Cultura do reaproveitamento transforma resíduos em renda, bem-estar e cidadania
Reaproveitamento criativo e práticas conscientes reforçam o protagonismo da população na construção de uma cidade mais limpa e sustentável

Pensar duas vezes antes de jogar algo no lixo pode parecer um gesto simples, mas tem um grande potencial de transformação. A adoção de práticas sustentáveis de reaproveitamento e reciclagem dos resíduos domésticos ganha cada vez mais força como aliada na preservação ambiental, na geração de renda e na construção de uma consciência coletiva sobre consumo, descarte e responsabilidade cidadã.
Em Fortaleza, ações educativas vêm ganhando força ao aproximar a população dos conceitos de reaproveitamento, redução de resíduos e inclusão produtiva. Tais ações mostram que a sustentabilidade vai além da preservação ambiental em si, pois abrangem também a criatividade para soluções inovadoras, o cuidado com a saúde mental proporcionado por práticas que promovem bem-estar, e a justiça social ao incluírem comunidades e gerarem oportunidades equitativas.
Para a engenheira ambiental Luciane Cardoso, supervisora da equipe de educação ambiental da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), essas práticas cotidianas têm um papel crucial ao promoverem reflexões sobre a crise climática, a poluição e o excesso de consumo. “Muitas vezes, vejo que uma conversa, uma atividade ou uma abordagem específica sobre esses assuntos podem alertar as pessoas para questões mais profundas, a partir do momento em que geram pensamento crítico”, destaca.
Luciane explica que o reaproveitamento de materiais recicláveis em casa pode ir muito além da separação do lixo seco e orgânico. Ideias como produzir brinquedos com as crianças, criar itens de decoração ou utilitários a partir de embalagens e objetos em desuso ajudam não apenas a reduzir a geração de resíduos, como também promovem bem-estar emocional e momentos de conexão em família. “Essas atividades artesanais ajudam a diminuir o estresse, reduzem o tempo de exposição às telas e proporcionam uma sensação de realização que impacta positivamente a saúde mental”, ressalta.
Além disso, esse tipo de reaproveitamento estimula uma consciência crítica sobre o consumo. “Quando começamos a juntar materiais recicláveis para dar um novo fim a eles, também passamos a refletir sobre o quanto consumimos, e muitas vezes de forma desnecessária. Isso pode levar a mudanças de hábito que, mesmo individuais, plantam sementes e podem gerar cobranças mais efetivas em relação a empresas e políticas públicas”, afirma a educadora.
Educação ambiental
Para ela, a educação ambiental não se trata de uma busca pela perfeição, mas sim de uma construção coletiva. “Não precisamos nos tornar salvadores do mundo. Mas o comportamento de formiguinha, quando vai passando de um para o outro, dissemina atitudes e pode transformar o todo”, completa.
Essa lógica se fortalece quando chega também às ruas. Em Fortaleza, associações e cooperativas de catadores são protagonistas na economia circular e na construção de um modelo mais sustentável de cidade. Elas recebem materiais separados pelas famílias, reaproveitam parte para o artesanato ou para uso direto e comercializam o restante com a indústria recicladora.
“As cooperativas têm um papel fundamental na educação ambiental, ensinando à sociedade e à gestão pública como fazer corretamente a destinação dos seus resíduos”, afirma Leina Mara Duarte, presidente da Rede Estadual de Catadores de Resíduos Sólidos do Ceará. Segundo ela, essas organizações também agregam indivíduos em torno de objetivos comuns, gerando trabalho, renda e dignidade para centenas de catadores da capital e do interior do estado. “É um trabalho de reaproveitamento, que transforma o lixo em oportunidade”, resume.
Fortaleza conta hoje com 113 Ecopontos distribuídos pela cidade, onde a população pode descartar corretamente materiais como eletrônicos, móveis, entulhos, podas e recicláveis. A separação dos resíduos domésticos, a valorização do trabalho dos catadores e o reaproveitamento criativo de materiais são caminhos complementares para reduzir impactos ambientais, estimular a cidadania e promover uma cidade mais limpa, inclusiva e consciente.
Esta matéria faz parte da campanha “Juntos Cuidando da Cidade”, uma realização do Sistema Verdes Mares com apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza.