Existem alguns símbolos icônicos na consultoria de estilo que são usados de forma muito leviana quando viram conteúdo para as redes sociais. Esses símbolos, frases tão inocentes e sem qualquer teor depreciativo, são usados para caracterizar as pessoas pelo que elas usam ou não.
Na internet, o conteúdo vem em forma do que tem cara "de pobre" ou "de rico", de fotos que simbolizam uma mulher elegante e outra com "energia de fubanga", tudo meticulosamente organizado para que qualquer coisa que tenha sua veia ancestral pulsante seja higienizada para o paladar de quem consome esse tipo de conteúdo.
É a eugenia das redes sociais. Profissionais se valem de um conhecimento datado, vazio e sem autocrítica para fazer uma espécie de apartheid. Usam conhecimentos como a consultoria de estilo e o visagismo para fomentar esse apagamento de pessoas, culturas e costumes.
Essa não é a moda, nem a consultoria de estilo que eu acredito, muito menos o tipo de conteúdo que eu acho libertador. Informação nos emancipa, mas também nos dizima.
Tornar algo tão comum e inerente à nossa existência, como a roupa e a possibilidade de escolher o que vestir, num clube seleto e exclusivo é o puro suco da elite do atraso.
Fato é que o público-alvo desse tipo de informação são as mulheres, mas recentemente me deparei com uma "nova" expressão: o looksmaxxing. Não é algo saído do forno, é uma expressão que foi cunhada em 2010 pelo movimento de subcultura masculinista e que se inspira muito no estilo yuppie norteamericano, muito bem representado pelo personagem Patrick Bateman, no filme "Psicopata Americano".
A prática do looksmaxxing é baseada no processo de potencializar a atratividade física - e também é só a pontinha do que a indústria da beleza significa para o público feminino.
E como tudo na moda e na área da beleza é cíclico, o termo tem ganhado força desde 2020 entre a geração Z por conta, especialmente, de redes sociais como o TikTok. É o heroin chic dos anos 2000 repaginado.
Agora veja só: nosso país é continental. Herdamos culturas milenares, numa mesma região encontramos pessoas brancas, pretas, asiáticas, indígenas e variações de tudo isso que é resulta nesse caldeirão cultural que habitamos.
A estética clean girl, old money e até estilos de vida, como o quiet luxury, são a epítome da pasteurização da diversidade.
Não sejamos imprudentes ao achar que é só mais uma tendência, é só mais um conteúdo como qualquer outro. Não só mais uma estética, são práticas que prezam por um ideal supremacista e de ideias muito conservadoras.
Não é só sobre enaltecer o que você tem de melhor ou sobre autoconhecimento: é sobre distinção social e privilégio branco.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora