Banda Os Transacionais completa 18 anos em 2025 e se consolida como destaque do Carnaval de Fortaleza

Em momento de preparação para o próximo Ciclo Carnavalesco, banda relembra história, principais referências e o que mudou de 2013 para cá

(Atualizado às 10:55)
Dangelo Feitosa, Miguel Basile, Jolson Ximenes e Júnior Torres formam Os Transacionais
Legenda: Dangelo Feitosa, Miguel Basile, Jolson Ximenes e Júnior Torres formam Os Transacionais
Foto: Ismael Soares

Com influências que vão de clássicos da música popular brasileira e das marchinhas carnavalescas tradicionais ao rock, um grupo de músicos cearenses é responsável por manter o clima de folia na Capital durante o ano inteiro. Formada em 2007, a banda Os Transacionais se dedica ao que chama de “Música Retrô Brasileira”, mas tem no DNA a reinvenção e a adequação aos novos públicos – seja em eventos públicos do ciclo carnavalesco da Cidade, bailes em clubes, festas de casamento ou eventos corporativos.

Grupo à frente do Chão da Praça, um dos blocos de Pré-Carnaval mais conhecidos de Fortaleza, hoje os Transacionais são praticamente sinônimo de Carnaval – mas, no início da banda, a ideia era outra.

Tudo começou no fim dos anos 90, quando o vocalista e baixista Jolson Ximenes se juntou aos amigos Marcos Vitoriano (vocalista e guitarrista) e Miguel Basile (guitarrista) para formar o projeto Alegoria da Caverna

Na época, os três estudavam Música na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e tinham influências diversas – Jolson, por exemplo, dividia o tempo entre os estudos, a Alegoria e a Obskure, banda de death metal criada em 1989 que é destaque na cena cearense e segue na ativa até hoje.

A ideia do grupo era criar canções autorais que mixavam ritmos nordestinos e brasileiros e trazer novidades para a cena musical cearense. Assim fizeram: produziram um disco de inéditas, fizeram shows em diversos bares, palcos e festivais e, nesse meio tempo, criaram Os Transacionais, projeto paralelo que se mostrou uma oportunidade de dividir com o público interpretações de artistas que o inspiravam – Roberto Carlos, Jorge Ben, Novos Baianos, A Cor do Som, Rita Lee e muito mais.

Em 2009, após uma década na ativa – quando o trio já tinha virado quarteto, com a chegada do baterista Dangelo Feitosa –, os músicos cearenses decidiram que a banda autoral já tinha “esgotado todas as possibilidades” e resolveram se dedicar unicamente ao Transacionais. 

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“A gente tinha esse viés de tocar música retrô brasileira, a música a gente ouvia nos vinis dos nossos pais, que a gente cresceu ouvindo”, explica Jolson Ximenes. Além de grandes nomes da MPB, o grupo também se inspirava na musicalidade paraense, especialmente no carimbó e na guitarrada. 

Além do quarteto da Alegoria, a formação inicial dos Transacionais contava com a tecladista Juliana Costa. Alguns anos depois, Juliana e Vitoriano saíram, e Juliane Frenkiel passou a comandar os teclados, função que exerceu por cerca de dois anos. Em 2016, o tecladista Júnior Torres assumiu a tarefa e se tornou integrante oficial do grupo.

Na noite de Fortaleza, fizeram morada no Fafi Bar e no Acervo Imaginário por muitas noites, até começar a despontar nos line-ups de equipamentos culturais e festivais do Estado. No mesmo 2009 em que a Alegoria da Caverna chegou ao fim, foram convidados a participar do Carnaval de Fortaleza pela primeira vez.

Em um show único no Aterro da Praia de Iracema, tocaram dez músicas escolhidas para uma apresentação diferente, feita para o Carnaval. Ali, ainda de maneira tímida, começava uma trajetória carnavalesca que se estenderia até os carnavais de hoje.

Chegada e consolidação do Chão da Praça

Tradicionalmente, a folia acontece às quintas-feiras, no Dragão do Mar
Legenda: Tradicionalmente, a folia acontece às quintas-feiras, no Dragão do Mar
Foto: Ana Raquel S/Divulgação

Já com um repertório especial para o período momino, Os Transacionais receberam um convite que mudaria a vida dos integrantes no início de 2013: foram chamados pelo Dragão do Mar para liderar o Chão da Praça, bloco recém-criado pelo equipamento cultural com o intuito de reunir versões animadas de músicas criadas por compositores cearenses, como Fausto Nilo, Amelinha e muitos outros.

Incorporando à ideia do Dragão alguns clássicos da música brasileira, o grupo começou a trabalhar em novos repertórios, unindo “desde as marchinhas, dos salões de e dos blocos carnavalescos, às músicas das praias, do Carnaval do Ceará, além do frevo e de músicas da origem do trio elétrico, da origem do axé”, lembra Jolson.

As primeiras edições do bloco ocorreram no Espaço Rogaciano Leite Filho, embaixo da passarela do Dragão, mas no quarto ano a festa passou para a Praça Verde, já que o público havia aumentado consideravelmente. Entre 2021 e 2023, o bloco entrou em hiato, por conta da pandemia, retornando apenas no ano passado, de volta ao Espaço Rogaciano Leite Filho.

Abraçado rapidamente pela população da Capital, o bloco ajudou a transformar a cara do Carnaval local em uma época em que ele ainda não havia se firmado no cenário estadual e regional – quando havia shows, não havia estrutura; quando havia estrutura, não havia shows. Muitas vezes, ambos deixavam a desejar.

Bloco chegou a reunir milhares de pessoas na Praça Verde do Dragão do Mar
Legenda: Bloco chegou a reunir milhares de pessoas na Praça Verde do Dragão do Mar
Foto: Divulgação

Na última década, o vocalista afirma que a festa vem se transformando e crescendo – em grande parte, por iniciativas como o Chão da Praça, que tradicionalmente acontece às quintas-feiras e já chegou a reunir milhares de pessoas no entorno do Dragão do Mar.

O nome do bloco homenageia a música homônima, composta por Moraes Moreira e Fausto Nilo, que se tornou um clássico do Carnaval brasileiro. A gravação original foi lançada em 1979.
“Antes, as pessoas ficavam aqui no pré – o Pré-Carnaval em Fortaleza sempre foi muito forte, muito maravilhoso, mas chegava no Carnaval e o pessoal viajava, porque a cidade não tinha programação”, completa. 

Público reúne pessoas de todas as idades, dos mais jovens aos veteranos do Carnaval
Legenda: Público reúne pessoas de todas as idades, dos mais jovens aos veteranos do Carnaval
Foto: Ana Raquel S/Divulgação

“Hoje, muita gente vem de fora, do interior. Sempre falo que a gente está escrevendo uma realidade para Fortaleza ter o melhor Carnaval possível. Não entendo que a gente já chegou nesse nível, mas a gente está se consolidando para isso”, celebra Jolson.

Para o vocalista, os últimos anos foram de consolidação do Carnaval da Capital, com o poder público percebendo e atendendo a demanda do público e a iniciativa privada “chegando mais junto”. 

“Em 2013, [o Carnaval daqui] ainda tinha uma cara muito mambembe, uma cara muito ‘faça você mesmo’, todo mundo fazendo no peito e na raça. Com o passar do tempo, a iniciativa privada viu que isso era um mote importante para negócios e começou a ajudar”, pontua. “E a Prefeitura começou a tratar como uma realidade, e não como um cumprimento de uma agenda qualquer”, completa.

A cor do som: Carnaval dos Transacionais vai do pagode ao metal

Se há algo que se destaca na formação atual dos Transacionais e faz a sonoridade da banda se destacar no cenário cearense é o mix de referências que cada músico leva para o palco, das clássicas – como grandes nomes da MPB – às menos óbvias, oriundas de projetos musicais paralelos ou anteriores. 

Jolson Ximenes é vocalista e baixista do Transacionais
Legenda: Jolson Ximenes é vocalista e baixista do Transacionais
Foto: Ismael Soares

Jolson, por exemplo, começou a carreira de músico ainda no início da adolescência, como baixista da banda de death metal Obskure, papel que desempenha até hoje – caminho similar ao de Dangelo Feitosa, que também tocou na Obskure e hoje segue como baterista também na banda Facada, sucesso nacional e internacional de grindcore.

Quem também sempre teve forte ligação com o rock foi o músico Miguel Basile, que aprendeu a tocar guitarra de forma autodidata, na adolescência, e tocou em várias bandas de rock antes de entrar para a banda de “música retrô”. Já o tecladista Júnior Torres tocou em diversas bandas de baile e de pagode, como a Tropa de Choque.

“Tem uma turma que vem do rock, tem uma turma que veio do pagode, tem uma turma que tocava nas bandas de axé, tem os meninos dos metais, que dialogam com a música erudita, com o jazz e com a música popular. A gente consegue ter um perfil extremamente heterogêneo, o que com certeza repercute na sonoridade”, explica Jolson.

Dangelo Feitosa é baterista do Transacionais
Legenda: Dangelo Feitosa é baterista do Transacionais
Foto: Ismael Soares

Ainda assim, a base do repertório da banda é focada na boa música brasileira, que cativa as mais diversas faixas etárias. “Ao longo dos anos, a gente amadureceu muito e o repertório também. Antigamente, a gente tocava um negócio mais do tropicalismo, da música brasileira da década de 70, e hoje em dia a gente veio mesclando mais com outras coisas”, destaca Dangelo Feitosa.

Júnior Torres é tecladista da banda
Legenda: Júnior Torres é tecladista da banda
Foto: Ismael Soares

O tecladista Júnior Torres destaca que, além de clássicos cearenses e da MPB – Belchior, Amelinha, Fausto Nilo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Guilherme Arantes e tantos outros –, sobe no palco também inspirado pela energia de grandes nomes do axé, como Asa de Águia, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown.

“O desejo é sempre de poder conseguir entregar o melhor entretenimento com muita energia positiva com a melhor musicalidade”, destaca Torres. Para ele, a longevidade do Transacionais têm a ver com esse compromisso com uma identidade única e uma “ideologia musical. “Mas, às vezes, damos umas ‘derrapadas’ para poder agradar a todos”, brinca.

Outros ícones do Carnaval são referências para o guitarrista Miguel Basile, como Pepeu Gomes, Armandinho Macedo e Robertinho de Recife. “Me inspiro nesses caras todos, mas não poderia deixar de mencionar Gal Costa, Amelinha, Elis Regina e todas as vozes femininas”, ressalta o músico.

Miguel Basile é guitarrista dos Transacionais
Legenda: Miguel Basile é guitarrista dos Transacionais
Foto: Ismael Soares

 As referências são muitas e o passar do tempo influi na atualização do repertório, mas quem a banda ressalta que os foliões mais “tradicionais” podem ficar tranquilos – há clássicos que não saem do setlist carnavalesco do grupo, já consagrados no coração dos músicos e dos fãs. 

Alguns exemplos são as canções “Haja amor”, “Faraó”, “Voltei, Recife”, “A filha da Chiquita Bacana” e “Frevo mulher”, que estão presentes desde os primeiros carnavais da banda, fazendo a festa na rua, nos clubes e nas praias do Ceará.

Celebração da ‘maioridade’ e o que vem por aí

Banda celebra 18 anos em 2025
Legenda: Banda celebra 18 anos em 2025
Foto: Ismael Soares

Comemorando 18 anos em atividade, 12 deles dedicados intensamente ao Carnaval, Os Transacionais veem o ano de 2025 como um ano de movimento e de uma profissionalização ainda maior da banda, que cresceu no ano passado. Do quarteto formado por Jolson, Miguel, Dangelo e Juninho, o grupo cresceu e tem se apresentado como septeto ao longo do ano e como octeto no Carnaval. 

Além do quarteto fixo, se somaram aos músicos o percussionista Filipe Almeida, o trompetista Gabriel Sousa, o saxofonista Hanry Gael e o baixista Alan Kardec. Além de oferecer uma experiência melhor ao vivo, a mudança traz sustentabilidade e crescimento para a banda, com melhores palcos e cachês. 

“No final das contas, foi legal, todo mundo viu que é muito mais interessante assim – público, contratante, a banda mesmo, todo mundo se sentiu muito melhor. Acho que a gente acertou na escolha”, destaca Jolson.

Outra novidade das apresentações mais recentes inclui uma espécie de “tiktokzação” das músicas tocadas no palco, ou seja, a redução de algumas canções para conseguir incluir mais hits no repertório – e se aproximar do público mais jovem.

“A gente tenta chegar em um público novo pela sonoridade da banda e pelo formato do show, que é um show ininterrupto, intenso, que não para. Num show de duas horas, a gente toca 50 músicas. Com essa velocidade que as pessoas têm hoje de consumir a música, a gente foi tirando solo, foi diminuindo introdução, não repete letra”, explica Jolson. 

“Mas, ao mesmo tempo, pelo repertório, a gente se conecta com o pessoal da ‘velha guarda’, que é o pessoal que consumiu a música quando ela foi feita, há 50 anos”, completa.

Grupo reúne referências musicais diversas, da MPB ao rock
Legenda: Grupo reúne referências musicais diversas, da MPB ao rock
Foto: Ismael Soares

Com a programação do Pré-Carnaval e do Carnaval ainda indefinida – tanto do Dragão do Mar, equipamento gerido em parceria com o Governo do Estado, quanto da Prefeitura de Fortaleza, devido à troca de gestão –, Os Transacionais confiam na trajetória extensa e na fidelização do público para “programar” as próximas semanas.

“A expectativa é a melhor possível. Há uma expectativa muito positiva de que vá acontecer o Chão da Praça em fevereiro, que acontece às quintas-feiras, no Dragão do Mar. E há uma expectativa também muito boa com relação ao edital da Secultfor, do município”, pontua Jolson, que acredita que a agenda da banda vá ficar mais intensa já a partir do fim desta semana.

“A cidade já começa a respirar isso. Como o Carnaval só será em março, serão 45, 60 dias bem intensos, de trabalho e realizações”, projeta.

Até o momento, a banda já abriu o projeto "Férias na Capital", no dia 1º deste mês, e tem show marcado no dia 29, na comemoração do restaurante Raiz Cozinha Brasileira, em Fortaleza. Em breve, o grupo deve divulgar as datas do Ciclo Carnavalesco, incluindo possíveis shows em eventos públicos e apresentações em shoppings da Capital.

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