Lorena Nunes lança seu terceiro álbum, "La Mar", nas plataformas digitais
Em cinco perguntas, a cantora e compositora cearense fala sobre o processo do novo trabalho e de como tem passado esses tempos de distanciamento social. As músicas estarão nas plataformas a partir desta sexta (16)
Para além da leitura rápida do horóscopo que sai pelos jornais e rádios, a simbologia dos signos do zodíaco carrega uma carga generosa de possibilidades. Nem todo signo é bom ou ruim em si: é o que ensina os mais especializados nesse saber tão antigo e imponderável quanto controverso para a percepção materialista da vida. A cantora e compositora cearense Lorena Nunes, 34, oferece algo de sua disposição taurina (o símbolo mais calmo da astrologia) e lança seu terceiro álbum, o ótimo e "tranquilizante" La Mar. O álbum, sucessor de "Ouvi dizer que lá faz sol" (2014) e "Lorena Nunes ao vivo com a Banda Quente (2020), estará disponível a partir desta sexta (16) nas plataformas digitais.
"Calma", o single, ganhou um belo videoclipe veiculado no You Tube desde o mês passado. Presente desde o primeiro álbum, Cláudio Mendes fidelizou a parceria com a cantora e assina a produção musical ao lado do percussionista Igor Caracas (presença que dá ainda mais sentido à intenção tranquila do repertório). Como o disco inteiro, a canção traz uma expressão com os batuques mais soltos e a sonoridade passeia por uma vibração bem introspectiva e carregada de melodias intensas, se comparada à proposta (mais solar, para além do óbvio do título) do disco de estreia.
Em entrevista para o Diário do Nordeste, Lorena Nunes pontua diferenças entre o processo do primeiro para o terceiro álbum; comenta a transição do vínculo com a "Banda Quente" para a formação musical atual de seu trabalho; e ainda situa seus caminhos de autoconhecimento e de atenção com a necessidade de "respirar" em tempos de tanta pressão para a humanidade.
1) O primeiro álbum é de 2014, de lá pra cá são 6 anos. Ao seu modo de ver, qual seria a principal diferença do processo deste novo trabalho em relação ao seu disco de estreia?
Falando dessas duas maiores diferenças. A primeira é pela minha maturidade mesmo, pessoal e artística, que acaba se refletindo no trabalho. E no primeiro disco eu queria ocupar o lugar de intérprete mesmo e cantar os compositores cearenses. Neste eu já sentei na minha cadeira de compositora. Acho que isso já é uma grande diferença.
Essa maturidade também me permitiu fazer as coisas de uma maneira com mais autonomia. com mais segurança ainda. Não é que eu estivesse insegura ou num lugar que não fosse confortável no primeiro, mas era o início, né? Agora eu já estava em um lugar realmente mais tranquilo, inclusive assinando a direção artística do álbum.
2) Você sempre faz questão, de uma forma bem humorada até, de enaltecer a companhia da "Banda Quente". A formação meio que criou uma relação contigo para além de fazer a função de uma "banda de apoio"?
A Banda Quente tava comigo no "Ouvi dizer...". A gente fez o trabalho todo junto, desde a pré-produção. Oito meses de pré, os primeiros quatros meses foram mais eu e o Claudinho (o produtor Cláudio Mendes), a tutoria do Beto Villares, e depois os músicos chegaram.
Mas agora o "La Mar" foi todo feito com o Cláudio junto com o Igor Caracas, que também são dois amigos de longa data. Inclusive esse nosso tempo de se conhecer, essa intimidade pessoal e musical, foi fundamental pra que a gente pudesse fazer o disco gravado todo ao vivo né, com muita sintonia.
3) Percebo que sua carreira artística tem uma ligação bem estreita com o teu processo de autoconhecimento. Esse disco (ou o processo dele) reflete ainda mais essa vertente?
Passei por vários processos extremamente intensos, pessoais mesmo, que se desdobraram em vários renascimentos, que eu "morri" várias vezes antes de fazer o "La Mar", durante o processo também, e espero "morrer" várias vezes depois. Porque é um retrato musical muito fiel ao que representa esse momento, mas gosto de ver um disco como um filho, uma cria. A gente traz para o mundo e ele vai se desenvolver.
A partir de agora, tem algo que eu entrego, que eu reconheço e que me identifico. Mas também vou descobrir mais ainda o que vai vir desse trabalho. Partindo inclusive do trabalho do público, que se cria também um novo ambiente. A circulação vai ser feita ainda, não se sabe como, porque a gente passa por um momento que é novo pra todo mundo.
4) Me fala um pouco mais do processo de gravação do clipe do single "Calma". A ideia partiu de ti, da direção, por quanto tempo vocês trabalharam no vídeo até finalizar?
O argumento foi meu. A galera "pegou viagem na minha viagem" (risos). Fomos poucas mãos, mas potentes. O Zé Filho fez o figurino, o conceito da beleza junto com o Netinho Nogueira, que fez a maquiagem e mais alguns acessórios que foram mixados e construídos com o pessoal do Elemento Fio. Teve direção da Camila de Almeida, direção de fotografia do Gabriel Araújo, que são juntos do Estúdio Voa. E fiquei realmente muito feliz com o resultado, o clipe ficou lindo realmente.
Foi uma produção relativamente rápida. A gente começou todas as reuniões ainda no período de lockdown (em maio passado) e começamos a esperar uma abertura pra ir a campo. Eu já tinha definido um conceito estético geral para o "La Mar", a partir disso apresentei meu argumento e começamos a construir todo mundo junto. Como a gente poderia manifestar a ideia, a questão do jardim do Bruno Ari, o jardim amazônico que se vê no clipe.
E a gente foi se encontrando, resolvendo as coisas de maneira online. Fizemos testes, uma visita técnica, porque tinha as cenas submersas. Na terceira visita, a gente já gravou, tava tudo alinhado.
5) O lançamento acontece ainda neste período de pandemia, e os trabalhos artísticos estão tendo que encontrar espaço online. Em algum momento você pensou em esperar pra que tudo isso passasse, a fim de lançar o trabalho? Como tem passado esse tempo de distanciamento social?
Assim que tudo começou, como todo mundo junto, me perguntei "que diabo que tá acontecendo?". Felizmente, pude me dar um tempo de parar, meu Instagram ficou fora do ar mais de um mês. Me retirei, mergulhei pra perceber como tudo isso estava reverberando em mim. Nesse momento, que eu questionava várias coisas, uma delas foi "então, como vai ser?". O que me ajudou a voltar para o meu centro foi me dedicar para o lançamento do "La Mar". Isso me trouxe de volta. Do limbo de dúvidas e incertezas que a pandemia trouxe. A gente continua sem saber, realmente é um dia de cada vez.
Mas me conectei com o sentido desse trabalho, da importância dele estar manifesto. E da mensagem que quero entregar: se estou no mundo, faço o que faço, a arte é um alento pra gente. Me sinto mesmo a serviço da "Deusa Música". Acredito muito na maneira como todo esse disco foi concebido, para além das canções. Numa rede de afetos, de corações potentes, de pessoas muito bonitas e talentosas.
Espero que traga algum tipo de alento para as pessoas. Especialmente nesse momento de tantas dúvidas, perdas, dores, ansiedade. A gente está num contexto político extremamente delicado. Estamos enfrentando tantos desafios, que entregar algo que possa ser um abraço no peito, um sorriso, um convite à conexão, ao respirar, ao sentir, é muito importante.