um pequeno surto na localidade”, relatou o titular de Vigilância em Saúde.

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TRATAMENTO

O Ministério da Saúde aponta que não existe tratamento específico para a doença. A recomendação é que os pacientes permaneçam em repouso, com tratamento sintomático e acompanhamento médico. 

Mesmo sem um medicamento próprio, Tanta destaca que o tratamento passa pelo monitoramento e a reposição de líquidos, como nos casos de dengue. Por enquanto, a identificação do modo como a doença tem circulado é importante, principalmente para pensar de que forma o combate será conduzido.

“Nós ainda estamos tentando entender melhor como a doença pode eventualmente se expressar com maior gravidade. Por enquanto, não há registro de pacientes que tenham complicações expressivas, com exceção desses óbitos que estão sendo investigados, mas que, por enquanto, não há uma definição se de fato foram óbitos causados por esse vírus, que é um vírus que estava muito circunscrito à região amazônica”, afirmou. 

A Sesa orienta ainda que, em caso de sintomas suspeitos, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde imediatamente. É recomendado também que informe sobre sua exposição potencial à doença.

COMO SE PREVENIR DA FEBRE OROPOUCHE

Tanta esclarece que, pelas características do transmissor, existem poucas definições específicas acerca do combate aos criadouros, que costumam ser variados e fora das residências. Mas o secretário ressalta que é importante evitar áreas onde há muitos mosquitos, principalmente em locais silvestres. 

Conforme o Ministério da Saúde, outros cuidados importantes são:

  • Usar roupas que cubram a maior parte do corpo e aplique repelente nas áreas expostas da pele.
  • Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas.
  • Se houver casos confirmados na sua região, siga as orientações das autoridades de saúde local para reduzir o risco de transmissão, como medidas específicas de controle de mosquitos.
 

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