Grupo de coco em Fortaleza lança primeiro EP e ressalta a importância da tradição

Com faixas autorais, trabalho destaca a relevância do coco como prática cultural no Estado e presença do ritmo na Capital

Escrito por Ana Beatriz Caldas , beatriz.caldas@svm.com.br
Atual formação do grupo: Mailton Rodriguez, Laís Santos, Lucas Vidal, Kleber Moreira e Kássia Oliveira
Legenda: Atual formação do grupo: Mailton Rodriguez, Laís Santos, Lucas Vidal, Kleber Moreira e Kássia Oliveira
Foto: Laborartchia/Divulgação

Eu vou te dizer, eu vou te mostrar: tem coco no Ceará. A afirmação que embala o refrão do primeiro single do grupo Na Quebrada do Coco pode parecer óbvia para quem mora no Cariri do Estado, onde mestres e grupos tradicionais de coco fazem parte da cultura ancestral, ou em praias como a do Iguape, onde o coco de praia é tradição forte. Em Fortaleza, porém, a afirmação se faz necessária, já que ainda há quem desconheça a existência local do ritmo – que resiste há pelo menos 20 anos em rodas em bairros como Bom Jardim, Benfica, Centro e Pici.

Abordando as vivências de quem brinca e faz o coco de roda se manter vivo em uma das maiores capitais do País, o Na Quebrada do Coco lança, neste sábado (17), às 19h, no Dragão do Mar, o EP “Festa e Devoção”, que reúne composições autorais feitas pelo grupo em Fortaleza ao longo da última década. 

Além de “Coco no Ceará”, se destacam faixas como “Tá bonito pra chover”, com participação especial de Samara Garcia, e “Yalodê”, com Tiquinha Rodrigues (RN), que trazem influências do maracatu cearense e toques africanos.

Apesar da longa trajetória na cultura popular cearense, esse é o primeiro registro fonográfico feito pelo grupo, formado pelos músicos Lucas Vidal, Laís Santos, Kássia Oliveira, Mailton Rodrigues Kleber Moreira. Além das sete faixas disponíveis nas plataformas de áudio, o trabalho inclui conteúdos audiovisuais exclusivos, que podem ser acessados no YouTube.

O álbum tem produção musical de glhrmee, responsável por discos como Jesus Ñ Voltará (2023), de Mateus Fazeno Rock, e Marmota (2021), de Getúlio Abelha. 

Bloco Rala Côco: Lucas Vidal, Kadu Lopes e Laís Santos em registro de 2021
Legenda: Bloco Rala Côco: Lucas Vidal, Kadu Lopes e Laís Santos em registro de 2021
Foto: Hei Nascimento

Criado em 2015 por brincantes e pesquisadores de cultura popular, o Na Quebrada do Coco é presença frequente em rodas de coco da Capital e já se apresentou em festivais como o Curta o Gênero e o Sesc Povos do Mar. No Carnaval, o grupo ainda mantém o bloco “Rala Côco”, que sai sempre às segundas-feiras e visa enaltecer o lado festivo do gênero musical.

Cantor, compositor e um dos integrantes do grupo de coco, o artista Lucas Vidal conta ao Verso que a ideia de gravar um EP veio da necessidade de manter um registro da existência e da autoralidade do grupo.

“No caso da cultura popular, é um processo tão difícil, às vezes parece tão distante pra gente que um trabalho como esse, de gravação, ele vem muitas vezes como a culminância de uma trajetória”, explica.

Nós temos uma cena. Nós temos um movimento na cidade que é efervescente, que acontece o ano inteiro, mas que infelizmente ainda não é observado com atenção pelas políticas públicas de cultura. Então, o ‘Festa e Devoção’ vem também como essa afirmação que sim, fazemos coco em Fortaleza, na cidade, com todas as questões e contradições, mas fazemos coco e é um coco autoral, com estilo próprio."
Lucas Vidal
Cantor, compositor e integrante do Na Quebrada do Coco

As composições do grupo buscam atualizar a visão do que é o coco cearense, valendo-se da união entre moderno e ancestral sem perder o respeito e a reverência pela tradição.

“A gente quis trazer muito essa dualidade entre a festa e a devoção, entre o que é brincadeira e o que é sagrado, entre o que é contemporâneo e o que é ancestral, entre o que é urbano e o que é ali litorâneo, o mar e o asfalto”, pontua Lucas. 

Além da música, grupo visa contribuir com debate pedagógico sobre a importância da cultura popular
Legenda: Além da música, grupo visa contribuir com debate pedagógico sobre a importância da cultura popular
Foto: Laborartchia/Divulgação

Os mestres e as mestras são o nosso tesouro. São de onde a gente bebe, são nossas fontes, e é importante falar desse trabalho, que é a nossa ancestralidade, que proporcionou que a gente estivesse aqui. Mas é possível fazer coco [aqui] também”, completa.

Para o artista, um dos diferenciais do coco feito na Capital é a inclusão questões atuais e próprias do contexto urbano, como a violência, as contradições sociais e a frieza nas relações.

“É diferente de brincar coco no Sertão, no Cariri, no Juazeiro, na praia no Iguape. Brincar coco em Fortaleza traz também esses atravessamentos da própria cidade, a questão das distâncias, da desigualdade”, conclui.

Serviço
EP Festa e Devoção, do grupo Na Quebrada do Coco

Ouça no Spotify e no YouTube
Acompanhe o grupo nas redes sociais: @naquebradadococofc

Show de lançamento no Dragão do Mar
Quando: Sábado (17), às 19h30
Onde: Espaço Rogaciano Leite Filho - Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema)
Acesso gratuito

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