Pais denunciam de superlotação a problemas de higiene no Albert Sabin; hospital diz que atende 90% além da capacidade
Unidade nega dificuldades relatadas e diz que quase dobrou o número de atendimentos
Hospital infantil conhecido por ser de referência no Ceará, o Albert Sabin vem sendo palco de superlotação e de uma série de problemas relatados pelos pais e responsáveis que dependem do serviço público de saúde. Entre as dificuldades denunciadas está a falta de troca de lençóis, crianças internadas nos corredores perto de quadros de energia e doentes de Covid misturados aos pacientes com outros problemas de saúde.
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A unidade admite a superlotação e destaca que “não é negado atendimento a qualquer paciente” que busca o hospital, mas nega as dificuldades que foram relatadas pelos pais à reportagem. De acordo com coordenadora administrativa da Emergência do Hospital Albert Sabin, Bibiana Collares, o equipamento está atendendo com quase 90% a mais da capacidade. “O número de atendimentos quase dobrou”.
“A capacidade máxima do hospital foi atingida e nós somos um hospital de porta aberta, nós não podemos deixar de atender, mesmo com a superlotação. Temos quatro médicos atendendo no Pronto Atendimento e temos os médicos nos corredores prescrevendo, para ver as medicações dos pacientes e fazer a avaliação”, explica Bibiana.
Quem denuncia a falta de higiene é a agricultora Cleomar Vieira, de Boa Viagem. Ela levou o filho, de 17 anos, para tratar de uma infecção em uma sonda que ele possui na barriga. Vitório Vieira tem paralisia cerebral e está no hospital desde sexta-feira.
“Eles não estão higienizando as camas, aqui está muito cheio, precisa trocar lençol e desde sexta eles não trocam. Está sujo. Ele está no corredor porque não tem vaga para ele nos quartos”, lamenta Cleomar. “O barraco aqui é grande pra gente arrumar pano para as camas. Só tem para quem está nos leitos, quem está no corredor não tem”.
Bibiana esclareceu que pais ou responsáveis podem buscar o kit de cama para os pacientes também. "Temos o ponto de distribuição, aqui no hospital, para poder recolher o kit. A rouparia funciona 24 horas, temos dois plantões, 7h às 19h e de 19h às 7h"
Antônio José Silva é tio de uma menina de dois anos e seis meses. Ela havia sido diagnosticada com início de pneumonia na semana passada e foi levada novamente para o Hospital Albert Sabin após apresentar febre e cansaço.
“Ela está na medicação. Não tem como ficar lá dentro daquela sala de medicação, não tem espaço, para tomar o remédio tem que ficar no corredor. É cama, é berço, cama ao lado de quadro de energia, em tempo de a criança tomar um choque. São muitas crianças internadas”.
Já uma mãe que não quis se identificar relatou à reportagem que “estavam misturando crianças com outros problemas de saúde e crianças com Covid”. “Tem muita criança no corredor, até o cheiro está estranho. No quarto em que estávamos tinha criança com Covid, tudo misturado. Minha filha chegou aqui com uma infecção, quando dou fé, a menina já gripou. Tá um inferno”, diz a mãe.
A coordenadora administrativa também pontuou não haver risco de choque elétrico para crianças. "Esses quadros (de energia) ficam acima do leito e não tem risco porque são fechados. São as caixas dos disjuntores, trancados, travados e vedados com toda a norma de segurança dos Bombeiros", esclareceu.
Plano de contingência
Em nota enviada à reportagem, “o Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), informou que está em plena execução o Plano de Contingência 2023 para assegurar o atendimento nesse período de doenças sazonais”.
“Conforme o Plano, o Hias fez um redimensionamento de pessoal, contratando mais médicos, enfermeiros e técnicos para assegurar o acolhimento a todos os pacientes, inclusive os de nível secundário. Além disso, foram abertos 30 leitos para pacientes crônicos, em ventilação mecânica, realizando a desospitalização dos leitos de UTI, e mais seis leitos de Terapia Intensiva”, diz a nota.
Ainda de acordo com o Albert Sabin, estão em fase de finalização as obras da nova estrutura de emergência terciária para fortalecer a assistência aos pacientes pediátricos de alta complexidade. Na nova emergência, serão acrescidos oito leitos de UTI.
“Neste sábado, 120 crianças foram atendidas na Emergência até o momento. Por ser um hospital terciário de porta aberta, a unidade não recusa o recebimento de pacientes, independentemente da classificação de risco. No entanto, o Hias recomenda que, em casos leves e moderados de gripes e outras viroses, a população deve buscar atendimento nos postos de saúde e UPAs”, diz o Hias.
O Hospital Infantil Albert Sabin conta com 462 leitos, dos quais 287 são de enfermaria, 65 de emergência, 54 de UTI e 56 domiciliares.