Alunas do Ceará são únicas meninas a representar o Brasil em Olimpíada de Química na China

Adolescentes passaram por fases estaduais e nacionais para conquistar uma das 10 vagas brasileiras no concurso internacional

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Sophia e Ayumi são duas únicas meninas a representar o Brasil em Olimpíada Internacional de Química
Legenda: Sophia e Ayumi são duas únicas meninas a representar o Brasil em Olimpíada Internacional de Química
Foto: Arquivo pessoal

Representar o Ceará, o Nordeste, o Brasil. As meninas na ciência. É com esse feito na mala que as estudantes Sophia Alves, 17, e Ayumi Matsumoto, 16, viajam à China em abril para as provas da Olimpíada Internacional de Química. Elas são as únicas do gênero feminino na delegação de 10 brasileiros.

As adolescentes passaram pelas fases estaduais e nacionais do certame para, então, conquistarem, em seletiva, as vagas para ir ao país asiático. O processo já se estende desde 2023, exigindo dedicação e muita atenção à saúde mental, como relataram as meninas ao Diário do Nordeste.

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‘Será que vai ter espaço pra mim?’

Foi a reação entre pelo menos três elementos que encaminhou Sophia à fase internacional de uma olimpíada científica: a afinidade que teve “desde sempre” com a Química, o incentivo dos professores do Colégio Farias Brito, onde estuda; e a oportunidade de se preparar.

Os primeiros resultados vieram ainda aos 14 anos, quando conquistou medalhas de ouro na Olimpíada Cearense de Química e na Olimpíada Nacional de Ciências. Esta última, aliás, abriu portas: a partir dela, Sophia conseguiu bolsa de estudos para se dedicar ainda mais. 

Aos poucos, então, deixou de questionar o que talvez permeie as mentes de diversas meninas e mulheres na ciência: “será que vai ter espaço pra mim?”

Legenda: Sophia e Ayumi junto ao professor Antonino, que ambas citam entre os docentes que as apaixonaram por química
Foto: Arquivo pessoal

Comecei a ter uma certa noção de que eu podia avançar nesse ramo. Quando saiu o resultado de que eu iria à internacional, fiquei desacreditada. Fico muito feliz em ser parte da representatividade das meninas. Espero conseguir um bom resultado pro Brasil.
Sophia Alves
17 anos

As rotinas de estudos do 3º ano do ensino médio e específicas para as olimpíadas, ela reconhece, pesam. Pressionam. Foi aí que, além do conhecimento sobre fórmulas e reações químicas, a menina precisou fazer jus ao próprio nome: ser Sophia, sabedoria.

“No começo foi bem difícil, porque eu queria passar o tempo todo estudando – e a mente pifou. Mas refleti e aprendi que preciso ter saúde mental pra continuar. Passo boa parte do dia estudando, mas tenho momentos pra diversão, conversar com amigos. Consigo separar as coisas”, afirma.

Agora, as energias da futura médica cearense estão concentradas nos preparativos para a viagem à China: a primeira internacional que fará. “Vai ser a primeira vez, e pra um lugar bem diferente, uma cidade bem legal. Tô ansiosa e feliz!”

‘Sou mais do que uma estudante’

Foto: Arquivo pessoal

Levar o próprio conhecimento para além das fronteiras do Brasil é um sonho construído por Ayumi desde cedo. Há dois anos, a potiguar atravessou a fronteira entre o Rio Grande do Norte e o Ceará para vir estudar em Fortaleza: longe dos pais, driblando a saudade para persistir no objetivo.

“Apesar de o colégio ter me dado todo o apoio, bate a saudade, é difícil. Você tem que aprender a se virar sozinha, fazer tudo. Muito mais que só o físico, o emocional precisa amadurecer muito”, pondera a adolescente.

Além do orgulho e da “surpresa” que sentiu ao saber que viajaria à China para a olimpíada, ela considera “uma responsabilidade muito grande” representar o Nordeste e o Brasil internacionalmente. 

O ambiente que eu tenho deixa tudo um pouco mais leve, mas mesmo assim é uma rotina pesada, mesmo sendo uma coisa que a gente gosta muito. Fiquei muito feliz de saber que todo o esforço e sacrifício estão valendo a pena.
Ayumi Matsumoto
16 anos

Ayumi lembra que o interesse por olimpíadas científicas começou quando veio da terra natal para estudar no Colégio Farias Brito – onde aprendeu com os professores Antonino Fontenele e Sérgio Matos (ela e Sophia citaram os docentes) que “a química não é só no papel, não é só decorar”.

“Nós que fazemos olimpíadas não somos gênios nem superdotados. Um dia a gente não sabia de nada e alguém nos puxou pra esse mundo e nos ensinou. Não é pra pessoas especiais. Somos gente como todo mundo”, reforça a menina que, embora “sempre chegada às exatas”, também é certeira com as palavras.

"Por mais ansiosa ou triste que eu esteja, sempre tento sair, ligar pra minha família, correr na praia. Coisas que lembram que eu sou mais do que uma estudante, sou um ser humano também. Quando a gente tá nesse meio, é muito fácil confundir."

Torneio internacional

A International Mendeleev Chemistry Olympiad (IMChO) surgiu em 1992, sendo hoje uma das competições acadêmicas de Química mais importantes do mundo, com a participação de mais de 20 países.

Em 2024, dez brasileiros, incluindo cearenses, vão representar o País na cidade de Shenzhen, na China. As provas serão realizadas entre 20 e 27 de abril.

A primeira medalha de ouro do Brasil na Olimpíada Internacional de Química foi conquistada em 2018 por uma cearense: a então estudante Ivna Gomes, à época com 16 anos. 

Hoje, 6 anos depois, ela é professora de Sophia e Ayumi – que fazem questão de mencioná-la como “grande inspiração”. E Ayumi justifica: “é que muito mais do que Química, ela ensina sobre a vida”.

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