Designer formado no Ceará ilustra abertura da série The White Lotus; conheça Lezio Lopes
Hoje residente na Austrália, ele estudou na Universidade Federal do Ceará e é criador das hipnóticas imagens da abertura do premiado seriado da HBO
Caso ainda não tenha assistido a “The White Lotus”, premiada e antológica série da HBO, saiba que o fascínio começa na abertura. Mesclando natureza, humor e mistério – elementos típicos da trama assinada por Mike White – a produção conta com nome nordestino nos créditos. Trata-se de Lezio Lopes, criador das ilustrações que estampam o vídeo.
Nascido em Aracaju (SE), o artista de 32 anos se mudou para Fortaleza em 2012 para estudar Moda na Universidade Federal do Ceará – onde se graduou em 2018. Foi durante o curso que surgiu interesse maior por estampas, principalmente as de tema tropical. Hoje residente na Austrália, ele conta que um novo passo na carreira iniciou com a pandemia de Covid-19.
“Em 2020, logo depois de chegar ao país, entramos em lockdown. Foi um momento bem delicado, eu estava em outro lugar e foram anos de planejamento para vir. Uma das formas que encontrei para me manter ocupado foi focar na divulgação do meu trabalho”. Assim, começou a criar ilustrações e estampas autorais e foi propagando, sobretudo no Instagram.
Foi quando um desses desenhos chamou a atenção do Plains of Yonder, estúdio criativo responsável pela abertura de “The White Lotus”. “Eles entraram em contato comigo e seguimos a partir daí”.
Resultado: sucesso. Lezio assina as ilustrações das duas temporadas da série. O próprio Plains of Yonder passou o briefing (conjunto de orientações) com tudo bem detalhado para ele.
Na primeira temporada, a ideia era criar papéis de parede para simbolizar os quartos do hotel onde a história se desenvolve. Foram incluídos elementos que pudessem se conectar com os personagens de alguma maneira. Já na segunda temporada, pequenas dicas foram dadas do que acontece ao longo da série por meio de pinturas, instigando a curiosidade do espectador. “Utilizamos pinturas já existentes no cenário em conjunto com criações próprias”.
Fã da série
Lezio não apenas participa ativamente do seriado como é grande admirador. Ele assistiu às duas temporadas, e diz gostar muito da forma como Mike White aborda o desenrolar das relações humanas – com capacidade de se tornarem bastante complexas.
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“Acredito que um dos motivos pelos quais a série conquistou o público é como as histórias podem ser bastante reais”, percebe.
“De forma parecida, nós já nos sentimos em alguns dos momentos abordados, o que nos faz nos conectar mais com os personagens. Na abertura das duas temporadas, podemos ver que há dicas sobre a história já ali. É legal sentir essa conexão e poder criar interpretações do que pode acontecer”.
Para ele, está sendo “sensacional” participar de uma produção tão grandiosa. Oportunidade única. Lançada em julho de 2021, “The White Lotus” segue os hóspedes da rede de resorts homônima. Na trama, as diferenças, complexidades e dramas pessoais mais sombrios emergem nos viajantes perfeitos, nos funcionários do hotel e no próprio local idílico. A segunda temporada chegou à TV em outubro deste ano.
A série foi uma das mais premiadas na última edição do Emmy Awards e tem colecionado fãs pela narrativa engenhosa e pelos detalhes que a integram – incluindo a abertura, claro.
“Confesso que nunca imaginei que um dia meu trabalho faria parte de um projeto tão incrível, mas me sinto feliz e realizado em poder compartilhar minha arte com tanta gente”, vibra o ilustrador.
Talento desde cedo
Não é de hoje, porém, que Lezio Lopes está entre linhas, formas e pincéis. Desde muito pequeno ele desenha – cadernos do colégio são prova dessa vocação. O designer foi praticamente autodidata, mas ao longo do curso de Moda encontrou aquilo que realmente queria fazer, as agora famosas estampas com pegada tropical.
Entre as principais referências dele, estão a artista cearense Auxi Silveira, a russa Marija Tiurina, e o movimento artístico Art Nouveau. “No momento, ainda estou em negociação com alguns possíveis clientes. A série realmente ajudou a propagar meu trabalho bastante e sou muito grato por isso”, festeja.
Por sua vez, quando questionado sobre como a passagem pela capital do Ceará moldou o próprio fazer artístico, a fala é carinhosa. “Morar em Fortaleza foi essencial para o meu crescimento pessoal e profissional. Foi onde minha jornada com estampas começou”.
“Olhando pra trás, realmente foi uma travessia de muito trabalho – começando como estagiário em uma marca de moda local, sendo contratado como designer de estampa em outra, e eventualmente trabalhando como freelancer. Hoje moro em Sydney, sigo trabalhando como freelancer, e tento passar boa parte do meu tempo desenhando”. Que não pare nunca.