Livro de poeta cearense reúne sonetos sobre as diferentes fases de um relacionamento

Escrito por Maria de Fátima Maia, residente em Limoeiro do Norte, “Santuário” ganha lançamento nesta sexta-feira (25)

Escrito por
Diego Barbosa diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: "Santuário" é o segundo livro de Maria de Fátima Maia, natural de Pouso Alegre (MG), mas com ascendência familiar de Limoeiro do Norte, interior cearense
Foto: Arquivo pessoal

Maria de Fátima Maia cedo foi instruída a perceber a beleza, mesmo que o panorama não seja dos mais favoráveis. Ela assim aprendeu e, conforme a vida avolumou experiências, também realçou nela um contentamento em estar sob posse de nova compreensão acerca do mundo, das pessoas e das relações.

Esse mesmo componente tão caro na formação pessoal da poeta “autoproclamada cearense”, conforme sublinha, percorre as páginas e texturas de seu novo livro, “Santuário”. A obra, publicada pela editora Confraria do Vento, tem lançamento marcado para esta sexta-feira (25), a partir das 19h, por meio de live no perfil do instagram da casa editorial.

Com Maria de Fátima, participarão do momento os editores da Confraria do Vento, Karla Melo e Victor Paes; e o jornalista, escritor, editor e produtor cultural Raymundo Netto. A conversa trará à superfície os principais detalhes sobre o processo de feitura e concepção da obra – cuja tônica é reunir sonetos que atravessem as diferentes fases de um relacionamento. 

Em entrevista ao Verso, a poeta detalhou que o livro é composto por apenas uma história – partindo da descoberta e contemplação da relação, até aparecerem as primeiras rachaduras, a intensificação delas e, por fim, a ansiedade para que venha uma nova perspectiva diante do que não vingou. “Por isso o título ‘Santuário’”, diz.

“Para mim, esse é o local mais sagrado da nossa alma, onde a gente guarda tudo com a maior pureza e verdade. É onde os sentimentos são mais genuínos. Logo, essa palavra chega porque os sonetos, em tom confessional, partiram de minha parte mais verdadeira. Do meu âmago, do meu santuário”, explica.
Maria de Fátima Maia
Poeta

Travessia pelos sentimentos

No total, 21 poemas compõem o exemplar, cuja compra, se realizada diretamente com a autora, garante que a obra chegue às mãos com as páginas perfumadas e uma dedicatória especial. Segundo Maria de Fátima – natural de Pouso Alegre (MG), mas com ascendência familiar de Limoeiro do Norte, interior cearense, onde reside – a experiência que deseja passar ao público converge para um mergulho sensorial por meio da poesia.

Queria que fosse um livro leve, bonito, que estimulasse sensorialmente os leitores. E que fosse breve, para que as pessoas se deleitassem com o projeto gráfico da obra”, situa, referenciando o nome de Geraldo Jesuíno, responsável por imprimir ainda mais ternura ao material assinado pela poeta.

Legenda: Para além dos aspectos externos da obra, ganha relevo a exímia qualidade da autora em traduzir sentimentos por meio de uma precisa arquitetura
Foto: Arquivo pessoal

Para além dos aspectos externos, ganha relevo, no plano da tessitura poética, a vigorosa qualidade da autora em traduzir sentimentos por meio de uma precisa arquitetura, em franco diálogo com uma de suas maiores referências, a poeta portuguesa Florbela Espanca (1894-1930).

Sobre essa questão, Maria de Fátima afirma: “Embora eu não seja estritamente ortodoxa quanto à feitura dos poemas, parto do que é meramente essencial pro soneto, a fim de que ele se configure como tal, para, então, ir brincando com a alternância e estrutura das rimas”, dimensiona.

“Toda essa parte da metrificação, da música, das sílabas tônicas, do martelo agalopado – estilo de poema composto de uma estrofe de dez versos decassilábicos, com ritmo rigorosamente forte, marcando tônicas nas sílabas 3, 6 e 10 – para mim é uma satisfação de fazer. Não lembro como cheguei ao soneto, a essa forma de escrever poemas, mas é como se eu tivesse encontrado o meu lugar poético”.
Maria de Fátima Maia
Poeta

Ela também sublinha que o livro é um projeto antigo, sendo formatado muitas vezes intuitivamente em meio ao ofício da autora – atualmente, Maria de Fátima é Procuradora Geral de Limoeiro do Norte. A poesia, assim, chegou como uma válvula de escape do mundo concreto a fim de permitir a elaboração de sentimentos e vivências que ela foi desenvolvendo com o passar dos anos.

“O processo de escrita foi muito aleatório, a partir das tentativas de encontrar espaço na minha agenda e dependendo de energia física mesmo, de sentar e compor. Muitas vezes, os sonetos surgiam mentalmente, como se fosse uma apreensão metafísica da poesia, e eu me disciplinei para que, quando essa inspiração viesse, eu estivesse sempre preparada para escrever o poema”, contextualiza.

Seções

“Santuário” é dividido em cinco partes, alicerçando uma topografia dos múltiplos sentimentos que a obra engendra – sobretudo a respeito do amor. São elas: “Celebração”, que demarca o início do relacionamento; “Reflexão”, o momento em que os envolvidos começam a ponderar determinadas atitudes e emoções; “Contrição”, “Remissão” e “Enlaces”, compondo a tríade final dessas fases do estar junto.

“Eu não escolhi a temática do amor, a poesia e o tema é que me escolheram, assim como acontece com todos os poetas”, destaca Maria de Fátima. “O escritor acaba sendo um mero instrumento. Então, as palavras passam pelo nosso filtro – nossas emoções e histórias – e o momento poético agregado, atravessado por esse filtro, resulta no poema escrito”.

Um lapidar verbal que confronta (“Por amá-lo, tu sabes, fui ferida/ mas darias a nós a aprovação?”), ensina (“Eis lição para nunca me olvidar:/ de quem quer minhas folhas arrancar,/ é preciso obstar todo perigo”) e se afirma (“Eu prometo jamais te provocar,/ tu, também, faz o mesmo para mim!”). Uma travessia que encontra, em prazerosa cadência, o sentido de ser e de se presentificar.

Atributo, inclusive, referenciado pelo professor e pesquisador Sânzio de Azevedo, nome maior dos estudos sobre literatura cearense. Assinando o prefácio da obra, ele comenta: “A autora tem sua própria visão da arte poética, que se nos afigura uma das mais difíceis em atingir a contento (o objetivo final), que é unir a beleza ao pensamento”. 

A opinião também ecoa nas linhas do escritor Napoleão Nunes Maia Filho – membro da Academia Cearense de Letras, responsável pelo texto de orelha do livro – e de Ionilton Pereira do Vale, autor do texto de apresentação. Ressonâncias possíveis em meio a um trabalho que “é desejo gravado na memória,/renascido com o ímpeto de outrora/ que nem as várias vidas aplacou”.

Serviço
Lançamento do livro “Santuário”, de Maria de Fátima Maia
Nesta sexta-feira (25), a partir das 19h, no perfil do instagram da editora Confraria do Vento. Compra do livro por meio do site da casa editorial ou de contato direto com a autora, via instagram (@mfmaia) ou e-mail (mfmaia@hotmail.com).

Santuário
Maria de Fátima Maia

Confraria do Vento
2021, 74 páginas
R$ 40