Ceará tem 83,6% das crianças alfabetizadas; três cidades não atingem nível desejado, aponta Spaece

O Spaece Alfa é uma avaliação externa feita anualmente pela Seduc nos 184 municípios cearenses e aponta o desempenho dos alunos do 2º ano do ensino fundamental

Escrito por
Thatiany Nascimento thatiany.nascimento@svm.com.br
(Atualizado às 15:13, em 05 de Setembro de 2025)
Crianças sentadas no chão de uma sala de aula, vestindo camisetas brancas, olham atentamente para livros coloridos abertos em suas mãos
Legenda: A prova do do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece) é realizada anualmente pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc), nas 184 cidades cearenses, para os alunos do 2º, 5º e 9º ano do fundamental e 3ª série do ensino médio
Foto: Fabiane de Paula

No Ceará, de um total de 87,6 mil crianças que estavam no 2º ano do ensino fundamental (série que junto a 1ª tem como foco a alfabetização) em 2024, 83,6% estavam alfabetizadas. O índice foi medido no Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece), prova realizada anualmente pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) nas 184 cidades cearenses para os alunos do 2º, 5º e 9º ano do fundamental e 3ª série do ensino médio. Os dados de 2024 foram publicizados pela gestão nos últimos dias do mês passado.

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A avaliação censitária aplicada em larga escala, de modo geral, mede o desempenho dos alunos do Ceará em português e matemática e apresenta o retrato mais atualizado da aprendizagem em cada município, com nível de detalhamento por rede escolar, escola e turma. Este ano, a avaliação do 2º ano, chamado de Spaece-Alfa, passou a trabalhar em uma escala de 0 a 1000. 

Nesse parâmetro é considerada alfabetizada a criança que alcança 600 pontos de proficiência. Como esse parâmetro foi alterado, não é adequado comparar as proporções de agora com índices do Spaece de anos anteriores. 

Nesse quesito, quando analisados os resultados por cidades - no qual é considerada a média de todas as escolas da rede que fizeram a avaliação -, três  municípios, todos localizados no Cariri, não conseguiram atingir os 600 pontos, são eles: Juazeiro do Norte, Barro e Penaforte. Na prática, quer dizer que nesses municípios menos de 50% das crianças do 2º estavam alfabetizadas em 2024. 

Isso não significa que essas cidades não tenham um trabalho de alfabetização. Nelas os índices evidenciam que um grupo de crianças conseguiu atingir o nível desejado, mas ainda há outro grupo expressivo que não alcançou e isso se refletiu na média. Com isso, na escala de proficiência da cidade, o nível foi considerado básico (atingiu entre 500 e 600 pontos na escala). Em Barro 46,4% das crianças estavam alfabetizadas; em Juazeiro do Norte, 46,4%; e Penaforte, 49,65%.  

Nas demais cidades do Ceará o cenário foi diferente, com os municípios sendo enquadrados como proficientes (atingiu entre 600 e 700 pontos) ou avançadas (mais de 700 pontos). Em todos os demais, mais de 54% das crianças estavam alfabetizadas. No total, 25 cidades atingiram o índice de 100% de alfabetização. (Confira lista abaixo)

  • Catunda
  • Ipaporanga
  • Ipueiras
  • Nova Russas
  • Antonina do Norte
  • Baixio
  • Potiretama
  • Farias Brito
  • Choro
  • Piquet Carneiro
  • Solonópole
  • Alcântaras
  • Coreau
  • Forquilha
  • Graça
  • Groaíras
  • Hidrolândia
  • Meruoca
  • Mucambo
  • Pacujá
  • Pires Ferreira
  • Reriutaba
  • Senador Sá
  • Varjota
  • Guaramiranga

O Diário do Nordeste entrou em contato, na terça-feira (2), com as gestões municipais de Juazeiro do Norte, Barro e Penaforte. A Secretaria Municipal de Barro disse que não irá se pronunciar sobre o assunto, a de Juazeiro enviou uma nota e a de Penaforte não se manifestou. 

Após a publicação da matéria, a Prefeitura de Juazeiro, em nota,  disse que "desde a publicação do resultado preliminar (do Spaece), a gestão municipal replanejou ações, redefiniu rotas e intensificou o monitoramento nas unidades escolares, com foco no fortalecimento dos indicadores de alfabetização".

Conforme a gestão, ações estão sendo realizadas dentro do programa Educa Juazeiro que conta também iniciativas de recomposição de aprendizagem durante as férias, atividades de reforço escolar e socialização e momentos lúdicos que estimularam o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos estudantes.

As atividades, assegura a gestão, "terão continuidade ao longo do segundo semestre letivo, com foco na recomposição da aprendizagem". Em paralelo, a Seduc "vem intensificando o acompanhamento pedagógico nas escolas, monitorando o nível de leitura, interpretação de texto e demais aspectos essenciais do processo de aprendizagem".

Nível de proficiência no Spaece-Alfa Português na escala de 0 a 1000 pontos

  • Abaixo do Básico: menor do que 500
  • Básico: maior ou igual a 500 e menor do que 600
  • Proficiente: maior ou igual a 600 e menor do que 700
  • Avançado: maior ou igual a 700

Os resultados do Spaece são geralmente anunciados pelo próprio Governo do Estado ainda no primeiro semestre do ano. Mas em 2025 os dados foram disponibilizados para as redes escolares em julho e publicizados para a população geral no fim de agosto, sem a ocorrência ainda de um evento oficial por parte da gestão. 

As informações são sempre referentes ao Spaece aplicado no ano anterior e buscam fazer uma espécie de raio X do desempenho dos estudantes nas etapas de encerramento de ciclo nos componentes de português e matemática. Vale destacar que, no ensino fundamental, a responsabilidade pela oferta está, em grande parte no Ceará, é concentrada nas redes municipais, ainda que o Estado tenha algumas escolas com essa etapa de ensino. 

O resultado do Spaece-Alfa foi semelhante aos verificados no Indicador Criança Alfabetizada (ICA), divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), em julho. Na avaliação nacional o Ceará se manteve como o único estado brasileiro a alcançar 85% das crianças da rede pública alfabetizadas na idade certa em 2024, sendo o maior índice do país. 

Fatores específicos de cada rede

A secretária executiva de Cooperação com os Municípios da Seduc, Emanuelle Grace, reitera que as cidades que não alcançaram os 600 pontos na média “não chegaram ao padrão esperado”, por isso, precisam de atenção especial e “fortalecer o olhar para esses municípios”. De acordo com ela, as redes são muito diversas e distintos fatores podem implicar para o êxito ou o não alcance dos níveis desejados. 

Outro fator mencionado são as redes escolares que apresentaram índices muito discrepantes com extremos como: o desempenho muito elevado de um grupo de alunos ou escolas e na outra ponta resultados muito aquém do esperado. 

“Estamos fazendo essa análise continuamente. Grupo de municípios que percebemos maiores desigualdades nos resultados. E estamos tentando cooperar com atendimento com mentoria, trabalho de visitação, de apropriação de resultados, de desenho de planos estratégicos para que a gente possa melhorar”, destaca. 

Nos casos em que há grandes desigualdades nos resultados internos de cada rede, a equidade - um dos fatores consideráveis no processo educacional - acabam sendo pouco desenvolvida, e isto precisa ser revisto, acrescenta ela, para que haja desenvolvimento. 

Avaliação também em matemática

Em 2024, o Spaece trouxe uma novidade no quesito matemática: as crianças do 2º ano foram avaliadas pela primeira vez nesse componente, já que antes a verificação, nesta etapa, contemplava apenas português. Já nas demais, os alunos continuam sendo avaliados nos dois componentes

Na matemática, a escala também varia de 0 a 1000, mas o padrão desejado é alcançado com 500 pontos. Isso para os alunos do 2º ano. Já para os do 5º e 9º do fundamental e 3 ano do ensino médio, a escala de pontuação vai de 0 a 500. 

Nível de proficiência no Spaece-Alfa Matemática na escala de 0 a 1000 pontos

  • Abaixo do Básico: menor do que 400
  • Básico: maior ou igual a 500 e menor do que 500
  • Proficiente: maior ou igual a 500 e menor do que 600
  • Avançado: maior ou igual a 600

Em matemática, que é um dos gargalos históricos nas demais etapas de ensino, no Spaece-Alfa, todos os municípios do Ceará alcançaram em 2024 o nível proficiente ou avançado. Isso, conforme a Seduc, faz com que, de modo geral, as 184 cidades tenham atingido o que era  esperado. 

Mas, também nesse componente, cidades como Juazeiro do Nordeste e Barro, tiveram ao menos 40%  dos alunos no nível básico ou abaixo do básico. O que configura os piores resultados. 

Criança em sala de aula escreve em um caderno sobre a carteira escolar, enquanto colegas ao fundo também participam das atividades
Legenda: Em 2024, o Spaece trouxe uma novidade no quesito matemática: as crianças do 2º ano foram avaliadas pela primeira vez nesse componente, já que antes a verificação, nesta etapa, contemplava apenas português
Foto: Divulgação/Prefeitura de Fortaleza

Sobre o início do monitoramento em matemática no 2º ano, a secretária executiva de Cooperação com os Municípios da Seduc, Emanuelle Grace, explica tem como finalidade “já trabalhar essas crianças com um melhor norte”, de modo que a partir do diagnóstico seja possível direcionar a execução de políticas desde o início do fundamental.  

“Começando antes esse trabalho, a gente consegue minimizar as defasagens. Consegue ir resolvendo melhor já desde o início da caminhada para que a criança possa se desenvolver”, completa. 

O que mudou na escala do Spaece Alfa?

Na avaliação dos resultados do Spaece esse ano, a Seduc alterou a escala de proficiência para os alunos do 2º ano do fundamental. Antes era de 0 a 500 (tal qual ainda é para 5º, 9º e 3º do ensino médio) e agora passou a ser de 0 a 1000 para os componentes de português e matemática

Esse é o primeiro ano da transição e, na prática, explica a representante da Seduc, não significa que os critérios em si mudaram, mas que a escala foi ampliada deixando mais sensíveis os níveis de diferenças entre um nível e outro. “Agora, é possível discriminar melhor essa qualidade da educação”, aponta ela. 

A alteração segue dois movimentos paralelos, um de aproximar os índices estaduais aos parâmetros das avaliações nacionais, já que a prova do Spaece-Alfa é utilizada também para o monitoramento do Indicador Nacional Criança Alfabetizada do MEC, e outro para atualização do monitoramento em si, de modo a torná-lo mais sensível e acurado.  

A alteração teve início no 2º ano e, segundo  Emanuelle Grace, não há previsão de quando chegará às demais séries avaliadas. “Nesse cenário, vamos primeiro fechar essa transição para depois olharmos as demais séries”, finalizou. 

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