Família paraense deportada dos EUA não passou nem uma semana em solo norte-americano: 'Não tivemos chance'

Carolina Bezerra, seu esposo e a filha de um ano e sete meses do casal estavam há cerca de dois meses tentando entrar no país

Escrito por
Luana Severo, Nícolas Paulino e Paulo Roberto Maciel* producaodiario@svm.com.br
Família no aeroporto de Fortaleza
Legenda: A família estava entre os 94 brasileiros deportados dos EUA que desembarcaram no Ceará nesta sexta-feira (21)
Foto: Paulo Roberto Maciel*/SVM

Uma família de Rondon do Pará estava entre os 94 brasileiros deportados dos Estados Unidos que desembarcaram no aeroporto de Fortaleza, no Ceará, na manhã desta sexta-feira (21). Caroline Bezerra, 28 anos, seu esposo e a filha de um ano e sete meses do casal não passaram nem mesmo uma semana em solo norte-americano antes de serem despachados a mando do presidente Donald Trump, que decidiu banir imigrantes ilegais do país.

"A gente não se arrepende. É uma experiência que a gente está carregando na mala, para a vida toda. Só que, se a gente tiver uma oportunidade novamente, a gente não vai. É um risco muito grande, muito sofrido, para a gente que está entrando ilegal", contou Caroline, que trabalhava como garçonete em sua cidade natal.

A mulher relatou que a família tentava há cerca de dois meses entrar ilegalmente nos EUA, via coiotes - grupo de pessoas que guia imigrantes de forma clandestina em troca de dinheiro.

Caroline concede entrevista no aeroporto de Fortaleza. É uma mulher branca de cabelo loiro e está com moletom marrom
Legenda: Caroline Bezerra é de Rondon do Pará. Ela comentou que queria ir aos EUA para trabalhar
Foto: Nícolas Paulino/SVM

Tem cinco dias que a gente entrou. Não tivemos a chance de passar por uma entrevista [de emprego], nada. A gente saiu da imigração e três agentes nos acompanharam ao aeroporto e informaram que estavam acompanhando por segurança. Não informaram a realidade. A gente pegou dois voos, no Texas e para a Alexandria. Quando a gente chegou em Alexandria, já encontrou o avião para o deporte. A gente ficou 4 horas, 4h30min, no carro, esperando. Do carro a gente saiu, entrou no avião e descobriu que estava sendo deportado".
Caroline Bezerra
Brasileira deportada dos EUA

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'Choque de realidade'

Segundo a paraense, a descoberta de que a família teria de voltar para o Brasil foi um "choque de realidade". "Uma tristeza muito grande, porque é um investimento muito alto, mas, ao mesmo tempo, é uma felicidade muito grande voltar para o Brasil, matar a saudade, desfrutar das comidas boas que os EUA não têm", citou ela.

O plano era chegar até a Flórida e trabalhar com "o que viesse" pelo período de cinco a sete anos. "A gente só queria trabalhar, não queria nada de ninguém. Desde já, a gente pede desculpa por estar numa cidade sendo imigrante, mas a gente não queria nada de ninguém. A gente queria trabalhar e investir no Brasil", afirmou Caroline.

A mulher, contudo, comemorou a "experiência" da viagem até os EUA: "A gente tirou proveito de algumas cidades. Usufruímos de sabores, pessoas, coisas diferentes. A gente não se arrepende", disse, taxativa.

Família foi bem tratada no voo

Em entrevista a jornalistas no aeroporto de Fortaleza, a paraense disse ainda que a família recebeu comida, roupas, brinquedos e itens de higiene para o bebê durante o deporte. "Eles cedem pinturas para as crianças, brinquedos, para as crianças não se estressarem tanto. Eu e ela [a filha] estivemos em uma cela e o pai em outra. Eu e ela podíamos sair. Ela tinha leite, mamadeira, fralda, tudo disponível. Trataram a gente super bem, a gente não tem do que reclamar", comentou Caroline.

O marido dela, que não se identificou para a reportagem, confirmou que o casal se "entregou" para a imigração. "A gente se 'entregou' para a imigração para tentar entrar legalmente", disse.

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Voo com repatriados

Um novo voo com brasileiros deportados dos Estados Unidos chegou a Fortaleza por volta de 10h54 desta sexta-feira (21), trazendo 94 passageiros. Entre eles, segundo o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), estavam nove crianças e dois idosos. 

Tão logo chegaram ao Brasil, os repatriados foram atendidos por equipes de saúde, da assistência social e da Polícia Federal.

*Estagiário sob supervisão de Germano Ribeiro.

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