Ex-tetraplégico realiza sonho de participar de corridas de rua em Fortaleza; veja vídeo

História de Paulo Cavalcante é marcada por cirurgias arriscadas, dor intensa e anos de tetraplegia

Escrito por
Maria Clarice Sousa* producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 09:46)
A imagem é dividida em duas partes.À esquerda, aparecem um homem e uma mulher sorrindo e exibindo medalhas após participarem de uma corrida de rua. Eles vestem camisetas verdes de competição, com números de inscrição fixados na frente. O homem segura uma muleta de apoio e está ao lado da mulher, que usa óculos escuros espelhados.À direita, o mesmo homem aparece em um ambiente de fisioterapia. Ele está preso a um equipamento de suporte, com cintos e tiras presas ao corpo, caminhando em uma esteira ergométrica.
Legenda: Paulo Cavalcante, de 41 anos, completou a Corrida das Estações, na Beira-Mar de Fortaleza, percorrendo 5 km
Foto: Reprodução/ Redes Sociais

Superação: essa palavra define a vida do palestrante Paulo Cavalcante, de 41 anos. Paulo nasceu com neurofibromatose, doença genética hereditária que provoca o crescimento de tumores pelo corpo. Aos 32 anos, ele ficou tetraplégico após uma compressão medular, mas a força de vontade aliada a medicações e fisioterapia fez com que ele recuperasse os movimentos e realizasse o sonho de participar de corridas de rua em Fortaleza.

Hoje, Paulo acumula participações em corridas e segue estabelecendo novos desafios.  Com o apoio de fisioterapeutas, ele já participou de duas corridas e, agora, se prepara para a terceira.

Cirurgias e luta contra a dor

Desde os 19 anos, Paulo Cavalcante passou por cirurgias de alto risco, entre elas a retirada de um tumor de 1,3 kg no plexo braquial, conhecido como uma rede de nervos entre o pescoço e o ombro, responsável pelos movimentos e sensibilidade do braço, antebraço e mão. Apesar do diagnóstico precoce, foi aos 32 anos que ele ficou tetraplégico.

Paulo lembra que, após a primeira cirurgia, levava uma vida ativa. “A recuperação foi difícil, mas voltei a fazer exercícios, musculação, corrida, luta e até MMA”, conta. Na segunda intervenção, começou a sentir as limitações: dificuldade para levantar a mão até o cabelo, segurar um prato pesado ou andar com firmeza. Mesmo assim, seguia com autonomia. Já na terceira cirurgia, Paulo caía com mais frequência, mas ainda mantinha os movimentos.

Dois anos depois, perdeu de fato a mobilidade: pernas e braços deixaram de responder e até falar se tornou um desafio. “Eu não conseguia terminar uma frase, o ar acabava no peito”, relembra. Foi quando a doença atingiu a coluna, comprimindo a medula e deixando-o tetraplégico por seis anos.

Durante esse período, conviveu com dores intensas, abandono social e limitações severas, mas manteve a fé e a convicção de que voltaria a andar. Em 2022, conseguiu acesso ao Trametinibe, uma medicação que custava mais de 300 mil reais a caixa que reduziu os tumores. Após conseguir a medicação por meio de uma luta judicial, iniciou o tratamento associado a uma fisioterapia intensiva, a droga permitiu que ele recuperasse movimentos e voltasse a caminhar.

Veja também

Recaídas, reabilitação e novos sonhos

Mesmo enfrentando sequelas físicas e dores, Paulo retomou a independência, passou a treinar diariamente e transformou a corrida em símbolo de superação pessoal. Em junho de 2023, sofreu uma recaída, com crescimento rápido dos tumores e perda de movimentos, mas afirmou que novamente escolheu lutar e continuar a reabilitação.

No último dia 14, Paulo Cavalcante completou a Corrida das Estações – Primavera, na Beira-Mar de Fortaleza, percorrendo 5 km como marco de vitória sobre a tetraplegia. 

“Não se trata apenas de uma prova, mas de uma forma de provar que a superação é possível e que a vida é um ciclo de construção, não de destino”, afirma.

Essa não foi a primeira corrida de Paulo. Na estreia, porém, a experiência não foi positiva: ele se machucou e não conseguiu aproveitar o processo.

O palestrante planeja disputar ainda o Circuito das Estações – Verão, no fim deste ano. Nos treinos, ele conta com o apoio de uma de suas fisioterapeutas, mas a maioria deles realiza sozinho na Beira-Mar. Ele também reconhece o suporte incondicional da mãe, Priscila, de amigos, fisioterapeutas, médicos e até desconhecidos que se uniram em orações e doações, formando, como ele diz, sua “armadura indestrutível”.

Hoje, além de atleta amador, sonha em palestrar pelo Brasil, inspirar pessoas a vencerem suas “cadeiras de rodas invisíveis” e mostrar que “o impossível só existe até que alguém o torne realidade”.

 

 

Estagiária sob supervisão da editora Geovana Rodrigues* 

 

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado