Único cearense a integrar lista 'Under 30' da revista Forbes, David Lee é nome influente na moda

Em entrevista ao Verso para falar da carreira, ele ressalta a gratidão por ter aprendido a cada novo passo

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: David, nascido em Fortaleza, diz ter decidido ingressar na moda quando estava às vésperas do vestibular
Foto: Igor de Melo

Dos dias acompanhando a avó em meio a linhas e tecidos, David Lee parece ter guardado as lembranças para a futura profissão. Ainda que não tenha sido ali o despertar para o universo da moda, as vivências com o desenho quando tinha apenas seis anos de idade e o contato com a costura desde cedo em casa foram alguns dos fatores que vieram à tona na hora de decidir uma carreira.

Hoje, com 28 anos, o cearense é um dos estilistas renomados no País e foi citado pela Revista Forbes na 'Under 30', lista responsável por reunir jovens talentos abaixo dos 30 anos de idade que estão revolucionando o mercado em diversas áreas.

Conversar com ele, inclusive, é uma maneira de entender como os desejos pessoais foram capazes de movê-lo e transformá-lo. Segundo conta, em entrevista ao Verso após o anúncio da colocação na revista, ser citado na lista de influentes preparada pela Forbes, ele acredita, não foi algo aleatório, mesmo que tenha recebido a notícia com surpresa.

Consciente dos objetivos conquistados, o cearense faz questão de ressaltar as metas definidas ainda em começo de carreira e de como o aprendizado com pessoas queridas o engrandeceu. Nesse caminho, ele espera ter se destacado por conta de um dos pilares do que realiza: a transformação na moda masculina.

"Desde o começo meu primeiro foco foi esse. Por que a moda masculina era tão atrasada em relação à feminina? Então, foi uma necessidade entender isso e perceber também a questão desse comportamento. Atualmente, procuro desenvolver algo que tenha a cara desse homem mais livre, que não tem amarras para ser quem ele é", opina.

Dessa forma, criou uma identidade própria e descobriu no crochê, processo no qual o fio de lã é estrela, uma forma de se expressar.

"Ainda durante os concursos, conheci uma artesã, que hoje trabalha comigo, a Cristina Maia. Ela foi o meu primeiro contato com a artesania e com o crochê. A partir daí também surgiu minha ideia de trazer esse elemento como um contraponto. Ele é completamente delicado, mas meu desejo era ressignificá-lo, trazê-lo para essa posição de fora do comum no universo masculino".

Enquanto isso, também cita outro diferencial para ter sido citado na lista dos influentes. "Hoje a gente fala de uma moda que requer mais cuidado no meio da produção. Então, trabalho com esse viés artesanal, de origem sustentável até mesmo para os que a realizam comigo".

Trajetória

Foi em 2012, prestes a tentar vaga em uma das universidades da capital cearense, que começou a perseguir a vontade de trabalhar em meio à concepção, criação e confecção de peças de roupa.

Sem sucesso logo de cara, não se deu por vencido: passou a trilhar caminho como autodidata. "Fiz um curso de desenho de moda, no Senac, e passei a estudar sozinho também. Eu procurava de tudo para entender mais. Tentei duas vezes o vestibular da Universidade Federal do Ceará, mas não obtive êxito, então me inscrevi em todos os concursos e foi onde eu fui me construindo", lembra.

Legenda: As peças de David Lee têm como um dos detalhes principais a presença do crochê. Segundo ele, a artesania concede um contraponto nas peças masculinas
Foto: Foto: Fabio Lamounier e Rodrigo Ladeira

Se o início teve muito do esforço próprio, foram nestes concursos em que conseguiu os contatos que o impulsionariam às passarelas mundo afora. "Eles me familiarizaram com basicamente tudo o que consiste um projeto de coleção. O desenho, a escolha de tecidos, a costura. Era onde eu conseguia me conectar e me capacitar no começo", conta.

Em 2013 participou do primeiro concurso, mas cita o Dragão Fashion Brasil de 2014, para o qual foi convidado por Cláudio Silveira, como um dos mais importantes. Para ele, esta foi uma "época marcante de desenvolvimento pessoal".

Talvez exatamente por isso, faz questão de agradecer e ressaltar o quão importante foram as experiências na vida. "No começo, por conta da minha falta de formação especializada, muita gente me negava oportunidades, não queriam abrir espaço para mim. Então, é algo que sempre busquei, ter uma qualidade cada dia maior", afirma.

Portas internacionais

Já em 2018, David conseguiu enxergar além. Recebeu a oportunidade grandiosa de participar do International Fashion Showcase, realizado em Londres, na Inglaterra, e conquistou um novo patamar.

Passou etapa por etapa, entre 200 inscrições de diversos países, para ficar entre os 16 designers com espaço garantido de exibição do trabalho durante a London Fashion, semana de moda consagrada da capital inglesa. "Foram cerca de seis meses até receber uma resposta final. Depois, passei por várias etapas de estudos diretamente com eles, afinal de contas eles também visam contribuir nessa questão dos conhecimentos financeiros. O objetivo é de apresentar novos designers para a indústria global".

De acordo com Lee, foram seis meses de consultoria com integrantes da London College of Fashion, além da montagem de uma instalação com a coleção que desenvolveu especialmente para o evento.

"Para mim é como o auge na minha carreira", afirma sem pensar duas vezes. David Lee foi o primeiro brasileiro, entre seis edições, a ser selecionado para exposição de peças.

Gratidão

Marcado pelo crescimento, ele não parece ser daqueles que esquecem as origens e referências. Conversando, sempre deixa claro de onde tirou conhecimento e por quem é grato.

"Estive no ateliê de duas costureiras por um ano, a Fátima e a Elizete. Lá, eu via de perto essa construção da roupa. Era algo que eu precisava saber como fazer antes mesmo de apresentar uma coleção minha".

Logo após esse ano, abriu as atividades da própria marca e vem colhendo os frutos a cada pequeno passo. "Consegui realizar o desejo de ter minhas peças em ponto físico, de agilizar meu processo de produção por saber do interesse das pessoas. É um desafio: quem quer ser criador deve estar à frente de todos os detalhes", diz.

De tantos passos dados, quantos ainda mais serão suficientes? Para David, inúmeros. Na cabeça, ficam os planos de expansão do trabalho que realiza, a abertura de um showroom em Fortaleza e a presença em mais pontos de venda. No coração, a alegria de quem sabe ter cada vez mais a conquistar na moda.

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