Fã cearense viaja a São Paulo para velório e enterro de Gal Costa: 'achava que deuses nunca morriam'
Frankley Tavares é fã da cantora desde os sete anos de idade e prometeu à artista que não a deixará ser esquecida
Pelo carinho e afeto nutrido desde os 7 anos por Gal Costa, o cearense Frankley Tavares, 57 anos, viajou de Fortaleza a São Paulo para se despedir da artista, que faleceu na última quarta (9), aos 77 anos. O produtor de moda deixou suas últimas palavras de admiração e agradecimento a ela no velório e no enterro, realizados nesta sexta-feira (11).
"Toquei, vi, beijei a testa dela. Eu achava que os deuses nunca morriam, mas vi Gal ali, e tive que acreditar", disse emocionado, em entrevista ao Diário do Nordeste.
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Para ele, viajar até São Paulo era um dever como fã que teve a vida transformada pela música e existência de Gal. Frankley saiu de Fortaleza na madrugada desta sexta e deve retornar no domingo (13). "Se eu não viesse, ficaria traumatizado, não me perdoaria, tinha que prestar essa homenagem à maior cantora brasileira. Não medi esforços".
Foi em meio às lágrimas que, diante do caixão, deixou uma promessa para a artista por quem manteve uma paixão por 50 anos.
"Disse a ela que, enquanto Deus me der ar para respirar, o nome dela não sai da minha vida. O Brasil é um país sem memória, mas não vou deixar ela ser esquecida. Disse que ela podia contar comigo".
No momento de luto, despedida e saudade, percebeu que as coisas revestidas de morte, são também revestidas de vida. "Fica o legado da voz, do talento, da cantora".
Presença em despedida íntima
Devido aos diversos encontros com Gal ao longo da vida, teve a entrada liberada em área reservada apenas aos familiares e amigos próximos. A permissão veio quando a assessora da artista o reconheceu na fila para ver o caixão, dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo.
"Quando me viu, tomou um susto e disse para os seguranças que eu podia entrar. Que era uma pessoa querida, especial", detalhou. O fã também pôde participar da íntima cerimônia do enterro, que concentrou cerca de 30 pessoas, dentre elas Caetano Veloso e Gilberto Gil.
"Mesmo sendo um momento de dor, me senti honrado. Acompanhei Gal por 50 anos, e não me arrependo de virar noite, em hotel e em aeroporto, esperando por ela. Faria tudo de novo".
Acalento com despedida
Frankley, que desde a última quarta não conseguia comer por falta de apetite, sentiu um acalento com a despedida, apesar de ainda sentir o vazio deixado por Gal.
"Eu acho que as pessoas devem amar seus artistas até o último momento. Não tem que gostar do artista porque ele é famoso, porque está em 'alta', você tem que gostar do artista por completo, por inteiro. Tem que amar e respeitar".
Em entrevista, ainda citou a homenagem que recebeu de Gal em último show, realizado em agosto, no Rio Grande do Norte.
Na ocasião, foi chamado para subir no palco. "Ela poderia ter feito isso em outros momentos, em Fortaleza, em Pernambuco, já fui para vários shows, mas ela fez nesse último. Acho que foi uma despedida", afirmou.
Trajetória de Gal
Maria da Graça Costa Penna Burgos, nome de nascimento de Gal, era natural de Salvador e desde pequena havia sido incentivada pela mãe a seguir na carreira musical.
O trabalho da artista na cena do país ganhou força na década de 1960. Ainda adolescente, ela se aproximou de Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil, com quem formou o grupo conhecido como Doces Bárbaros e manteve amizade próxima até os dias atuais.
Já com pouco mais de 20 anos, participou do "Tropicália ou Panis et Circensis", álbum importante do movimento tropicalista.
As músicas de Gal Costa se tornaram verdadeiros clássicos da MPB. Alguns dos exemplos são 'Baby', 'Meu nome é Gal', 'Chuva de Prata', 'Meu bem, meu mal' e 'Barato total'.