Dengue, gripe e Covid: aumento de casos previsto para 2022 exige atenção a sintomas e testagem
Causador das maiores epidemias em Fortaleza, sorotipo 2 da dengue deve circular com força num cenário já afetado pelas doenças respiratórias
A saúde no Ceará amarga quase dois anos de preocupação, em meio à pandemia, e o primeiro semestre de 2022 não deve dar trégua. Além das doenças respiratórias, a chegada das arboviroses se impõe como alerta, exigindo atenção a sintomas e intensificação da testagem.
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Neste ano, o Estado teve aumento expressivo de incidência das arboviroses em relação a 2020, principalmente da dengue. Até o dia 6 deste mês, 31.185 casos de dengue foram confirmados no Ceará, 31 deles graves. Destes, 19 pacientes morreram. Ano passado, no mesmo período, foram 20.550 infecções (34% a menos).
Os dados são do mais recente boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), que aponta ainda para maior probabilidade de disseminação do sorotipo 2 da dengue – que “oferece maior risco de casos graves e óbitos, principalmente em crianças”.
Chikungunya e zika tiveram menores incidências no Ceará, neste ano, com 827 e 175 casos confirmados, respectivamente, segundo a Sesa. Entre os pacientes infectados pelo zika vírus, 10 eram gestantes. Nenhuma morte pelas arboviroses foi contabilizada.
“Ano de 2022 é de apreensão”
Ao longo da pandemia de Covid, a maior permanência das pessoas em casa e "uma possível subnotificação de casos" podem ter contribuído para reduzir os registros de arboviroses no Estado, como destaca Luciano Pamplona, epidemiologista, pesquisador e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ano que vem, contudo, “deverá ser de apreensão” em relação às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, que já vêm causando surtos "importantes" em vários estados do Nordeste, como cita Pamplona.
Não temos informação precisa da real infestação nos municípios, e temos a recirculação do sorotipo DENV-2. Isso nos deixa apreensivos em relação ao cenário do primeiro trimestre.
O pesquisador, que é membro da Rede Nacional de Especialistas em Zika e Doenças Correlatas (Renezika), projeta que "nas próximas semanas, por uma questão de sazonalidade", a incidência de doenças respiratórias aumentará, cenário que pode gerar confusão de sintomas e diagnósticos.
"Os casos de arboviroses, principalmente em crianças, também podem cursar com sintomas respiratórios. Desta forma, será ainda mais importante que pessoas sintomáticas busquem atenção médica e que sejam solicitados exames capazes de comprovar o tipo de infecção", adverte Luciano.
Crianças estão mais expostas
Pacientes com dengue, chikungunya ou zika tendem a apresentar menos sintomas respiratórios, segundo Pamplona, exceto as crianças – e são elas as que mais preocupam as autoridades de saúde, como frisa Nélio Morais, coordenador de Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS).
O gestor pontua que o sorotipo 2 da dengue foi causador das maiores epidemias da doença na capital, mas estava há quase 10 anos sem circular. “Entre 2009 e 2019, mais de 400 mil crianças nasceram em Fortaleza, e nenhuma delas está imunizada por ter pego a doença. É um cenário muito vulnerável e ameaçador”, alerta Nélio.
Existe uma gama da população que nunca teve dengue. Mais da metade da população de Fortaleza está vulnerável a uma infecção pelo sorotipo 2. Em 2021, já tivemos 5 óbitos, inclusive de crianças.
Nélio informa que o sorotipo 2 da dengue já foi identificado circulando em mais de 40 bairros de Fortaleza, em 2021, e já é o que predomina entre os diagnosticados com a doença. “Sempre que um sorotipo retorna, ele causa um impacto de transmissão muito forte”, reforça.
Conforme a Sesa, a reintrodução do DENV-2 já foi detectada em 31 municípios cearenses, “principalmente nas regiões leste e norte do Estado”, revela o boletim epidemiológico.
Diferença de sintomas de Covid e arboviroses
Os especialistas em saúde são unânimes quanto à necessidade de garantir a testagem de pacientes com sintomas gripais ou respiratórios no Ceará, a fim de identificar qual é o real causador. Num contexto em que Covid, influenza, dengue, chikungunya, zika e outros vírus preocupam, isso se torna obrigatório.
“A SMS tem capacitado os profissionais para diagnóstico e encaminhamento correto dos pacientes. Toda virose tem sintomas semelhantes, e como os casos de influenza, gastroenterites, Covid e arboviroses vão aumentar, é preciso redobrar a atenção”, destaca Nélio Morais.
Se sentiu mal, teve algum sintoma, busque uma unidade de saúde: não se automedique nem se ‘consulte’ com amigos e vizinhos que tiveram algo parecido.
O epidemiologista Luciano Pamplona também aponta que a testagem dos casos é indispensável para traçar ações de saúde pública. “Tanto na rede pública do Ceará como na rede privada, dispomos de testes capazes de confirmar os casos de dengue, chikungunya ou Covid-19”, diz.
Sintomas de dengue
Febre entre 2 e 7 dias e dois ou mais dos sintomas:
- Náuseas;
- Vômitos;
- Erupções ou manchas na pele;
- Dor no corpo;
- Dor nas articulações;
- Dor de cabeça;
- Dor nos olhos.
Além disso, a Secretaria da Saúde considera resultados de exames clínicos e laboratoriais no diagnóstico.
Sintomas de chikungunya
- Febre súbita superior a 38,5ºC;
- Dor nas articulações ou
- Artrite intensa, de início agudo.
Sintomas de zika
Manchas vermelhas na pele e pelo menos um dos sintomas abaixo:
- Febre;
- Conjuntivite não-purulenta;
- Dor nas articulações;
- Edema nas articulações.
Sintomas de influenza (gripe)
- Febre;
- Dor de garganta;
- Tosse;
- Dor no corpo;
- Dor de cabeça.
Só em dezembro, o Ceará registrou 18 casos confirmados de influenza A H2N2, um deles cujo paciente desenvolveu Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A Sesa lançou, inclusive, nota de alerta a profissionais de saúde e à população.
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Sintomas de Covid-19
Manifestações da doença pandêmica variam a depender do organismo e do quadro de gravidade, mas incluem, em geral:
- Febre;
- Tosse;
- Fadiga;
- Dor de garganta ou coriza;
- Dor no corpo;
- Dor de cabeça.
Em alguns casos, há perda de olfato e paladar, falta de ar e cansaço. Com a incidência de variantes do Sars-CoV-2, os sintomas têm sido variáveis e múltiplos.
Prevenção da dengue e outras arboviroses
De acordo com o último Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa), 34 municípios do Ceará tinha, até 8 de dezembro, média ou alta infestação do popular “mosquito da dengue”.
Os focos do Aedes aegypti predominaram nos depósitos localizados ao nível do solo (barris, poços, tambores e tanques), com 68,93%; seguidos pelos depósitos móveis (vasos/frascos, pratos, pingadeiras, bebedouros, baldes), com 11,47%.
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O coordenador de Vigilância em Saúde da SMS, Nélio Morais, relembra que 8 a cada 10 focos do mosquito estão dentro das residências, exigindo que a população cumpra a obrigação de eliminá-los.
“A chuva vai propiciar que os depósitos inservíveis que estão em praças, jardins, ruas e no quintal das pessoas acumulem água. Em 2020, os agentes de endemias não puderam entrar nas casas, devido à pandemia, tornando o risco imenso”, alerta.