Período de chuvas intensifica proliferação de muriçocas; veja como se prevenir

Moradores de diversos bairros de Fortaleza relatam aumento na circulação dos insetos principalmente no início da noite

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Muriçocas costumam sair no fim da tarde para buscar alimento.
Foto: Érika Fonseca

“Ninguém aguenta”, “tá tendo demais”, “tomando banho de repelente”: com o início do período chuvoso, as reclamações do cearense também voltaram com mais frequência sobre o aumento do número de muriçocas circulando e, consequentemente, picando. Embora representem mais incômodo do que ameaça, elas podem trazer transtornos para quem é alérgico a toxinas.

Lidiana Freire, que mora no Parque Genibaú, notou o aumento no começo deste mês mesmo com o quintal “sempre limpo”. Ela própria não sofre tanto, mas a filha mais nova, que é alérgica, sim.

“Começam a aparecer manchas vermelhas, como pequenas bolhas que coçam bastante. Passo repelente nela e às vezes uso inseticida na casa. Geralmente, os métodos que uso funcionam. Não 100%, mas funcionam”, explica.

No Bairro Vila Velha, a esteticista Laiana Maria reparou no acréscimo ainda em dezembro porque, também alérgica, sente na pele a insistência dos insetos, “principalmente no finalzinho da tarde para início da noite”.  

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Para ela, o foco das muriçocas pode ser uma casa abandonada vizinha à sua casa. Laiana já tentou utilizar hidratante corporal para afastar os mosquitos, seguindo recomendações de conhecidos, mas não surtiu efeito.

“As picadas causam um grande desconforto, pois coçam muito, chega a ser irritante. O pior de tudo é que no local da picada fica sempre uma mancha, que leva algum tempo para sair. Esteticamente, me incomoda. Atualmente, uso repelente para evitar, e tem me ajudado”, conta.

Moradores dos bairros Benfica, São Gerardo, Rodolfo Teófilo e Cidade 2000 também confirmaram o aumento, mesmo em apartamentos de andares mais elevados. Os relatos são unânimes em definir o fim da tarde, a partir das 17h, como o momento de início dos “ataques”.

Para lutarem contra os mosquitos, as pessoas vêm recorrendo a diversas estratégias. Vinagre de maçã, repelentes, raquetes elétricas e o uso de roupas mais longas estão entre as alternativas.

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Recomendações contra os mosquitos

Essas são as mesmas recomendações da médica dermatologista Hercília Queiroz, para quem a prevenção mais importante é a barreira física, seja com calças ou pijamas. Já o uso de repelentes deve levar em conta a substância com a qual são produzidos e a idade das crianças que possam viver na residência, para evitar irritações.

Repelentes naturais podem ser desenvolvidos por receitas caseiras, as mais comuns com eucalipto, citronela, cravo da índia e vinagre de maçã ou álcool. A diferença para o repelente industrial, que dura de 8h a 12h, é que esses duram de 2h a 4h. Nos dois casos, tem que ter cuidado com as mucosas e com a ingestão oral.
Hercília Queiroz
Dermatologista

Hercília explica que, na maioria dos casos, há uma sensibilização a alguns antígenos provenientes das toxinas liberadas na picada, geralmente em membros superiores e inferiores.

“São pequenas bolhas cuja base tem uma vermelhidão proveniente da secreção de algumas substâncias liberadas pela reação do sistema imune”, explica. As lesões podem surgir “poucos minutos” após o contato, e a resolução costuma ser espontânea e progressiva, em até quatro dias.

Saiba o que a especialista fala sobre pessoas mais sensíveis às picadas:

A médica reforça que casos mais sérios devem ser analisados e tratados por dermatologistas ou pediatras. 

De acordo com o Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde (MS), áreas urbanas carentes de saneamento são as mais propícias ao desenvolvimento do Culex. Durante o dia, as muriçocas tendem a permanecer em repouso abrigadas nos domicílios, principalmente nos quartos, embaixo e atrás de móveis.

Tire dúvidas sobre as muriçocas

Para explicar melhor o comportamento da muriçoca, o Diário do Nordeste conversou com  o médico veterinário Atualpa Soares, gerente da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covis) da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS).

O que é a muriçoca, como se reproduz e a que horas ataca?

Esse é o mosquito do gênero Culex, que geralmente se prolifera em qualquer água, inclusive suja de córregos, lagoas ou bueiros, por isso esse quantitativo é tão exacerbado. Eles buscam o ataque principalmente no final da tarde e início da noite. A diferença para outros mosquitos é que ela é insistente e persistente, então vai continuar até atingir seu objetivo.

Por que ocorre esse aumento no início do ano?

Mosquitos, baratas, formigas e escorpiões coabitam o ambiente conosco, em locais geralmente mais escuros onde não tem interferência do humano, como bueiros e terrenos baldios. Quando a chuva vem, ela adentra esses locais e os expulsa, então eles buscam novo abrigo dentro das nossas casas. Além disso, a chuva pode ajudar na proliferação pelo acúmulo de água. Também há aumento de moscas porque elas buscam matéria orgânica.

Legenda: À procura de sangue para se alimentar, muriçoca tende a ser mais insistente que outros mosquitos.
Foto: Érika Fonseca

Quais são as recomendações de prevenção?

Nesse horário de final da tarde, é importante vedar a casa, portas e janelas, e esperar passar esse período, até 18h30, 19h. Além disso, usar repelentes e mosquiteiros clássicos. Não existe previsão legal no SUS para combate dos mosquitos, com exceção do Aedes aegypti, então a população que se sinta mais prejudicada pode buscar serviços particulares de controle de pragas.

Muriçocas costumam voar alto? Quem mora em apartamento está seguro?

Quanto mais alto, mais seguro. Mas, nos últimos anos, temos percebido a adaptabilidade de algumas espécies. A gente brinca que, com o tempo, elas vão subindo alguns degraus.

As muriçocas podem transmitir doenças que preocupam a saúde pública?

Hoje, no Brasil, não, mas o Culex pode estar associado à transmissão de doenças como a febre do Nilo. Mas hoje, no Ceará, comprovadamente não temos doenças associadas a ele. O maior problema, além do incômodo, é o aparecimento de dermatites, principalmente em crianças e idosos.

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Como diferenciar a muriçoca do Aedes aegypti?

Pela picada, não tem como descobrir. Se conseguir matar, pode tentar observar. Ela faz muito barulho, que chateia, e é mais clara que o Aedes. Se tiver dúvida, pode procurar a nossa vigilância ambiental. O Aedes gosta de locais isolados, já o Culex se adapta a qualquer espaço. Mas, independente da picada, monitore. Se desenvolver sintomas, você pode ter sido infectado com dengue e deve buscar o serviço de saúde.

A Covis realiza algum trabalho de prevenção às muriçocas?

O trabalho contra o Aedes ajuda no controle do Culex. Desde o final do ano passado, estamos com a Operação Inverno. Além do fumacê, eliminamos focos em potencial e utilizamos larvicidas, que matam qualquer tipo de larva. Até fevereiro, estamos intensificando essas ações em 50 bairros. 

Atualpa reforça que a população deve se engajar na eliminação de criadouros de mosquitos nas residências porque essas ações ajudam na prevenção de doenças como dengue, zika e chikungunya.

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