‘Elminho’: pesquisadores do Ceará projetam capacete para atender crianças com doenças respiratórias

Similar ao capacete Elmo, que salvou vidas na pandemia de Covid, dispositivo terá primeiros testes em 2024

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Capacete Elmo, criado no Ceará
Legenda: Capacete Elmo adulto reduziu intubações de pacientes com Covid e salvou vidas durante a pandemia no Ceará
Foto: Camila Lima

Uma das inovações tecnológicas mais premiadas do Ceará, o capacete Elmo deve ganhar, em 2024, uma versão pediátrica: o “Elminho”, destinado a bebês e crianças com complicações por doenças respiratórias. O projeto foi anunciado nesta quarta-feira (25) em evento na Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

O dispositivo de ventilação foi pensado para ajudar na respiração e evitar a intubação de pacientes pediátricos, e será utilizado em pequenos de 6 meses a 14 anos de idade. Por enquanto, o Elminho está em fase de estudos e busca de apoio e recursos para ser viabilizado.

“A 1ª etapa é desenvolver o dispositivo, testar em pacientes e tornar um produto viável para produção. A 2ª etapa é ele ser adotado pelo sistema de saúde”, informa Marcelo Alcântara, professor do Departamento de Medicina Clínica da UFC e idealizador do capacete Elmo.

O protótipo será elaborado até abril, e o “teste número 1” do capacete em crianças será feito ainda neste semestre, segundo Marcelo. Para isso, é necessária a estruturação do Laboratório da Respiração (RespLab) da UFC e a captação de voluntários.

Após os primeiros testes, o Elminho começará a ser utilizado em pacientes pediátricos com problemas respiratórios no Hospital Geral Waldemar de Alcântara (HGWA) e no Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), ambos da rede estadual. A previsão é de que essa fase ocorra entre maio e agosto de 2024.

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Marcelo explica que, além do tamanho, as diferenças entre o Elmo e o Elminho são necessárias porque “a população pediátrica, principalmente bebês e crianças menores de 10 anos, precisa de um tipo de dispositivo peculiar”.

“Para bebês, por exemplo, ele será fixado de outra forma, no ‘bumbum’. Na criança maior, terá outro formato. O capacete tem que ser muito mais confortável e ter um design atraente à criança e à família, pra que tenha uma boa aceitabilidade boa, usabilidade e segurança”, define o pesquisador.

O orçamento necessário para tocar o projeto e fabricar os capacetes Elminho foi estimado ainda durante a pandemia de Covid, de modo que está “defasado”, como pontuou Marcelo. 

“A equipe deve se reunir com apoiadores e definir o investimento a ser feito para trazer o Elminho à prática”, frisa, lamentando a “dificuldade” de obter apoio neste momento “pós-pandemia”.

Elminho quer reduzir intubações infantis

hospital albert sabin
Legenda: Emergências pediátricas superlotam em períodos de maior incidência de doenças respiratórias no Ceará
Foto: Fabiane de Paula

Uma das integrantes do Projeto Elminho, a médica Luanna de Queiroz, intensivista pediátrica do HIAS, pontua que o capacete é uma “aposta” para amenizar o cenário de sobrecarga vivenciado pelas emergências infantis no período de chuvas no Ceará.

“A pediatria funciona com distribuição sazonal. Todo primeiro semestre temos maior distribuição de chuvas, maiores aglomerações e maior incidência de vírus respiratórios. As crianças se contaminam mais”, avalia.

Se tenho uma quantidade muito vasta de crianças infectadas, boa parte vai precisar do sistema de saúde, por meio de emergências, enfermarias e terapia intensiva. Todo primeiro semestre encontramos as emergências lotadas.
Luanna de Queiroz
Médica intensivista pediátrica do HIAS

Luanna relata, ainda, que a superlotação chega “sem material humano de enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas e médicos para conseguir dar conta da enorme demanda, e sem dispositivos de tecnologia para auxiliar essas crianças”. O Elminho, então, pode contribuir para “quebrar essa cadeia”.

“Se não consigo diminuir desde já a quantidade de crianças que se infectam anualmente, preciso pelo menos reduzir a gravidade desses quadros. O Elminho vai tentar impactar na redução das crianças que vão precisar de ventilação mecânica e, consequentemente, dos que vão pros leitos de UTI”, explica a intensivista pediátrica.

A literatura médica, ela pontua, atesta que a “ventilação não invasiva” reduz a intubação entre crianças, então a expectativa é que “da mesma forma que o Elmo adulto gerou redução de 50 a 60% na intubação aconteça na pediatria”.

Fundação Elmo

Outro anúncio feito pelo professor Marcelo Alcântara durante o evento na Famed foi a criação da Fundação Elmo, “sem fins lucrativos e privada, para financiar e apoiar projetos e pesquisas de inovação na área de suporte respiratório, de educação e memória”.

O dinheiro utilizado para a criação, que está em curso, é oriundo do Prêmio Euro, um dos reconhecimentos nacionais obtidos pelo capacete Elmo. O primeiro projeto apoiado pela fundação, então, é o próprio Elminho.

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