Confirmações de dengue caem pela metade em janeiro, mas quadra chuvosa de 2022 gera alerta no CE
Período favorece a proliferação do aedes aegypti em um contexto de transmissão da Covid e de influenzas; especialista indica vistorias e uso de repelentes
Em janeiro, 222 pacientes receberam o diagnóstico de dengue no Ceará - total 53,5% menor em comparação com a média do mês nos últimos três anos (478 casos). Manter o índice baixo ganha mais relevância na quadra chuvosa, entre fevereiro e maio, e devido à atual transmissão de Covid e influenza. Doença teve recorde de casos no último ano.
Só em 2021 foram 32.244 casos de dengue. Quase 12 mil confirmações a mais do que em 2020 (20.834) e mais que o dobro de 2019 (15.549). Os dados são da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) solicitados pelo Diário do Nordeste.
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O registro do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), da Sesa, foi atualizado na terça-feira (15). Na primeira quinzena de fevereiro, então, as confirmações seguem em queda: apenas nove casos diagnosticados. Mas isso não permite descuidos.
"Quando chega o período da quadra chuvosa há uma concentração de casos de dengue do que no começo do ano", aponta a epidemiologista Caroline Gurgel. O período facilita a proliferação dos mosquitos, que são vetores da doença.
O aumento observado no último ano, entre outras razões, pode ter uma relação com o tipo de vírus predominante. “No caso em questão foi o sorotipo 2, que muitas pessoas não tinham tido contato com ele ainda”, detalha. Em geral, o sorotipo 1 costuma predominar no Estado.
Por vezes, a cada cinco ou 10 anos, há um aumento expressivo do número de casos de dengue, principalmente, por algum sorotipo que está circulando novamente
São produzidos estudos com o histórico da doença no Ceará, mas ainda se procuram explicações ecológicas para a oscilação do número de casos entre anos. "É natural que depois de um ano com muitos casos de dengue, tenha uma queda. Isso vai se repetindo, mas ainda não se observou um ciclo perfeito disso”, frisa.
Quadra chuvosa e circulação viral
O período chuvoso amplia o número de criadouros de mosquitos transmissores da dengue. Também há aumento da umidade do ar e as mudanças na rotina, como ônibus cheios com janelas fechadas, facilitando o contágio por gripe e Covid.
"O que tem em comum é o fato delas se concentrarem no começo do ano, no primeiro semestre, principalmente, quando começam as chuvas", ressalta Caroline Gurgel.
Essa ampliação da intensidade dos vírus circulantes pode causar infecções concomitantes, como explica o médico infectologista, Michel Abdalla. “A grande preocupação de infecções concomitantes é se isso traz risco maior de gravidade, mas aparentemente não se tem relatado”, pondera.
A prevenção das doenças não muda, com a relevância de reforçar os cuidados com máscara adequada, higiene e distanciamento. “A prevenção é a mesma; logo logo devemos ter nova campanha de vacina para a cepa H3N2”, indica sobre a variante da influenza.
O tratamento deve ser o mesmo: se tem influenza, pode usar antiviral; mas não requer nenhuma medida além. Bastante hidratação e repouso na fase inicial
O controle da dengue também depende de ações de saúde pública, como acrescenta Michel Abdalla. “Em relação a coinfecção por arbovírus, temos que controlar o vetor e usar repelentes, que são as prefeituras usando fumacês e agentes de endemias fazendo vistorias”, pontua.
Esforço conjunto
Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde da Sesa, alerta para o aumento de 150% das notificações de arboviroses, como dengue e chikungunya, nas cinco primeiras semanas de 2022.
“Nesse momento, existe uma preocupação especial com a região sul do Estado e que já registra, inclusive, casos confirmados de chikungunya”, detalha. A gestora orienta para eliminar reservatórios descobertos, que possam virar criadouros de mosquitos.
Como é motivo de preocupação para Leonor Salgado que troca diariamente os bebedouros dos passarinhos que cuida em casa. “A caixa d’água é coberta, sempre vem um moço para fazer as manutenções. O lixo daqui é amarrado e colocado numa casinha para não ter perigo de encher de água”, acrescenta.
A moradora entende os cuidados como forma de cuidar da própria saúde e do bem-estar coletivo. “Não só da minha família como da vizinhança toda, porque se eu tiver bem meus vizinhos também estarão bem”, reflete.
Almira Cardoso, de 55 anos, entende bem o risco de ter criadouros de mosquitos na vizinhança. “Aqui tem um sítio muito cheio de mato, lama, e a gente tem cuidado na nossa casa, mas os outros não têm”, relata a auxiliar de farmácia.
Dessa forma, vieram os diagnósticos de dengue, gripe e Covid no último ano. “Tive febre, aquelas manchinhas no corpo, dor de cabeça, passei o dia em observação, mas o tratamento foi em casa”, lembra sobre o quadro de dengue.