Com Covid em queda, outras doenças sazonais alertam autoridades de saúde; saiba quais

Nesse período, já é esperado o aumento de determinadas enfermidades no Ceará, mas é preciso evitar grandes surtos que possam sobrecarregar a rede de saúde

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
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Legenda: Em Fortaleza, nas 12 Unidades de Pronto Atendimento, entre janeiro e abril foram mais de 70 mil atendimentos por síndromes gripais.
Foto: Kid Jr

A transmissão da Covid em Fortaleza é considerada limitada e residual, no atual momento. Isso não significa que se pode baixar a guarda, e sim que a preocupação com a doença não é mais tão extrema, como já foi.

Mas, no cenário epidemiológico, devido à sazonalidade, sobretudo, ligada à quadra chuvosa, autoridades de saúde olham com atenção e pedem reforço no cuidado de: síndromes gripais, principalmente em crianças; as arboviroses e até pneumonias atípicas.

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Nesse período, geralmente, já é esperado que haja no Ceará aumento de doenças como influenza e dengue, por exemplo.Mas, o que se busca evitar é que ocorram grandes surtos que possam gerar uma sobrecarga na rede de atendimentos e os pacientes acabem sofrendo ainda mais com a alta demanda. 

Por isso, essas enfermidades são as que mais preocupam no atual momento e há monitoramento da ocorrência de casos acima do previsto, bem como acompanhamento se eles são mais graves que o esperado.  

O Diário do Nordeste ouviu profissionais da área da saúde para explicar quais as doenças sazonais demandam atenção e o que pode ser feito para evitá-las. São elas: 

  • Síndromes gripais
  • Arboviroses
  • Pneumonias atípicas

Apesar da queda, cuidado com Covid permanece

vacinação
Legenda: Uma das orientações é justamente reforçar a cobertura vacinal tanto da Covid, como das demais doenças que têm vacina
Foto: Fabiane de Paula

Em Fortaleza, a terceira onda da Covid foi finalizada em março de 2022, e agora “a transmissão é considerada limitada, residual e circunscrita a nichos”, explica o gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Antônio Lima. 

O pico de transmissão da ômicron, lembra ele, se concentrou em janeiro. Depois a queda foi muito rápida. Há 40 dias, diz, a média móvel de casos em Fortaleza está entre 10 e 20 casos por dia, “que é muito pequena para uma cidade de 2,6 milhões de habitantes”, completa. 

Mas isso não significa que é possível relaxar. A Covid continua sendo alvo de atenção, das autoridades sanitárias, até que, de fato, a pandemia chegue ao fim.

A médica de família e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Magda Almeida, ressalta que “a Covid é uma síndrome gripal e pode ter mutações”. 

"À medida que vai passando o tempo, a imunidade vai caindo, por isso o reforço na imunização. Não é o caso de esquecer a Covid, é preciso estar bastante atento. Continuar fazendo exame. Sequenciamento genético para que o vírus não se dissemine rápido”. 
Magda Almeida
Médica e professora da Faculdade de Medicina da UFC

Síndromes gripais e olhar atento às crianças

Em relação às síndromes gripais, cujo aumento já é esperado nesse período do ano, têm alertado a demanda, sobretudo, de crianças doentes. 

Em Fortaleza, nas 12 Unidades de Pronto Atendimento (Autran Nunes, Bom Jardim, Canindezinho, Conjunto Ceará, Cristo Redentor, Edson Queiroz, Itaperi, Jangurussu, José Walter, Messejana, Praia do Futuro e Vila Velha), os atendimentos por síndromes gripais foram: 

  • Janeiro: 37.914
  • Fevereiro: 8.122
  • Março: 11.695
  • Abril: 12.945

Desses, 12.536 foram atendimento de crianças de menos de um ano a 9 anos de idade. 

Antônio Lima diz que uma série de aspectos podem fazer crescer o número de casos e o que pode estar ocorrendo, dentre outras explicações, é que as crianças voltaram a conviver mais e muitas delas, devido às restrições da pandemia, não adquiriram a imunidade natural, e o sistema imunológico não se desenvolveu tanto.

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Outro ponto que pode explicar esse aumento de casos está ligado às coberturas vacinais. Tanto pela perspectiva que os índices de imunização precisam crescer para reduzir a exposição das crianças a diversos vírus, como é também discutido que há o gargalo do período tardio da vacina contra a influenza, por exemplo, no Nordeste. 

“Há uma discussão do Nordeste sobre a antecipação das vacinas contra a gripe, porque nossa quadra chuvosa é de fevereiro. Mas, acabamos vacinando em abril, quando parte das crianças já adoeceram. É uma questão antiga e histórica. Há muito tempo nós pedimos (ao Ministério da Saúde) para antecipar o Calendário Nacional de Vacinação da Gripe nas cidades do Norte e Nordeste.”. 
Antônio Lima
Epidemiologista e gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde

No Sudeste, lembra ele, o crescimento da circulação do vírus respiratórios é associado à queda das temperaturas. Já no Norte e Nordeste a sazonalidade é relacionada à chuva. 

Para evitar que a transmissão aumente, é preciso manter medidas de higienização também adotadas contra a Covid, como o uso de máscaras quando houver algum sintoma gripal e limpeza constante das mãos. “Precisa manter as medidas de etiqueta respiratória e fazer testes. Além disso, não mandar criança para creche se estiver com sintomas”, acrescenta a médica Magda Almeida. 

Outro ponto é que as gestões (prefeituras e governos) precisam monitorar os casos, justamente para que naqueles em que há maior gravidade e demandas por internações, haja assistência adequada, com o remanejo do paciente de unidade ou a ampliação de leitos.

Das arboviroses, Chikungunya predomina

Em relação às arboviroses, Antônio Lima, Gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da SMS, diz que os casos de dengue são poucos e estão dentro do esperado. “Provavelmente, vamos passar sem epidemia”, completa. Conforme o boletim epidemiológico mais recente, foram 908 casos até o dia 23 de abril

Já chikungunya, não. Segundo o boletim, foram 1.061 ocorrências. Antônio explica que o padrão de transmissão de chikungunya teve duas ondas sucessivas na Capital, em 2016 e 2017.

Esse ano “tivemos um aumento muito concentrado em áreas da regional seis, em bairros como Cidade dos Funcionários, Luciano Cavalcante, Jardim das Oliveiras”, completa.  

mosquito
Legenda: Quintais e áreas com entulhos são espaços com foco do Aedes Aegypti
Foto: Kid Jr

De acordo com ele, a circulação retornou, mas ainda há uma imunidade. “Está circulando nas áreas que foram menos afetadas antes. Ainda vai haver transmissão e alguma dispersão para outros bairros”, completa. 

A orientação é recorrente todos os anos: não deixar água acumulada para não gerar criadouros para o mosquito transmissor. Esse ano, um dos gargalos que se repete no combate é que áreas como quintais e aquelas que acumulam entulho são as que mais resultam em foco.  

Ocorrência de casos de pneumonias atípicas

Outra doença que tem ocorrido com frequência, relata a médica e professora da Faculdade de Medicina da UFC, Magda Almeida, é a chamada “pneumonia atípica”.

“Temos três tipos de bactérias, a gram-positiva, a gram-negativa e os germes que chamamos atípicos. Eles causam quadro de infecção viral e não dão a pneumonia bacteriana, mas dão a pneumonia atípica, que tem um exame parecido com o vírus, mas o exame de sangue é parecido com o de bacteria”. 
Magda Almeida
Médica e professora da Faculdade de Medicina da UFC

Esse tipo de pneumonia, diferente das mais habituais, que são causadas por bactéria (pneumococo, uma bactéria gram-positiva) e tem vacina para prevenir, geralmente é transmitida por meio do contato com gotículas de saliva da pessoa infectada. 

Além disso, lembra Magda, as doenças imunopreveníveis, como coqueluche e sarampo, se a cobertura vacinal for baixa, a população acaba ficando suscetível. Tudo isso, reforça ela, influencia um cenário de maior ou menor alerta diante das ocorrências. 

 

 

 

 

 

 

 

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