Os fortalezenses tiveram um trovão grandioso como despertador, entre às 4h e 5h, desta segunda-feira (10). O raio que causou o fenômeno provavelmente caiu no Oceano, mas não há um registro do ponto preciso, e gerou um tremor em alguns lugares da cidade. Entre os assustados, uma pergunta: por que o fenômeno foi tão alto?
A capital cearense teve a formação de uma nuvem cumulonimbus, do tipo que fica por volta de 1,5 mil metros e 12 mil metros de extensão. No interior dessa nuvem, há uma movimentação de ventos e gelo, como explica Agustinho Brito, meteorologista na Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
“Quando o raio se forma e cai, gera uma forte expansão do ar. O raio é eletricidade e no fio, por exemplo, aquece. Então, os raios aquecem o ar e isso gera um deslocamento, como uma bomba, e tem essa onda sonora que chamamos de trovão”, detalha.
Agustinho contextualiza que a parte mais profunda da nuvem estava no Oceano, onde se concentram os raios e a chuva. Por isso, apesar do trovão, não houve uma precipitação intensa na cidade. Aliás, Fortaleza registrou apenas 33,2 milímetros entre às 7h do domingo (9) e às 7h desta segunda.
“Como o raio caiu muito próximo de Fortaleza, o trovão foi muito instantâneo e algumas regiões tiveram as janelas tremendo pelo deslocamento de ar, como ali na Beira Mar”, completa Agustinho.
Mas o estrondo foi ouvido até em outras cidades na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e isso acontece devido às altas velocidades, conforme Ednardo Rodrigues, membro do Grupo de Proteção contra Descargas Atmosféricas.
“O trovão ocorre porque as cargas elétricas quando escapam das nuvens, se deslocam em velocidades supersônicas. E podem ser ouvidos a pelo menos uma dezena de quilômetros que é mais ou menos a distância entre Fortaleza e Caucaia”, completa.
A formação de um raio ainda é um mistério, como aponta Ednardo que também participa do Laboratório de Sistemas de Forças Motrizes da Universidade Federal do Ceará (UFC). Mas a resposta pode estar nos cristais de gelo que se formam nas nuvens até de lugares quentes como o Ceará.
Esses cristais têm uma propriedade de acumular muita carga elétrica. Quando o campo elétrico atinge entre 100 e 400 kV/m, o ar úmido deixa de ser isolante e por isso as cargas começam a cair em direção a terra.
Isso aquece o ar deixando um rastro de luz que conhecemos como raio. Isso também provoca um grande deslocamento do ar e por isso ouvimos um estrondo que chamamos de trovão
Além do barulho, a experiência de “fim do mundo”, como alguns moradores definiram, veio junto com a sensação de tremor. “Um raio nuvem-solo geralmente faz a terra tremer. Porque as vibrações além de se propagarem pelo ar, também são dissipadas na Terra”, completa.
Entenda o fenômeno
As nuvens cumulonimbus são formadas no Ceará devido a atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é a principal indutora de chuvas neste período.
“Está atuando desde o início de março e ontem à noite teve a formação de áreas de instabilidade, que são formadas por essas nuvens e formam raios. Nem toda vida vai ter raios, mas ontem as condições colaboram muito próximo à Fortaleza”, pondera Agustinho.
Os raios podem ser nuvem-solo, solo-nuvem ou nuvem-nuvem. No caso desta madrugada, o raio caiu nas águas do mar e, apesar de não ter registros, dá para imaginar uma demonstração da grandiosidade da natureza.
Os trovões não representam um risco para a população, mas sim o que acontece antes dele: o raio. Ednardo orienta que os para-raios devem ser instalados apenas com apoio de profissionais e não de forma improvisada.
“Só um engenheiro eletricista pode projetar e instalar para-raios. Se o fizer de maneira inadequada, o para-raio pode atrair um perigo que nem viria em direção a sua casa. Por exemplo, apenas para-raio com apenas um cabo conectado à terra é um perigo”, frisa.
Em Fortaleza, ocorrem cerca de 1,43 raio por ano em cada quilômetro quadrado e a cidade está na posição 141 no ranking estadual. No Crato, que fica na região do Cariri, essa taxa é quatro vezes maior e está na posição 27.
Em primeiro lugar está o município de Granja, na região Norte, com cerca de 10,1 raios por ano em cada quilômetro quadrado. Os dados são do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.