Aluna cearense de 16 anos conclui análise sobre tamanho e luminosidade de 1.400 galáxias
Maria Larissa, estudante na cidade de Pires Ferreira, faz parte de uma rede colaborativa para estudar aspectos e entender tendências de movimentos dos conjuntos de estrelas; projeto está em atividade e número de classificações deve crescer
Entre nomes japoneses e norte-americanos, o “clássico” brasileiro Maria surge no topo da lista de uma iniciativa internacional para análise astronômica, como conta a estudante Maria Larissa Pereira Paiva, de 16 anos. A estudante cearense, que já descobriu um asteroide em programa da Nasa, agora é responsável pela classificação de 1.450 galáxias.
Ela faz parte do projeto “Galaxy Cruise”, ou Cruzeiro das Galáxias, do Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ na sigla em inglês). São recebidas imagens feitas por uma câmera de alta tecnologia (Hyper Suprime-Cam) com apoio do Telescópio Subaru.
Larissa analisa características como tamanho, luminosidade, formato e comprimento de ondas das galáxias e registra as informações em um software do projeto. Com os dados, é possível até prever alguns fenômenos como a colisão de galáxias.
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“Eu fiz um curso e só depois comecei a usar o programa, que vem do observatório nacional do Japão, para pesquisar. Eu recebi o certificado para começar e aprendi a deduzir as informações”, explica a futura astrônoma do Ceará.
O objetivo do Cruzeiro das Galáxias é incentivar a participação dos cientistas cidadãos, sem exigência de formação, na produção de dados. Em conjunto com profissionais, são analisadas informações sobre a interação dos conjuntos de estrelas, gases e matéria escura.
Em Pires Ferreira, cerca de 350 km distante de Fortaleza, Larissa recebe as imagens de galáxias reais em diversos ângulos e preenche dados sobre as particularidades vistas. “É um formulário bem dinâmico, o mais complicado é analisar”, observa.
Mas difícil mesmo foi o período em que ficou sem dar continuidade às atividades na astronomia por falta de equipamento. Depois da repercussão do feito de ter descoberto um asteroide, Larissa ganhou dois notebooks para os estudos. No início deste ano, voltou a analisar com cuidado as imagens encantadoras que recebe.
“Não é só colorido e divertido, porque temos que colocar os filtros. Realmente é uma análise de dados astronômicos que está vindo de um telescópio no Japão”, pondera. A dedicação para o trabalho voluntário também exige esforço na tradução dos textos.
No ranking, eu não vi nenhum outro nome brasileiro, estive no topo por muito tempo. Eram só nomes japoneses, alguns ingleses, e o meu estava alí com o clássico Maria
A estudante entende, na prática, a estrutura e o funcionamento da interação entre os conjuntos de estrelas. “Algumas galáxias elas têm a tendência de colidir, esse processo a gente chama de canibalismo galáctico, quando a gravidade acaba sendo muito intensa. Elas atraem uma a outra”, destaca.
Esse é um exemplo das possibilidades de análise do software treinado pelos participantes do projeto. “Participar deste programa traz muito resultado para mim, porque eu estou tendo acesso a imagens reais de galáxias no universo e eu estou tirando proveito, aprendendo com isso”, avalia.
Conhecimento acumulado no caminho até a entrada em um curso superior na área, que pode acontecer no exterior, como almeja. As possibilidades de se aperfeiçoar fora do País fascinam a cearense. Isso, contudo, não a faz esquecer o grande sonho: ensinar astronomia para crianças.
“Conhecimento não é nada se não for compartilhado”
Quem se dedica à astronomia pode conhecer a cearense como Larittrix, junção de Larissa com Bellatrix - estrela admirada pela estudante devido ao brilho. Integramte do InSpace Group, ela também estabelece parceria com o Planetário Rubens de Azevedo.
Mas trabalho de classificação das galáxias começou há um ano, quando ela recebeu o desafio de escrever um artigo científico. No projeto Meninas e Mulheres das Galáxias, a empolgação despertou o desejo de atuar na área de forma prática.
Com acesso ao computador e o apoio de amigos, como o Leon Lucas, e professores, embarcou na missão. Larittrix já pensa em como envolver mais pessoas, porque “conhecimento não é nada se não for compartilhado”.
Quando a gente está entrando na adolescência, que a escola começa a ficar mais complicada, a gente começa a se afastar da Ciência. Eu luto contra isso e sinto que eu posso fazer muito mais
“Eu quero abrir inscrições para liderar algumas equipes de crianças e adolescentes para dar oportunidade de elas pesquisarem também. Não é tão difícil para uma criança saber dos conceitos”, compartilha sobre a ideia que pretende aplicar nos próximos meses.
Compartilhar o alcance dos estudos com a família também acontece com as aulas que já dá para o irmão menor e o desejo de homenagear a avó Raimunda Alcidia de Paiva, conhecida como Mundinha, na possibilidade de dar nome ao asteroide que descobriu. O processo ainda está em análise.