'Esses caras mataram minha filha', diz mãe de Juliana Marins sobre agentes de turismo na Indonésia

Guia turístico detalhou aos pais de Juliana como teria acontecido o acidente no vulcão

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Redação producaodiario@svm.com.br
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Juliana Marins, sua mãe e seu pai posam para foto. Eles estão sorridentes, lado a lado, em uma paisagem natural de água rasa com coloração alaranjada, vegetação verde e uma grande duna de areia ao fundo. À esquerda, a jovem veste top azul e shorts pretos; ao centro, sua mãe usa vestido azul; à direita, seu pai usa camiseta azul e chapéu. Todos estão descalços e parecem aproveitar um momento de lazer em um ambiente ensolarado.
Legenda: Família recebeu a confirmação da morte de Juliana Marins na terça-feira (24).
Foto: Reprodução/Redes sociais

Imagens inéditas exibidas neste domingo (29) pelo Fantástico, da TV Globo, revelam detalhes das primeiras tentativas de resgate da publicitária Juliana Marins, de 26 anos, que morreu após cair de um penhasco durante trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, no último dia 20. Um vídeo feito pelo guia que a acompanhava mostra a lanterna de Juliana ainda acesa no capacete logo após a queda.

De acordo com o guia, a jovem teria caído em um penhasco por volta das 4h da madrugada. Ele relatou aos pais da vítima que recomendou que ela se sentasse, após queixa cansaço, e se afastou por cerca de 10 minutos para fumar. 

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Ao retornar, não encontrou mais Juliana. Ela só teria sido localizada novamente às 6h08, momento em que o guia gravou o vídeo e o enviou ao chefe.

A resposta inicial ao acidente foi lenta. A administração do parque acionou uma brigada de primeiros socorros apenas às 8h30, e a equipe chegou ao local do acidente somente às 14h. Imagens exibidas na reportagem mostram o momento em que tentam o resgate com equipamentos rudimentares, como uma única corda.

Segundo Manoel Marins, pai de Juliana, o guia ainda tentou descer amarrando a corda à cintura, sem qualquer ancoragem ou proteção, em uma tentativa desesperada de alcançar a jovem.  

A Defesa Civil da Indonésia (Basarnas) só foi acionada mais tarde e chegou ao local por volta das 19h, segundo relato da família. Juliana foi encontrada sem vida dois dias após o acidente. O laudo divulgado na sexta-feira (27) apontou hemorragia interna por lesão no tórax. A morte teria ocorrido entre 12 e 24 horas antes da remoção do corpo, feita na quarta-feira (25).

Os pais da publicitária acusam as autoridades e os operadores turísticos de negligência. “É uma indignação muito grande. Esses caras mataram minha filha”, desabafou Estela Marins, mãe da jovem. 

O pai também responsabiliza diretamente o coordenador do parque. “O primeiro culpado, que eu considero o culpado maior, é o coordenador do Parque. Ele demorou a acionar a Defesa Civil", disse.

A prefeitura de Niterói, cidade natal de Juliana, custeou o traslado do corpo e anunciou que um mirante será nomeado em sua homenagem. A data do traslado ainda não foi confirmada.

Sem preparação

Apesar de acidentes no Monte Rinjani serem considerados raros, a tragédia evidenciou a falta de estrutura do Parque Nacional. A trilha até o topo do vulcão, a 3.700 metros de altitude, pode durar até três dias e tem pouca sinalização e fiscalização.

No dia seguinte à queda de Juliana, outro acidente foi registrado: um turista da Malásia caiu no mesmo parque e foi resgatado com fratura na bacia. Em outubro de 2024, um brasileiro presenciou o resgate do corpo de um turista desaparecido há nove dias.

Relatos de turistas indicam falhas recorrentes na organização dos passeios. “Pagamos mais de mil reais por esse passeio, mas parece que o dinheiro não vai para os guias. É amadorismo total. Muitos sobem de chinelo”, relatou um brasileiro que esteve no local.

A médica Karina Oliani, especialista em resgates em áreas remotas, afirmou que equipamentos adequados poderiam ter mudado o desfecho. “Turistas com drones amadores conseguiram ver Juliana. Se houvesse um drone profissional, poderiam ter enviado mantimentos e evitado que ela escorregasse mais”, disse.

A reportagem do Fantástico afirmou ter buscado posicionamento da polícia local, diretores do parque, autoridades da ilha de Lombok, além de diversos órgãos do governo indonésio, como os Ministérios do Turismo, das Florestas e das Relações Exteriores, além da própria Presidência. Até o momento, nenhuma resposta foi obtida.

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