Família paraense deportada dos EUA não passou nem uma semana em solo norte-americano: 'Não tivemos chance'
Carolina Bezerra, seu esposo e a filha de um ano e sete meses do casal estavam há cerca de dois meses tentando entrar no país
Uma família de Rondon do Pará estava entre os 94 brasileiros deportados dos Estados Unidos que desembarcaram no aeroporto de Fortaleza, no Ceará, na manhã desta sexta-feira (21). Caroline Bezerra, 28 anos, seu esposo e a filha de um ano e sete meses do casal não passaram nem mesmo uma semana em solo norte-americano antes de serem despachados a mando do presidente Donald Trump, que decidiu banir imigrantes ilegais do país.
"A gente não se arrepende. É uma experiência que a gente está carregando na mala, para a vida toda. Só que, se a gente tiver uma oportunidade novamente, a gente não vai. É um risco muito grande, muito sofrido, para a gente que está entrando ilegal", contou Caroline, que trabalhava como garçonete em sua cidade natal.
A mulher relatou que a família tentava há cerca de dois meses entrar ilegalmente nos EUA, via coiotes - grupo de pessoas que guia imigrantes de forma clandestina em troca de dinheiro.
Tem cinco dias que a gente entrou. Não tivemos a chance de passar por uma entrevista [de emprego], nada. A gente saiu da imigração e três agentes nos acompanharam ao aeroporto e informaram que estavam acompanhando por segurança. Não informaram a realidade. A gente pegou dois voos, no Texas e para a Alexandria. Quando a gente chegou em Alexandria, já encontrou o avião para o deporte. A gente ficou 4 horas, 4h30min, no carro, esperando. Do carro a gente saiu, entrou no avião e descobriu que estava sendo deportado".
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'Choque de realidade'
Segundo a paraense, a descoberta de que a família teria de voltar para o Brasil foi um "choque de realidade". "Uma tristeza muito grande, porque é um investimento muito alto, mas, ao mesmo tempo, é uma felicidade muito grande voltar para o Brasil, matar a saudade, desfrutar das comidas boas que os EUA não têm", citou ela.
O plano era chegar até a Flórida e trabalhar com "o que viesse" pelo período de cinco a sete anos. "A gente só queria trabalhar, não queria nada de ninguém. Desde já, a gente pede desculpa por estar numa cidade sendo imigrante, mas a gente não queria nada de ninguém. A gente queria trabalhar e investir no Brasil", afirmou Caroline.
A mulher, contudo, comemorou a "experiência" da viagem até os EUA: "A gente tirou proveito de algumas cidades. Usufruímos de sabores, pessoas, coisas diferentes. A gente não se arrepende", disse, taxativa.
Família foi bem tratada no voo
Em entrevista a jornalistas no aeroporto de Fortaleza, a paraense disse ainda que a família recebeu comida, roupas, brinquedos e itens de higiene para o bebê durante o deporte. "Eles cedem pinturas para as crianças, brinquedos, para as crianças não se estressarem tanto. Eu e ela [a filha] estivemos em uma cela e o pai em outra. Eu e ela podíamos sair. Ela tinha leite, mamadeira, fralda, tudo disponível. Trataram a gente super bem, a gente não tem do que reclamar", comentou Caroline.
O marido dela, que não se identificou para a reportagem, confirmou que o casal se "entregou" para a imigração. "A gente se 'entregou' para a imigração para tentar entrar legalmente", disse.
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Voo com repatriados
Um novo voo com brasileiros deportados dos Estados Unidos chegou a Fortaleza por volta de 10h54 desta sexta-feira (21), trazendo 94 passageiros. Entre eles, segundo o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), estavam nove crianças e dois idosos.
Tão logo chegaram ao Brasil, os repatriados foram atendidos por equipes de saúde, da assistência social e da Polícia Federal.
*Estagiário sob supervisão de Germano Ribeiro.